Pietro Arnaud
É certo que devemos debater sobre o consumo responsável de bebidas alcoólicas. É óbvio que o consumo irresponsável do álcool, por adultos ou jovens e adolescentes, é um flagelo que tem um custo social impactante. Mas não será possível a introdução de tal debate a partir da educação ao invés da repressão? Será preciso evocar a hipocrisia e a falácia das soluções fáceis, ao invés de compreender a sociedade como formada por seres com autonomia, inteligência e consciência de tomar decisões, ao invés de gado eleitoral, que deve obedecer e engolir goela abaixo os desmandos e desvarios de seus representantes?
Que tipo de agressão comete o cidadão comum ao beber uma cerveja no domingo em uma praça por si só, um espaço de convivência e confraternização nas cidades? Ou durante uma festa junina, durante o réveillon, durante as comemorações esportivas? E qual a garantia de que a proibição de atos tão prosaicos fará de Ponta Grossa uma cidade mais segura e mais limpa? Não seria mais inteligente e mais humano propor um debate generalizado sobre as regras de civilidade?
Pelo fato de alguns cometerem abusos, deve-se considerar toda a sociedade responsável por isso?
Ditaduras começam assim, com a troca da liberdade individual pela segurança. Infelizmente, o Brasil possui um extenso histórico neste quesito, que ora é relativizado em torno da paranoia coletiva que se impõe através da cultura do medo. O que nunca fica claro é que essa cultura do medo é gerada pela falência do próprio Estado ao oferecer alternativas para os problemas de falta de cultura, educação, saúde e cidadania.
Há inúmeros assuntos mais sérios a serem debatidos, como salário dos professores e agentes públicos, imposto progressivo, a instauração de ciclovias em Ponta Grossa, o planejamento público, transporte coletivo, a coleta de lixo. Nós entendemos que o problema da segurança pública é muito sério, e muito grave, mas que é um erro e uma inversão tentar resolver os graves problemas sem compreender que boa parte das deficiências nesta área estão ligadas à omissão dos nossos políticos a respeito do que realmente importa. O problema da segurança pública, o aumento da violência urbana, está ligado intimamente à ausência do lazer inteligente, das opções culturais que não sejam meramente pontuais, mas que ofereçam à sociedade possibilidades de ampliar seu repertório musical, cultural e literário. Compreender isso por outro viés é superficialidade ou má fé.
O autor é cidadão ponta-grossense