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O ponta-grossense de 200 anos atrás

O primeiro cronista que descreveu Ponta Grossa e seus habitantes na época da Freguesia, foi Salvador José Correia Coelho que, em 1844, em férias do curso de Direito que fazia em São Paulo, visita seu irmão Joaquim José Correia, fazendeiro local. As observações que deixou são muito interessantes, quer pela sua competência de jovem cronista (19 anos), quer pela riqueza de detalhes.   

Após fazer considerações sobre a vila de Ponta Grossa que se encontra assente sobre a elevação de um monte, cujos contornos são vestidos de uma basta selva, alude à bela e muito extensa vista do campo, onde o vento sopra sem cessar, incomodando os viajantes que não estão habituados a sentir os seus ásperos afagos. Os habitantes, que vivem da cria de suas estâncias, são dados aos jogos de cartas e às corridas de cavalos. Os víveres de primeira necessidade são caros, exceto a carne de vaca e o comércio mais intenso é feito com Guarapuava e os Campos de Palmas.

Fala, daí, sobre o monarca da coxilha, o homem campesino que viu em Ponta Grossa: “traz na cabeça um chapeuzinho de copa rasa e abas um tanto largas, que prende-se ao rosto por uma barbela de trancelim de seda ou algodão tintos; põe-no de banda…; por cima da camisa traz o poncho listrado e fimbrado, a que se dá o nome de “pala”, feito de lã; à cintura a guaiaca que tem o duplo fim de servir-lhe de bolsa e de cinta, garroteada e ornada de bordados flóreos…presa por dois broches, ordinariamente duas moedas de ouro, prata ou metal branco, conforme os teres do indivíduo; calças muito largas com feição de ceroulas; botas de couro cru, de ordinário umas perneiras; esporas de enormes rosetas com largas presilhas ou correntes, que quase que sempre impedem o andar do proprietário, chamam-nas chilenas… Na parte anterior do corpo… permanece a faca de ponta, aparelhada de prata; o chicote pende, por uma presilha do braço esquerdo do cavaleiro, que estriba na ponta dos pés e segura a brida com a destra: traz à cinta uma ou duas garruchas e as vezes espada e alguns dos seus chicotes tem um punhal oculto no cabo”.

Pela natureza do terreno não é mister que ele calce o seu cavalo, que é seu amigo e companheiro; o monarca da coxilha o quer com o amor do árabe. O cavalo é chamado de pingo, o chicote de peixe, o laço de cipó, as esporas de motucas e o envoltório do cigarro de mortalha. O seu falar é cheio de interjeições; usa hipérboles atrevidas, arriscadas e de bravatas espanholas; no discurso pronuncia palavras em voz baixa e sem haver transição pronuncia outras, alteando-as, como que por arrancos; sempre exprime os diminutivos com a desinência em “Ito”. 

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