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O Aquífero Furnas, o aquecimento global, a água e o lixo de Ponta Grossa

 

Parte I

 

Nestes últimos meses temos visto no noticiário nacional (e mundial) notícias envolvendo a escassez de água pelo mundo. Cidades maiores (São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba…) são as que têm demonstrado maior preocupação com o risco de falta d’água durante os meses de inverno. São Paulo inventa políticas públicas para incentivar a poupança de água, o Rio de Janeiro abre litígio com São Paulo sobre a transposição das águas do Rio Paraíba do Sul, Curitiba estuda novos mananciais em ritmo de urgência, e até Ponta Grossa realiza racionamentos e rodízios inéditos e notícia que o manancial de Alagados está em níveis tão baixos como nunca antes vistos.

Ora, o Brasil é o país do mundo com a maior quantidade de águas doces continentais, o que faz com que a preocupação com a água, alardeada como a crise do milênio no resto do mundo, pouco impacto tem tido entre nós. Então o que está acontecendo agora, com tantas notícias envolvendo escassez, racionamentos e disputas pela água? O verão excepcionalmente quente pode ser uma razão. Verão que, aliás, parece estar estendendo-se ao mês de maio! Há vinte anos, os velhos moradores de Ponta Grossa diziam com convicção que a primeira geada era em abril. Mas, o clima está mudando, o aquecimento global é uma realidade. Embora interesses arraigados esforcem-se em tentar desacreditá-lo.

E além do aquecimento global, e do calor sem precedentes no verão passado, há no país outras razões para o aumento do consumo de água: razões com a mesma origem no aumento de veículos nas ruas, de passageiros nos aeroportos, de consumidores nos shoppings e supermercados… A parcela considerável da população brasileira que está ascendendo das classes excluídas da sociedade para a possibilidade de consumir, está também adquirindo casas próprias, e está utilizando mais água no seu dia a dia, assim como está utilizando mais energia elétrica.

Há quem diga que as manifestações populares de protesto que explodiram no país a partir de meados de 2013 sejam um sintoma da crise do descompasso do avanço em certos setores (emprego, renda, informação, comunicações…) sem o correspondente avanço em outros setores vitais (transportes, infraestrutura urbana, ensino, saúde, segurança, representação política…). Mas a médio prazo, o avanço em alguns setores vai inevitavelmente arrastar com ele o avanço nos outros setores. E esperamos que o mesmo possa acontecer com o suprimento de água, de energia, de alimentos, de bens de consumo…

 

Mário Sérgio de Melo

Geólogo, Professor do Departamento de Geociências da UEPG

 

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