Interromper as aulas por que?
A educação em nosso país está tão debilitada e o protesto para melhorar a educação (se for essa a pauta que até agora não ficou claro) deixa milhares de estudantes sem aula? E o que vai ser daqueles que estão se preparando para o ENEM, para o vestibular ou para outro concurso que exija prova de conhecimentos? Alguém perguntou o que eles pensavam sobre o assunto?
Sou professor há 24 anos, 15 dos quais lecionando paralelamente no Ensino Superior e no Ensino Médio. Confesso que ao longo desse tempo me questionei:qual a função do Ensino Médio na vida dos estudantes? Explico: na graduação onde leciono, raramente o estudante traz uma base de conhecimentos do Ensino Médio que lhe auxilie na formação que escolheu e muitas das matérias que ele estudou não serão mais necessárias. Nas engenharias as disciplinas da área de humanas não existem, e nas graduações da área de humanas não se fala de exatas. Creio que o Ensino Médio sirva para cultura geral e amadurecimento(!?!) do estudante. Ou seja, função errada.
OCUPAÇÃO OU INVASÃO?
Tenho 11 sobrinhos que estudam em escolas públicas, algumas das quais ocupadas. Perguntei a eles como foi o processo decisório para ocupação ou não das escolas. Todos,com algumas variações, deram a mesma resposta: ninguém foi consultado. Não foram realizadas assembleias pela UPES nas escolas onde eles estudam para que a maioria decidisse em plenária pela ocupação. Todos receberam somente um COMUNICADO de que não haveria aula porque a escola estava ocupada. Em uma delas o diretor incentivou que os alunos não fossem à escola. Como assim o diretor? Esse cara está claramente na função errada.
EU POSSO FALAR
Durante toda minha vida escolar participei do movimento estudantil. Fui do Centro Cívico no General Osório e no Borell. Fui do Grêmio no Regente Feijó, participei da União Pontagrossense de Estudantes Secundaristas e da União Paranaense de Estudantes Secundaristas. Na UEPG fui do DCE por 4 anos e fui membro fundador do Centro Acadêmico de Física. Como professor incentivo a formação de grupos representativos dos estudantes e auxilio da maneira que for possível.
É inconcebível que uma escola seja ocupada sem a consulta ao corpo discente, com uma assembleia em pátio de escola, com votação aberta onde todos possam expressar sua vontade e que a decisão da maioria seja respeitada. No meu tempo era assim. Qualquer outro jeito é pura arbitrariedade e SIM, invasão.
QUALIDADE NA EDUCAÇÃO
A reforma proposta é o melhor caminho? Talvez sim, talvez não. Mas qual a contraproposta do movimento? Porque certo é que como está, não está bom. Basta ver os resultados da rede pública no ENEM, no IDEB e no PISA, que são os grandes indicadores de desempenho das escolas. Não seria melhor que a educação pública fosse tão boa que não fosse necessário criar regime de cotas para acesso ao Ensino Superior? Será que mantendo o modelo atual do Ensino Médio, chegaremos lá? Enquanto isso observa-se que na rede privada não houve barulho nem contestação. Provavelmente já existem grupos de estudos para definir a melhor estratégia de transição, enquanto deixamos milhares de jovens sem aulas, inclusive do Ensino Fundamental, que não tem nada a ver com a história.