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Dalton Trevisan

Fabio Aníbal Goiris

 

 

 

Se alguém ainda tivesse alguma dúvida do talento literário e da aptidão para a construção do denominado ‘conto breve’ de Dalton Trevisan, bastaria ler as notícias do dia para encontrar o nome dele como o grande ganhador de prêmios no âmbito da Literatura. A Academia Brasileira de Letras através do ‘prêmio Machado de Assis’, versão 2012, acaba de galardoar o escritor curitibano. Antes mesmo, Dalton Trevisan já vencera o 53º ‘Prêmio Jabuti’ de Literatura. No mês passado Dalton Trevisan foi também o ganhador do ‘prêmio Camões’ o laurel mais importante da literatura portuguesa, instituído por Brasil e Portugal no final da década de 80.

Na seara política saliente-se a quase solitária manifestação do senador Álvaro Dias que no plenário em Brasília requereu um voto de aplauso ao escritor paranaense Dalton Jérson Trevisan. O senador informou que Dalton Trevisan é o décimo brasileiro a obter o prêmio Camões.

Avesso a entrevistas e aparições públicas Dalton Trevisan está com 86 anos de idade e entre seus livros destacam-se: ‘Abismo de Rosas’, ‘A Faca No Coração’, ‘O Vampiro de Curitiba’, ‘A Guerra Conjugal’, ‘A Polaquinha’ (seu único romance), ‘A Trombeta do Anjo Vingador’, ‘Capitu Sou Eu, ‘Cemitério de Elefantes’, entre outros. Não custa lembrar o início deste último conto: Há um cemitério de bêbados na minha cidade. Nos fundos do mercado de peixe e á margem do rio ergue-se o velho ingazeiro – ali os bêbados são felizes.

A população considera-os animais sagrados, provê às suas necessidades de cachaça e peixe com pirão de farinha. Esta é uma breve amostra da prosa original e surpreendente de Dalton Trevisan. Esteta da concisão, Trevisan vislumbra no conto a possibilidade de um haicai narrativo.

 Na história sobre Nelsinho, por exemplo, este na urgência típica dos 20 anos, o ficcionista Trevisan retrata o mundo angustiante dos ‘vampiros’ – e não-vampiros – que vivem na cidade a tal ponto de lhe valer o apelido: o vampiro de Curitiba. Mas, o escritor curitibano trafega também por caminhos menos trágicos e muito mais humanos. O seu conto ‘O ciclista’ (de 1968), retrata a vida célere e poética de José:

Curvado no guidão lá vai ele numa chispa. Na esquina dá com o sinal vermelho e não se perturba – levanta voo bem na cara do guarda crucificado. No labirinto urbano persegue a morte com o trim-trim da campainha: entrega sem derreter sorvete a domicilio. É sua lâmpada de Aladino a bicicleta e, ao sentar-se no selim, liberta o gênio acorrentado ao pedal.

Indefeso homem, frágil máquina, arremete impávido colosso, desvia de fininho o poste e o caminhão; o ciclista por muito favor derrubou o boné. Ao fim do dia, José guarda no canto da casa o pássaro de viagem. Enfrenta o sono trim-trim a pé e, na primeira esquina, avança pelo céu na contramão, trim-trim.  

 Seus textos como pode ver-se parecem poemas em prosa, de tão enxutos e concisos e de tão inconcebíveis e surpreendentes. Este é Dalton Trevisan que já pode ser considerado um clássico da literatura brasileira.

 

 

 

O autor é cientista político e professor da UEPG

 

 

 

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