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Quando a ideologia encobre o real

 

            A vitória de Marcelo Rangel (PPS) teve muitos méritos os quais já foram explicitados por este mesmo articulista, visto que superou obstáculos como: a posição ambígua de Pedro Wosgrau Filho de não aderir à sua campanha; a performance do novo candidato Márcio Pauliki (PDT); o empenho do próprio Péricles de Mello e do PT que procuraram arregimentar forças mais à esquerda; a ausência do apoio do governo federal na figura de Lula, Dilma, Gleisi, Paulo Bernardo e, por fim, o Ibope que dava como certa a vitória de Péricles por uma margem que chegava a quase 10%.

            Não é pouco para um político conseguir tudo isso praticamente sozinho. Isto é uma coisa e representa um processo político prático e democrático. Mas, outra coisa é entender o seguinte: quem votou majoritariamente no candidato?. Marcelo jamais esteve sozinho e sua vitória pode ser creditada à essência – ou à quintessência eleitoral – do pensamento conservador. É um voto cativo, ativo, fanatizado, encorpado, por vezes escamoteado, mas, imutável. Antes da atual questão material e patrimonial existe um pensamento atávico pré-existente. O jornalista e amigo Edgar Hampf utilizando sua afiada prosa não admite este processo e tenta descaracterizar em seu blog uma verdade efetiva. O dilema do neoconservadorismo princesino é abandonar quase 200 anos de história e pensar que a eleição para cargos públicos implicaria numa automática mudança de paradigma ideológico, passando a ser ‘novos’, ‘revolucionários’, ‘progressistas’ e quem sabe até mesmo ‘socialistas’. São os lances cinematográficos quando não alienados dos nossos ‘emergentes’ da política.

            Na esteira do célebre Barão de Münchhausen procuram perpetrar fugas e transformações impossíveis a tal ponto de escapar do pântano – neste caso da incomoda alcunha de conservadores que os acompanha – mediante a ação de puxar os próprios cabelos para cima. Há, pois, uma necessidade urgente em Ponta Grossa de entender o alcance e a raiz antropológica do conservadorismo. Quem sabe o novo prefeito Marcelo Rangel que com todo merecimento abriu seu caminho pela via da eleição democrática possa iniciar este exercício intelectual e pedagógico que deve levar em conta as profundezas do inconsciente, a estrutura superegóica da consciência que encobre o entendimento da antropologia conservadora nos Campos Gerais.

            A contribuição deste articulista será produzir um livro onde se poderá construir hipóteses visando explicitar algumas ideias sobre estes processos. Por enquanto, Ponta Grossa está de parabéns pois, nem sequer o prefeito tomou posse e já se instala uma discussão importante para a compreensão de sistemas culturais específicos, que incluem expressões linguísticas, percepções antropológicas, valores ideológicos, crenças sociais e práticas sociológicas arraigadas e ainda à espera de explicações pela via da pesquisa qualitativa.    

 

            Fabio Anibal Goiris, o autor é cientista político e professor da UEPG

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