Sérgio Luiz Gadini
Em toda cidade, geralmente, existem lendas, que fazem parte do imaginário dos moradores. Em Ponta Grossa não seria diferente! Talvez, a diferença, nestes Campos Ge(ne)rais, deve-se ao fato de que alguns absurdos são tratados com mais habitualidade que na maioria das outras cidades. A série ‘Lendas Urbanas de PG’ começa, aqui, com uma história que envolve escada rolante.
Um dos casos emblemáticos é a lenda da escada rolante, que deveria funcionar no Terminal Central do Município. Algumas falas populares que não chegam a ser explicações, mas hipotéticas impressões sobre a lenda da escada chegam a ser cômicas.
Uma das hipóteses é de que tal serviço público teria sido instalado para, de fato, não funcionar, mas para indicar uma suposta imagem de ‘progresso’ na região Central de PG, uma vez que outras cidades já mantinham algo similar e, por aqui, também seria necessário vender alguma representação ‘progressista’ ou ao menos alguma intenção de modernidade.
E, como seria algo apenas emblemático, nem precisaria funcionar, bastaria representar… mesmo que fosse apenas para ser observado, se possível à distância, com a mesma habitualidade de outras junções de tijolos e cimento. O custo da obra, neste caso, não seria o mais preocupante, uma vez que representar seria mais importante que funcionar. E, daí, nenhum gestor, desde que inaugurada, também iria se ocupar em moralizar o caso.
Outra hipótese com jeito de lenda seria a escolha do local errado, pois teria sido construída, com base em algum grau de amadorismo, em cima de um sapo morto, deixando qualquer usuário refém da (in)competência administrativa do local. Feita a obra, com ou sem faturamento compatível com os interesses privados em jogo, não daria mais para reconstruir a escada em outro lugar… sob pena de deslocar o sapo enterrado junto a obra ‘infuncionável’.
Uma terceira ousada explicação popular para tentar justificar a ineficiência dos gestores responsáveis pela obra estaria associada ao nome do serviço. Neste caso, a escada teria sido construída com um nome enviesado, pois, na real, entre projeto, orçamento e dinheiro envolvido, o nome correto seria enrolante. Mas, nos atropelos para agilizar mais uma inauguração, o nome poderia soar mal e, assim, tentou-se vendê-la a ‘obra’ como uma escada rolante.
Por fim, a obra teria sido um experimento da engenharia civil medieval, lançada em projeto secreto discutido à exaustão por alguns dos mesmos grupos gestores que se revejam na administração local e, após inúmeras tentativas de acordo, eventualmente eleitoreiro, o saldo de algum acerto teria assegurado o investimento do dinheiro público no referido experimento que fora apresentado, para fins de prestação, como uma suposta escada rolante.
Em todos os casos, supondo que existisse alguma lógica nas lendas urbanas em torno da escada rolante do Terminal Central de PG, o fato é que a história continua sem explicação e tampouco justificativa ao dinheiro público investido no local. E, na época, parece que já existia Tribunal de Contas e também Ministério Público Estadual. Mas isso, claro, seria outra hipótese. Talvez, não tão literária ou ficcional. Desnecessário dizer, pois, que qualquer semelhança com personagens e situações reais poderia ser entendido como desdobramento imaginário de algum eventual leitor.
O autor é professor de Jornalismo da UEPG, membro do Conselho Municipal de Cultura PG, presidente do Fórum Nacional de Professores de Jornalismo (FNPJ) [email protected]