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“A carapuça serve quem a veste”

Sandro Ferreira

Existem duas maneiras distintas de escrita, há os que bem ou mal, escrevem por si mesmos, e há os outros, que apelam para citações de autores e filósofos consagrados, como uma muleta, provavelmente na tentativa de dar alguma robustez intelectual ao seu texto, já que na maioria das vezes, os seus argumentos são tão ralos que sequer passam da superfície. Da segunda forma, utilizou-se o secretário de RH da prefeitura municipal de PG e presidente estadual do PTN, José Elizeu Chociai, no seu artigo “A Política e os Partidos (sem inveja)”, neste DC, no dia 14/10/11, em reação ao que publiquei dois dias antes: “Partidos de quem?”. Como acredito ser válido o debate, não me furto a uma tréplica, mas antes devo esclarecer publicamente ao secretário que não o invejo em hipótese alguma, pelo contrário, pois não sonho ser mais um oportunista de plantão, ávido por boquinhas do Estado e que se autoclassifica como político profissional.

Protestei como cidadão contra o que são uma afronta a nós eleitores, que é a farra partidária praticada neste país, e que, diga-se de passagem, não encontra precedente, nem paralelo, na história das democracias mundo afora. Chama atenção que um político dito profissional teve de recorrer ao Houaiss para classificar política, no entanto, como o foco da minha crítica foi à atual situação do sistema partidário nacional, e não uma discussão conceitual do que é política, declaro que não entendi o subterfúgio utilizado por aquele que diz “lutar incessantemente por uma cidade melhor”, mas lidera a resistência pela manutenção do aumento do número de vereadores em PG, projeto que tem 90% de desaprovação popular no Brasil. Inclusive lembro que foi um suplente de vereador do PTN que apresentou o projeto na Câmara Municipal e outro vereador do partido colocou a matéria em votação de maneira propositadamente antecipada, sem dar chance de a comunidade lutar contra a proposta. Hoje entre as grandes cidades do Paraná, PG é a única a figurar no pântano do atraso, da política arcaica e corporativista, que não ouve seus cidadãos. Mesmo agora diante de mais de vinte mil assinaturas já coletadas, os representantes do PTN preparam o contra ataque ao Conselho de Entidades, para barrar o projeto de iniciativa popular com base em Legislação Municipal, como se esta estivesse acima da Constituição Nacional. Para eles, um só suplente de vereador tem mais poderes que vinte mil eleitores.

Classifico como absurdo, um político que apoiou e participa do atual governo municipal, este sim “aristocrático, reacionário e com timbres de ouro” vir com o discurso da defesa dos interesses da população, quando em quase sete anos, esta administração não realizou nenhuma audiência pública nos bairros sobre temas de relevante interesse coletivo. Tudo sempre foi decidido por uma cúpula de “iluminados”. Já quanto a ser “cruel”, penso que crueldade é pagar irrisórios R$ 745,57 para os professores municipais com nível superior, mesmo com a prefeitura batendo sucessivos recordes de arrecadação e com superávit divulgado de mais de R$30 milhões em 2011. Crueldade é o estado deplorável que chegou a saúde pública de PG nestes últimos anos, aonde médicos com diplomas falsos atendiam a população, a central de remédios foi contaminada por ratos, postos de saúde foram abandonados e hospitais recém reformados ou construídos não funcionam. Um caos aonde deveria primar excelência.

É incompreensível como um indivíduo que jamais colocou o seu nome para apreciação do voto popular, queira exigir esta atitude de alguém, como condição fundamental para estar apto de participar do debate político. Somente mesmo quem vê a democracia apenas como um balcão de negócios pode acreditar que política é atividade exclusiva de políticos. Isto vai contra a própria essência da democracia e o seu princípio básico: “Todo poder emana do povo para o povo”. Não dos políticos para os políticos. Enfim, agregar vários partidos numa Frente e utilizá-la como moeda de troca em tempo de eleições, barganhando cargos públicos. Será esta a “inclusão do outro” ao qual se refere o secretário como o seu norte político? Encerro com um dito popular que serve bem para este fim: “A carapuça serve quem a veste”.

O autor é cidadão de Ponta Grossa. 

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