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Entre uma dose e outra

Rodrigo Batista de Almeida

 

 

Todo mundo já tomou algum medicamento pelo menos uma vez na vida. Uma das coisas mais difíceis ao fazer uso de um medicamento é seguir à risca as recomendações do médico ou do dentista que prescreveu o produto. Entre tantos detalhes, o intervalo entre as tomadas é essencial.

A indústria farmacêutica, ao desenvolver um produto, tenta tornar o mais cômodo possível o ato de tomar um medicamento. É claro que uma substância que pudesse ser administrada apenas uma vez ao dia seria o desejado. Melhor ainda seria apenas uma dose na semana, ou no mês. Entretanto, por alguns motivos, a maior parte dos produtos disponíveis em uma farmácia precisa ser administrada mais de uma vez por dia. É aí que aparecem as recomendações a cada oito horas ou a cada doze horas, por exemplo.

Quando se toma um comprimido, há uma substância presente na formulação que é a responsável pelo efeito farmacológico. Essa substância é denominada fármaco. Para que um medicamento faça efeito, o fármaco precisa estar presente no local afetado pela doença, em concentrações adequadas e no momento certo. Para isso, o fármaco precisa ser conduzido do ponto onde foi administrado até o órgão doente.

Após o paciente deglutir (engolir) um comprimido, essa massa compactada de pós irá se molhar e, na sequência, o comprimido será desintegrado, permitindo que o fármaco seja dissolvido. Depois, o fármaco, a partir da mucosa gástrica ou intestinal, tem que atravessar diversas camadas de células até encontrar um vaso sanguíneo que o permita circular por todo o organismo, sendo direcionado ao local afetado. Portanto, a corrente circulatória é a principal encarregada de entregar o fármaco onde ele deve trabalhar, ou seja, promover o efeito farmacológico.

E o efeito farmacológico não tem nada de mágico. Basicamente, o fármaco interage com algumas estruturas encontradas nas células, chamadas de receptores farmacológicos, e dessa interação (fármaco-receptor) uma série de alterações bioquímicas intracelulares é iniciada, culminando no tão esperado efeito.

Fica fácil entender a obrigatoriedade de o fármaco estar numa quantidade adequada na corrente circulatória, por todo o período de tratamento, já que é a partir do sangue que o fármaco é deslocado até o local necessário. Portanto, quando um indivíduo pula uma dose, ou espaça demais uma dose da outra, não seguindo o que lhe foi proposto, a concentração plasmática (no sangue) do fármaco cai para valores incompatíveis com a manutenção do efeito esperado. E aí, nesses buracos farmacológicos, a doença se agrava, pois os sintomas voltam ou as bactérias criam resistência (entre várias outras consequências).

Portanto, o tempo entre uma dose e outra, estipulado pelo médico ou pelo dentista, deve ser respeitado. Nada de brincadeira, pois a sua saúde está em jogo! 

 

 

 

O autor é professor do Instituto Federal do Paraná (IFPR) campus Palmas

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