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O atraso do Brasil

Mário Sérgio de Melo

Atenção leitor, cuidado! Palavras temerárias à frente, aos que teimarem ler tais desatinos. Pois atrevo-me a arrazoar sobre economia, política, sociologia, apesar de, por toda a vida, que já não é curta, ter estudado e lidado com materiais e processos geológicos, matérias muito diferentes destas que agora encaro.

Acontece que não logro permanecer calado diante do que me parecem certas aberrações atuais. Primeiro, ouço na rádio de alcance nacional que o país sofre com uma administração federal incompetente. Apesar do inegável bom desempenho em áreas como distribuição de renda e emprego, a análise econômica aponta que os indicadores da crise são o baixo crescimento (o pibinho) e a alta inflação. Mas a mesma análise aponta contradições: a inflação cresce porque o consumo no varejo cresce, e a produção não está a crescer no mesmo ritmo. Aumenta a procura, faltam produtos, o preço sobe. E o crescimento pífio teria uma razão: os empresários, antipatizados com o governo, engrossam o índice de desconfiança no futuro do país, e assim deixam de investir na infraestrutura necessária para aumentar a produção no ritmo do aumento da demanda. Aliás, aumento este decorrente de programas sociais federais que injetam recursos na base da cadeia de consumo, a população mais pobre. E, da base, as riquezas propagam-se até o topo da pirâmide, os empresários e as elites econômicas.

Então, qual o problema do Brasil? Má gestão do país? Ou a desconfiança, eu diria melhor, arraigado segregacionismo, da classe empresária, que se nega a participar do crescimento do país com o governo que aí está, que o desagrada ideologicamente?

Uma outra notícia, esta bem recente, estarreceu-me ainda mais. O mercado de ações no país aqueceu-se, festejou, as ações subiram, diante de rumores que as pesquisas eleitorais trariam uma desabada da intenção de voto na atual presidenta. E as ações caíram no dia seguinte, quando os rumores mostraram-se infundados, os resultados da pesquisa revelaram que na realidade a intenção de voto na presidenta está firme, ela ganharia a eleição no primeiro turno. De novo o mercado revelando sua intolerância ideológica. E mostrando uma certa tendência maníaco-depressiva. Parece-me de fato que o mercado é uma entidade irracional, que age sob impulsos muito suspeitos, pois não consegue reconhecer fatores que têm aquecido a economia, alimentando os enormes apetites do mercado no país. Do ponto de vista antropológico, poder-se-ia dizer que o mercado está mais para o estágio reptiliano, que age por instintos irracionais, do que para o estágio humanizado, balanceando sensibilidade e razão, e alcançando a capacidade de sobrevivência em uma sociedade equitativa. Ou seja, o mercado está mais para o Tiranossauro rex que para o Homo sapiens.

Então, diante destes indícios, qual seria a razão do atraso do país? Má gestão do governo federal? Ou segregacionismos, preconceitos, intolerâncias irracionais arraigadas, que fazem uma parcela dos empreendedores do Brasil remar contra, e torcer pelo pior?

O autor é geólogo, professor do Departamento de Geociências da UEPG

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