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A picanha da discórdia

Foto: Ilustrativa

Na tarde da segunda feira, 23 de janeiro, a UEPG recebeu da Receita Federal a doação de pouco mais de mil e duzentos quilos de picanha, além de uma quantidade de camarão. A carga vinda da Argentina tinha como destino Curitiba e apresentou irregularidades na documentação. Por se tratar de uma carga perecível a doação precisou ocorrer em caráter de urgência.

A notícia, desde então, tomou conta dos mais diversos canais de comunicação de circulação nacional como G1, CNN, Veja, Correio Brasiliense, dentre outros. Claro, sempre nelas, nas redes sociais desses canais a notícia repercutiu as mais diversas opiniões entre seus leitores. Opiniões inclusive agressivas, dizendo por exemplo que a carga apreendida estará servindo a “um bando de estudantes vagabundos”.

É triste se deparar com esse tipo de comentário, que infelizmente é comum e expressa a visão muitas vezes de pessoas que se informam somente pelas manchetes e não aprofundam a leitura sobre as notícias e o que de fato elas trazem. Nesse caso, se tivessem feito teriam encontrado a informação sobre a perecibilidade do material apreendido. Aliás, não precisa muito para entender que carne e camarão são perecíveis. Falta muitas vezes também olhar para o básico, como por exemplo que a Receita Federal não é frigorífico e não tem como estocar esse tipo de material até que se tramitem as burocracias para que se façam os famosos leilões ou bazares da instituição. Ou ainda, não é difícil entender que custaria tempo e efetivo para a instituição promover doações fracionadas dessa carga de mais de uma tonelada de carne e camarão.

Fica até esquisito que em pleno início de 2023 ainda seja necessário falar sobre o básico sobre paradoxalmente uma notícia que está sendo comentada na internet, que por sua vez é fonte inesgotável de pesquisa e informação. O que parece é que as pessoas ficaram com preguiça de pensar e se dão por satisfeitas com manchetes e em outros casos por outras pessoas pensarem por elas, o que ainda é mais triste.

Somada a preguiça e a falta de pensar, não é incomum a violência gratuita das palavras. Sob qual aspecto os estudantes da UEPG seriam “vagabundos”? Geralmente esse tipo de ataque acontece por parte de quem nunca pisou numa universidade pública, desconhecendo assim a realidade dos mais diversos segmentos da população que tomam seus assentos nesses bancos de ensino. Desconhecem ainda as políticas de permanência na universidade, onde os Restaurantes Universitários são o mínimo do mínimo nesse tipo de política.

Com muito orgulho sou egresso não só da UEPG onde tive a oportunidade de frequentar dois cursos, como também da UTFPR, então CEFET, onde fiz parte do Ensino Médio e da UFPR onde concluí minha Especialização. Creio que possa dizer com a bagagem de muito bandejão que as instituições públicas de ensino superior não são formadas por “um bando de vagabundos”, e que os Restaurantes Universitários garantem a permanência de muitos estudantes em suas graduações e pós-graduações, com ou sem picanha.

*O autor é administrador e especialista em Gestão de Negócios

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