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Eleições: um novo momento político (VIII)

Fabio Anibal Goiris*

 

Uma das maiores preocupações dos candidatos a prefeito municipal consiste em influenciar pessoas ou massas populares. Utilizam propagandas, discursos, slogans, merchandising, ilusões, utopias… e, certamente, algumas verdades e muita esperança. Neste contexto, o alvo para as próximas eleições é a chamada ‘nova classe média’ ou Classe C. O candidato que conseguir persuadir esta nova classe terá dado um grande passo.

Sob influência direta dos oito anos do governo Lula surgiu a denominada ‘nova classe média’. No Brasil são 102 milhões de pessoas inseridos em grande parte na Classe C (com renda média de R$ 1.338). Só em 2010, cerca de 19 milhões deixaram as classes mais baixas da população e migraram para a classe C. A nova classe média tem sua origem: a) na oferta maior de empregos (em 2010, foram 2 milhões de novos postos de trabalho); b) no aumento do salário mínimo (de R$ 287, em 2000, para R$ 540, em 2011) e c) nos programas sociais de renda (como o bolsa família). A pergunta é: qual o peso eleitoral desta nova classe média no Paraná, especificamente em Ponta Grossa?.

Para influenciar eleitoralmente esta nova classe média os candidatos a prefeito devem considerar um fator fundamental: o grande risco para esta nova classe, altamente consumista, é a volta da inflação. Se a inflação continuar a subir poderá jogar de volta para baixo uma parte dessa Classe C em ascensão. Considere-se que a taxa de inflação (medida pelo IPCA), nos dois últimos meses, já alcança o limite da meta de inflação que é de 6,5%. A inflação hoje está em 5,88%. Não é por acaso que o governo de Dilma Rousseff tenta frear a espiral inflacionária.

Mais importante ainda é entender como vota esta nova classe. Em primeiro lugar a Classe C ou ‘classe emergente’ tenderá a votar de forma conservadora, inclusive porque é despolitizada. Ou seja, votará a favor de discursos que anunciam de corte de impostos (para supostamente poder usufruir daquilo que conquistou pelo trabalho). A nova classe poderá se manifestar também a favor de setores religiosos, notadamente das igrejas evangélicas (‘você vai vencer na vida por meio do seu esforço ou da sua relação com Deus’). A nova classe é também uma forte aliada do conceito de individualismo materialista (uma aproximação ao velho estilo da burguesia?). O cientista político André Singer diz ainda que a nova classe tenderá a votar a favor de governos populares (que os iniciou na mobilidade social e que hoje estão no poder). Conclui-se então que se trata de uma classe social complexa e intricada no sentido de identificar o seu perfil eleitoral.  Pode-se argumentar finalmente que o surgimento de neopartidos como o PSD de Gilberto Kassab, que propositadamente não se define como de esquerda ou de direita (embora seja de fato um partido de direita), parece estar focado nos votos desta nova classe que, em razão da sua profunda despolitização, poderá cair no ‘canto da sereia’ destes novos partidos.       

 

*O autor é cientista político e professor da UEPG

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