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Ajustes necessários ao Enem

Jacir J. Venturi

O Enem, transformado em grandioso processo seletivo, baliza e norteia todo o ensino da Educação Básica. Tornou-se a locomotiva, e os vagões são as séries do Ensino Médio e do Ensino Fundamental. Questionamentos há, mas o fato de o MEC ser o timoneiro dos conteúdos a serem ministrados permite a implementação de uma política educacional para todo o território brasileiro. Recordemos que são muitos os países que adotam provas e currículos unificados para o ingresso em suas universidades. O destaque é o SAT, o vestibular norte-americano ao qual o Enem pretendeu se modelar.

As duas últimas edições foram de trapalhadas, desonestidade dos fraudadores e/ou incúria da gestão pública: em 2009, vazamento e anulação da prova, acarretando um prejuízo de R$ 165 milhões; em 2010, falhas na encadernação da prova amarela e troca de cabeçalho no cartão resposta levaram parte dos alunos a refazer o exame. Em 2011, o Inep contratou por R$ 5 milhões uma empresa de gestão de risco, para monitorar toda a logística, da impressão à aplicação das provas.

Há, pontualmente, ajustes que merecem uma análise mais aprofundada por parte do MEC, ouvindo-se educadores experientes:

1. O conteúdo programático do Enem é excessivo e merece ser mais bem descrito e enxuto. Ficou genérico demais. A grade curricular deve ser reduzida em 20% a 30%, eliminando-se subitens de todos os capítulos.

2. Enunciados desnecessariamente longuíssimos, quando o candidato dispõe de apenas três minutos, em média, para a resolução de cada questão.

3. Muito se avançou, porém em Matemática ainda há excesso de contextualização e aritmética, prescindindo-se de conteúdos mais profundos e raciocínio lógico.

4. O custo de toda a logística e aplicação do Enem quase triplicou de 2010 para 2011: subiu de R$ 128,5 para R$ 372,5 milhões. Um despautério que merece explicação, considerando que o número de candidatos teve um incremento de apenas 34%: de 4,6 para 6,2 milhões.

5. No ranking do desempenho de quase 20 mil escolas, há peso excessivo à redação, em detrimento das demais disciplinas. As 180 questões objetivas de todas as matérias valem apenas 50%. Na outra metade, reina absoluta a redação (de 30 linhas). Ademais, a correção da redação tem caráter subjetivo.

O Inep tem o nobre dever de demonstrar eficiência em suas ações e resgatar a credibilidade perante os meios acadêmicos e principalmente perante os 6,2 milhões de inscritos. A sociedade brasileira não merece essa quebra de expectativa, o que leva à frustração, descrença e desesperança. No ano em que a Rainha Elizabeth II passou pelo calvário de graves problemas familiares, ela cunhou uma expressão que se ajusta ao Enem 2009 e 2010: annus horribilis.

O autor é vice-presidente do Sinepe/PR, diretor de escola e foi professor da UFPR, da PUCPR, de cursos pré-vestibulares e de escolas públicas e privadas. 

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