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A vitória de Marcelo Rangel

 

Ponta Grossa ofereceu domingo um espetáculo eleitoral jamais visto. O novo prefeito saiu vitorioso com uma diferença de menos de 2000 votos, entre o primeiro colocado – Marcelo Rangel – e o segundo – Péricles de Mello. Uma festa não apenas do civismo já que as eleições transcorreram num clima de grande equilíbrio e cortesia política. Mas, sobretudo, um festejo da extraordinária força do conservadorismo princesino que, transportado-se às profundezas de uma antropologia cujas raízes estão nas próprias Sesmarias, na aristocracia rural, nos aparelhos privados de hegemonia e no mais puro patrimonialismo conseguiu reverter uma suposta e precipitada ordem eleitoral conjuntural e ganhar as eleições.

 Sem dúvida uma vitória justa, valente e quase solitária de Marcelo Rangel (PPS), visto que conseguiu superar os seguintes obstáculos: 1) uma titubeada do próprio governador Beto Richa que demorou sobremaneira em escolher o candidato a prefeito a tal ponto de quase dividir e desnortear o próprio eleitorado conservador; 2) uma posição ambígua e dúbia do prefeito Pedro Wosgrau Filho que se absteve de apoiar o candidato com o qual o seu partido fazia uma coligação; além disso, Rangel teve a grandeza de durante a campanha não mencionar esse fato; 3) a ausência do apoio do governo federal na figura de Lula, Dilma e especialmente de Gleisi e outros ministros como Paulo Bernardo que por aqui estiveram; 4) o Ibope que dava como certa a vitória de Péricles por uma margem que chegava a quase 10%; 5) o desempenho eleitoral do seu partido político o PPS, hoje em plena decadência no cenário político partidário brasileiro, com exceção talvez do próprio Paraná, 6) a figura de Márcio Pauliki que representando o novo e a própria sedução do conservadorismo político em ascensão não conseguiu ofuscar a performance de Marcelo e, por último, 7) o próprio candidato Péricles que conseguiu aglutinar as forças da esquerda e outros aliados afins de uma maneira elegante e dialética.

A vitória de Marcelo pode ser vista também desde a perspectiva de duas posições que estão em sentidos diferentes. Por um lado, não representa, pois, a vitória da esquerda que, por sinal, continua sendo esmagada pela velha lógica do autoritarismo pequeno-burguês: apologia do mercado, desqualificação dos Estados, taxação das políticas sociais como ‘populismo’, tentativas de desmoralização de tudo o que diferisse do capitalismo e do liberalismo, criminalização dos movimentos sociais e das suas lutas. Por outro, foi, sim, uma vitória do realismo político, que Maquiavel chamaria de ‘verità effetuale’, ou seja, a verdade efetiva, que consiste em analisar os fatos como eles realmente são, ou seja, sem paradigmas pré-concebidos e sem ilusões sociológicas o que significa a permanente possibilidade do restabelecimento do princípio da unidade popular – neste caso do pensamento conservador – consubstanciado em torno de um governo legítimo.

 

Fabio Aníbal Goiris o autor é cientista político e professor da UEPG

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