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Pesquisa revela que Centro de PG foi cemitério indígena

Foto: Arquivo DC

A existência de um cemitério indígena no centro de Ponta Grossa, no interior do Paraná, é um fato quase desconhecido. Remonta, certamente, a tempos imemoriais, séculos antes da chegada dos primeiros povoadores e diz respeito à presença de íncolas do grupo dos “coroados” ou kaingangs na região. Além de pinturas rupestres que existem no município, em lapas ou cavernas próximas aos limites entre o segundo e o primeiro planalto, há mais esse indício veemente acerca dos povos originários que aqui habitaram.

Cemitério indígena em Ponta Grossa

Em época contemporânea (1820), Saint Hilaire deixou registrada essa presença quando passou pelos Campos Gerais e viu os índios Coroados, “da tribo dos Bugres”, superiores em “inteligência e engenhosidade a muitos outros povos indígenas e talvez também em beleza física”. Faziam roças de milho, feijão, abóbora, amendoim, colhiam mel, pinhão, frutas e moravam em casas compridas cobertas com folhas de bambu.

Pois bem. O cemitério de índios antes mencionado, localizava-se na divisa das propriedades de Diogo da Costa Rosa (paragem de Ponta Grossa -1712), Manoel Rodrigues da Mota (Cercado de Santa Maria) e terras dos frades de São Bento (Rio Verde), sabido que esses três imóveis ficavam nas cercanias do que é hoje a cidade de Ponta Grossa.

Segundo o engenheiro José Carlos Veiga Lopes, historiador e grande conhecedor da geografia local, a primeiras menções encontradas acerca do chamado “Cemitério dos Gentios” constam de documentos públicos lavrados em 1743 referente à venda de terras no lugar Ponta Grossa entre genros de Diogo e, depois, em 1747, no inventário de Manuel Rodrigues da Mota que, ao se referirem às confrontações das terras, fazem menção expressa “a um cemitério de bugres” ou ao “morrinho do Gentio”, o que é repetido em outros documentos nos anos de 1788 e 1799 onde se alude a um “cemitério de bugres” ou “ao morrinho do Gentio”.

No ano de 1810, quando litigaram Atanagildo P. Martins e José Antônio de Oliveira (herdeiro das terras de Diogo e Domingos Martins Fraga), certa testemunha afirma que uma das divisas das terras demandadas “vinha de um olho d’água… ao rumo do nascente até o olho d’água que ficava a par da sepultura dos bugres” depois descendo até o rio chamado Caracará.

Com base nesses indicativos e em pesquisas que Veiga Lopes fez, secundado pelo genealogista e estudioso das coisas da região – Carlos Cunha Nascimento, o dito cemitério indígena, que também foi chamado de “munchão dos bugres”, ficava num “morrinho próximo à estação de estrada ferro que teria sido escavado quando da construção da linha”. Portanto, nas adjacências do atual Parque Ambiental Manoel Ribas.

* O autor é um dos fundadores da Academia de Letras dos Campos Gerais, advogado, e foi juiz, vereador e prefeito da cidade de Prudentópolis, de onde é natural. Josué Corrêa Fernandes é entusiasta da História, e autor de diversos livros, incluindo “Das Colinas do Pitangui…” e “Corina Portugal: História de Sangue e Luz”. Ainda, “Saga da Esperança – Trajetória do dr. Jean-Maurice Faivre”; “Ponta Grossa – História Mínima”; “Nossa História”; “O Alfanje e o Centeio – Crônicas da Imigração Eslava”; e “Prudentópolis – 100 Anos” (co-autor jornalista Francisco Guil).

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