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Câmeras nas salas de aula em PG (II)

André Luis Rosa e Silva

Perguntas que ninguém fez: qual o objetivo do controle total da sala de aula por “um olho que tudo vê”? Meramente, “inibir a violência”, ou passar, de modo sub-reptício, para a legitimação do controle absoluto dos direitos individuais mais básicos, garantidos constitucionalmente, inclusive com poder de definir o que são esses direitos? Ou, ainda, não haverá por de trás desse estratagema o desejo de controle absoluto sobre o discurso, o método e a filosofia propagados na sala de aula? E, mais ainda, não há no suposto avanço tecnológico, a serviço do controle total das situações, uma evidente falha do sistema educativo que, ao invés de formar consciências, atua através da coerção e da punição, como agente massificador e padronizador de comportamentos individuais e subjetivos, inclusive o do professor em sala de aula?

Instrumentos sociais de controle, hierarquização, punição, classificação e padronização, em diversas vezes na história, em especial no que se refere à tragédia do nazi-fascismo e das ditaduras comunistas do século passado, sempre maquiaram mecanismos perigosos de concentração do poder nas mãos de poucos, auto-instituídos donos da verdade e que, através de poder supremo, transformaram parcela da humanidade em objeto manipulável. Tal atitude incluiu a lavagem cerebral de milhões de indivíduos e o genocídio de outros milhões, e não resolveu nada daquilo a que propuseram seus defensores. Pelo contrário, a instituição de instrumentos de controle total e padronização social pelo nazismo na Alemanha, o fascismo na Itália, o comunismo na Rússia e as ditaduras latino-americanas são sinônimos de erros históricos coletivos que jamais deveriam ser repetidos.

Os dois mais tradicionais colégios de Ponta Grossa admitem, através de suas direções administrativas, que não conseguem resolver seus problemas, a não ser com o uso da coerção e do controle comportamental baseado em punições, e fazem isso sem o menor pudor, nem debate público algum. Isso significa declarar a falência da educação humanista, e do respeito à individualidade, diversidade e a tolerância como valores fundamentais na formação dos jovens. Se isso não bastasse, há o desrespeito ao artigo V da Constituição, que preconiza em seu parágrafo X serem “invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação”.

O que, talvez, os nobres diretores não saibam é que a jurisprudência tem se colocado contrária à instalação de câmeras em ambientes públicos, salvo quando para vigilância de proteção patrimonial – o que não é o caso da instalação de câmeras nas salas de aula. Qualquer instituição pública que deseje instalar câmeras em suas dependências deve avisar todas as pessoas que trabalham ou convivem no local e colher anuências. Não está claro que isso tenha sido feito em nenhum dos colégios pontagrossenses.

Estamos diante de situação em que a suposta disciplina não está baseada na definição dos limites, das responsabilidades sociais e éticas por parte dos alunos e professores, mas sim do clima de controle absoluto, baseado na coerção e imposição, no abandono do diálogo e do respeito à diversidade e à subjetividade, em nome de um ambiente controlado e socialmente incapaz de compreender seus próprios problemas.

Isso, do ponto de vista pedagógico e cidadão, é perder a guerra para si mesmo. A não ser, é óbvio, que exista o desejo de exercer, de maneira absoluta, o poder e o controle, capazes de lembrar práticas ditatoriais da história da humanidade.

O autor é professor de Literatura e Mestre em Educação 

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