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A passista do Carnaval de 1979 (I)

Ben-Hur Demeneck *

Carnaval de 1979, Ponta Grossa. A passista da escola de samba Princesa dos Campos posa para a fotografia. Ela olha para a câmera de cabeça erguida, ornada com uma grinalda de lantejoulas. Jussara ajeita nos ombros o manto branco recortado de babados, depois segura entre as mãos um cetro contornado por fita dourada. O vestido longo possui uma tonalidade clara semelhante a uma parede de berçário e seu manequim acomoda com folga a gestação em curso. Gleison demoraria meses para conhecer o mundo aqui de fora, mas já simbolizava a potência do Carnaval em combinar beleza, afeto e arte. Véspera de Carnaval de 2020. Tanto a moça da foto quanto outros personagens dos bairros de Ponta Grossa seguem fora do radar da universidade e dos meios de comunicação. O silêncio que lhes imposto impede que nos expliquem quais são os enredos e quem são os personagens que fazem a maior festa popular do Brasil nos Campos Gerais. Jornalistas, historiadores, cineastas, professores e gestores culturais precisam mudar este quadro e começar a documentar e dar visibilidade às memórias de nossos passistas, ritmistas, compositores e carnavalescos. É urgente registrar tudo aquilo que os súbitos de Momo mais experientes lembrarem dos Carnavais do

século XX. A passista de 1979 se chama Jussara de Fátima Ribeiro Batista. Ela nasceu em 1957 e como o leitor confere na foto que ilustra a coluna do grupo Sherlock Holmes Cultura, sequer a gravidez e o comentário de abelhudos demoveram Jussara de seu desejo em desfilar na avenida, naquela época pela escola de samba Princesa dos Campos. A participação dela no Carnaval de rua se estenderia em agremiações que permanecem vivas graças a sua lembrança. Ela foi passista na Princesa dos Campos (anos 1970), destaque na Gralha Azul, rainha de bateria na Baixada Princesina (anos 1990) e porta-estandarte na Nova Princesa de Olarias (anos 2000). Também, por seis anos, desfilou na União da Mocidade de Olarias. Enquanto Jussara mergulha em décadas passadas, menciona o nome das escolas de samba e logo sublinha o nome de seus líderes carnavalescos. Relaciona Princesa dos Campos com Toninho Gordo, União da Mocidade de Olarias com Luiz Guitarra, Baixada Princesina com Luiz Preto, Nova Princesa de Olarias com Miguel Mazurek. Via de regra, tais personalidades “viajaram fora do combinado” sem deixarem o devido relato de suas vidas e obras para a posteridade em texto, áudio ou vídeo. Falha de todos nós.

(CONTINUA NA SEMANA QUE VEM)

* Ben-Hur Demeneck é jornalista e doutor em Ciências da Comunicação (ECA-USP). Ao lado de Fabrício Cunha, criou o projeto Samba do Trilho – roda de sambas autorais ganhadora do Prêmio Jacob Holzmann 2016. É autor do livro “PG de A a Z & outras crônicas” (Todapalavra Editora, 2013).

 

 

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