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A Praça da Matriz e a Capoeira

Novamente abrimos as janelas da Coluna Sherlock Holmes Cultura para o Projeto Crônicas dos Campos Gerais, projeto desenvolvido pela Academia de Letras dos Campos Gerais, do qual somos parceiros, com o objetivo de fomentar e divulgar percepções sobre os Campos Gerais do Paraná, estimulando o relato escrito (crônicas) de vivências da população regional ou visitantes. A crônica desta semana Intitulada "A Praça da Matriz e a Capoeira” é de autoria do escritor Jeferson do Nascimento Machado, agricultor, São João do Triunfo.

 

A Praça da Matriz e a Capoeira

Encontro-me na Praça da Matriz, um pequeno espaço de lazer, localizado no centro da cidade de Imbituva. O local é composto por elementos naturais – árvores, gramados, flores e arbustos­ – e não-naturais, produtos do trabalho humano – bancos, calçadas e a Paróquia Santo Antônio. Nesta praça nasceram amizades, namoros… mas fora esses acontecimentos cotidianos, o lugar também serviu de palanque para fascistas, repressores… Aqui discursou Plínio Salgado, foram realizadas passeatas e marchas militares durante a Ditadura. Por outro lado, este mesmo lugar foi ponto de encontro de jovens, que por diversas vezes reuniram-se para discutirem as mazelas sociais e buscarem alternativas ao velho mundo.

Agora, dirijo-me para o outro lado da praça. Noto que várias pessoas, vestidas de branco e algumas segurando instrumentos, aglomeram-se abaixo de algumas árvores. Aos poucos se forma um círculo. Em seguida, passam a tocar e a cantar. Aqueles que não empunham instrumentos caem nas palmas e respondem o coro. Sem demora, duas pessoas se dirigem sob os que tocam os instrumentos, agacham-se, tocam a mão um do outro e adentram o círculo, realizando uma cambalhota. Agora eles estão no centro do círculo e realizam movimentos em grande sincronia. Parece uma luta! Parece uma dança! Trata-se de uma tradicional roda de capoeira, que ocorre aqui desde a década de noventa. Aliás, as primeiras aulas de capoeira da cidade foram realizadas nesse local.

Não tarda e a roda começa a seduzir os transeuntes. Homens, mulheres, crianças e casais que estavam passando agrupam-se em torno da roda. Imediatamente, mesmo que de forma tímida, passam a bater palmas e a responder o coro. Isso anima os capoeiristas, que aceleram o jogo e começam a realizar movimentos cada vez mais complexos. Alguns dos transeuntes, mais extrovertidos, chegam a entrar na roda e arriscar algumas pernadas.

Todavia, se hoje a capoeira é tão querida na cidade, antigamente ser capoeirista era estar deslocado da identidade “verdadeira”, a de imigrante europeu. Naquele tempo, tudo era mais difícil e existiam vários estereótipos atribuídos àquele que jogasse a capoeira. Chamar o berimbau de “cachimbo de preto”, o capoeirista de macumbeiro, de vadio ou bandido, eram alguns dos modos de o preconceito se manifestar.

Entretanto, os capoeiristas não desistiram, não arredaram o pé. E foi por terem resistido ontem que podemos desfrutar hoje desta expressão nacional e regional.

 

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