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Contingências e perspectivas da crise

Fabio Anibal Goiris

A palavra contingência – numa de suas acepções – significa algo incerto ou eventual, que pode suceder ou não. Refere-se a uma proposição que só pode ser conhecida pela experiência e pela evidência – às vezes longe da razão. Esta parece ser uma das abordagens para tentar colocar na ordem do dia a crise econômica e social que afeta o mundo capitalista de hoje. Assim, o resultado mais absurdo que poderá ocorrer no mundo econômico (e que afetaria todas as nações) é a existência de uma economia inflacionada, com juros altos, num mundo em profunda recessão.

Mas, ao mesmo tempo em que ocorre uma desaceleração da economia na Europa e nos Estados Unidos (e que pode avariar também a economia brasileira) emerge paradoxalmente uma oportunidade para o Brasil reduzir sua taxa de juros e evitar desequilíbrios mais graves. Neste contexto, o Fed (banco central dos EUA) já anunciou que sua taxa de juros básica irá permanecer em nível zero até 2013.

O governo brasileiro (mesmo reduzindo a taxa de juros) deve conter, no entanto, a tentação de conceder estímulos adicionais e artificiais ao consumo. Segundo alguns economistas a situação mundial está num meio-termo entre a estagnação e o risco (ainda remoto) de colapso, tal como ocorreu em 1929. Outro problema econômico do Brasil reside em que o volume e o preço das exportações irão diminuir (espera-se que não drasticamente). Em 2008 a situação era diferente e o Brasil se safou da ‘marolinha’, como dizia Lula, mediante um estímulo ao crescimento econômico, o que chegou a provocar inflação. Agora a situação é diferente e o governo brasileiro deverá promover uma contenção do crédito e o aumento dos juros. Se o Brasil insistir no crescimento, a qualquer preço e a curto prazo, poderá ver exacerbado o desequilíbrio da sua economia onde a recessão é o fantasma mais temido.

O que existe no mundo é uma onda recessiva que está pegando o Brasil de surpresa. Luiz Inácio Lula da Silva resolveu o problema em 2008 (onde houve até queda do banco Lehman Brothers) mediante crescimento econômico e estímulos correspondentes à produção (por exemplo, caiu o IPI para carros e eletrodomésticos, com o objetivo de estimular o consumo). Hoje, o governo de Dilma Rousseff deverá achar um novo caminho, que incluiria uma elevação na taxa de juros aliado a um razoável aperto nas contas do Tesouro Nacional, o que manteria a inflação em níveis aceitáveis. Mas, a indústria e as exportações brasileiras continuarão a sofrer com os efeitos da queda das cotações do dólar. O mercado de commodities continuará deprimido e sobrevivendo com o estigma de não saber o comportamento dos preços (apenas como exemplo, o índice CRB-futuro, que reúne as principais commodities negociadas na bolsa, caiu 1,62%).

Nesta perspectiva, emerge uma situação paradoxal: a estratégia da economia brasileira deverá intervir com inteligência para administrar uma situação extremamente difícil (inclusive mundial) onde o consumo do povo cresce além do recomendado pela capacidade de produção do país. Diante do exposto, infelizmente, não há como esquecer as teorias do pai da demografia Thomas Malthus que num de seus ensaios repleto de dados materiais afirmava ou propunha a hipótese de que as populações humanas crescem em progressão geométrica enquanto os meios de subsistência poderiam crescer somente em progressão aritmética. Os ingleses diriam: ‘God Save The Queen’!.

O autor é professor da UEPG e Mestre em Ciência Política pela UFRGS 

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