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As sete maravilhas de Ponta Grossa

 

 

 

Mário Sérgio de Melo

 

 

Há poucos dias, recebi de uma grande amiga baiana, uma mensagem indignada, vinda pela internet. Essa mensagem lamentava a degradação de outrora maravilhas da cidade de Salvador, tais como a Lagoa de Abaeté, o Elevador Lacerda, o Pelourinho, e sua substituição por novas maravilhas, o metrô (alvo de inúmeras denúncias de corrupção), o Rio Lucaia (um esgoto a céu aberto), a Praça Cayru (patrimônio arquitetônico em ruínas), a Estação Lapa (abrigo de mendigos), o Aeroclube (ruínas de um parque que nunca existiu), o sistema de ferry-boats (frota sucateada), o Parque São Bartolomeu (outro esgoto a céu aberto, reduto de desocupados, prostitutas, traficantes…).

Os baianos, ou melhor, os soteropolitanos, inconformados com a degradação de sua cidade, estão manifestando sua indignação através das redes sociais. Estas, como se sabe, um meio de comunicação de grande penetração, isento das filtragens ideológicas que tendem a uniformizar a informação, e adaptá-la ao gosto dos poderosos controladores da mídia.

A mensagem de minha amiga provocou-me pensar algo semelhante para Ponta Grossa. Quais seriam as sete maravilhas de nossa cidade? Arrisco-me aqui a relacionar o que me parecem sete possíveis maravilhas. Mas desafio os ponta-grossenses que amam sua cidade, e que também têm indignação com desmandos e relaxos que contribuem para a deterioração da vida urbana, a revelarem seus próprios pontos de vista, suas próprias listas de maravilhas.

A meu ver, a primeira maravilha da cidade seria o Mercado Municipal. Não há lugar que melhor represente a natureza e a história das transações, dos produtores e seus produtos, dos consumidores e seus gostos, dos comerciantes e seu cuidado com as mercadorias ofertadas, enfim, um traço de toda a população. Em segundo lugar, viria o estádio de futebol. Uma cidade com um time centenário, muitas vezes campeão do interior, deveria ter um estádio à altura. Em terceiro lugar, o time de futebol. O Operário Ferroviário é um time com história, com tradição, com uma imensa torcida, a maior do interior. Como é que o time não consegue firmar-se entre os melhores do estado, como é que não consegue atrair investimentos fortes e duradouros, para bancar a revelação de talentos, para poder manter o plantel? A quarta maravilha poderia ser o Cine Império. Um patrimônio cultural que acolheu os devaneios e suspiros da época de ouro do cinema e do entretenimento, hoje uma ruína, um reles objeto de mesquinhas disputas judiciais que desejam simplesmente demoli-lo. Em quinto lugar, o Rio Pilão de Pedra, manancial do pouso de tropas que deu origem a Ponta Grossa, com as nascentes na Praça Barão de Guaraúna e no Ponto Azul. Hoje, canalizado por debaixo dos prédios e construções, como que num esforço para soterrar a memória da cidade, emerge pouco adiante, um esgoto a céu aberto que traduz o desapreço com que a história e a tradição são tratadas. Em sexto lugar, o Trevo do Vendrami, a porta de entrada ou de saída da cidade. O motorista menos experiente enfrenta ali um desafio de segurança, de orientação, em meio a vias muito mal planejadas e a um visual muito deteriorado. A sétima maravilha, a Chácara Dantas, um parque urbano edificado com recursos municipais, ou seja, com os tributos pagos pelos munícipes, hoje vandalizado a tal ponto que mesmo tijolos, telhas, caixilhos das construções que por lá existiam foram roubados.

E, poder-se-ia não parar por aí. Ponta Grossa tem ainda muitas outras maravilhas. Um sistema de trânsito que parece ter parado no milênio passado, e que não se dá conta que a cidade, a frota de veículos, cresceram, que as ruas não foram planejadas para tanto, e é necessário que se tenha soluções competentes para os muitos problemas existentes hoje. Uma arborização urbana tacanha, em que raras arvoretas lutam para sobreviver em solos cimentados e asfaltados que não permitem a infiltração de água. Uma crônica incapacidade de atinar com o imenso valor do patrimônio natural da região, que poderia gerar muitas riquezas e empregos, e alçar a cidade a um status de exemplo de sustentabilidade, pólo de turismo ecológico, centro de excelência em pesquisas ambientais e de ensino para o terceiro milênio. Uma elite econômica atrasada, que ainda não realizou que não estamos mais na época das sesmarias. Um quadro de homens públicos que ainda não realizou que não estamos mais na época da monarquia.

Ponta Grossa cresceu muito, está crescendo, a olhos vistos. É hora da população da cidade reivindicar que suas maravilhas sejam motivo de seu orgulho. E não do constrangimento pelo escancarar de um teimoso provincianismo.

 

 

O autor é geólogo, professor do Departamento de Geociências da UEPG

 

 

Artigo republicado a pedido do autor.

 

 

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