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Para que serve a crítica?

É corrente a afirmação de que a crítica cultural está em crise. Mesmo alguém que não seja do métier, pode concordar com isso. Faz tempo que críticas de teatro, cinema, televisão, artes plásticas etc. deixaram de ser uma referência para quem deseja usufruir de produtos culturais. Ou, pelo menos, a referência única.

Mas a crítica continua sendo importante. E muito. No caso do teatro, o que é uma boa crítica? É aquela escrita por alguém especializado na área, muito bem informado sobre o teatro em geral e o espetáculo a respeito do qual está escrevendo em particular, e que tem elementos suficientes para apontar caminhos.

É a crítica que faz a pergunta fundamental: com o que aquela proposta de montagem está contribuindo para a arte do teatro e a sua evolução? A crítica que, também fundamental, não se atém a achismos e nem baseia suas apreciações no gosto pessoal do… crítico. Não que seja possível eximir-se plenamente desse tipo de consideração, claro, porque é ponto pacífico no jornalismo que a objetividade é um mito. Mas que o crítico demonstre, ao longo da sua análise, que esse gosto pessoal definitivamente não interessa ao leitor. E que, por fim, o texto seja arejado, livre de amarras, de ‘ismos’ e que tais.

Certa parte da crítica – e talvez esteja aí parte do problema – chegou a um vício irritante que tomou conta das redações da chamada ‘grande imprensa’: publicar, uma ao lado da outra, críticas com as retrancas Gostei e Não gostei. Ok. E o que isso tem a ver com as calças?, perguntaria Woody Allen. O que interessa ao leitor saber se o crítico gostou ou não do espetáculo, do filme, do quadro, do produto televisivo? Literalmente, nada. Não é para isso que serve a crítica. E quanto mais ela for para esse caminho, mais enfraquecida ela fica, e mais arisco fica o leitor. E com razão. Porque o que ele quer é ter um ponto de referência, um porto seguro, talvez. E a crítica será pertinente na medida em que aponte os caminhos que aquele produto de arte está mostrando e em que contextualize a montagem teatral, a realização cinematográfica, a produção televisiva, a criação nas artes plásticas etc.

O exercício da crítica não pode enfraquecer, e é importante que mais e mais jornalistas e alunos de jornalismo produzam críticas. Por isso, é com grande alegria que recebi o convite, feito por um aluno do curso de Jornalismo da UEPG, para ser uma espécie de ombudsman dos textos que um grupo de acadêmicos irá produzir durante o 39ª Fenata para o site www.culturaplural.com.br. Fico muito honrado com o convite, pois é o reconhecimento a 11 anos ininterruptos de críticas de espetáculos que veem ao festival – desde que comecei a escrever, primeiro, para o site da Convoy, em 2000, e, depois, para o jornal Diário dos Campos, a partir de 2001. Mas também fico um tanto apreensivo por pensar se darei conta da empreitada. Espero que sim.

Esses alunos somam-se, neste ano, a este crítico e a Nina Caetano (espetáculos de rua e de animação) e Vinício Angelici (adultos e para crianças). Se depender de nós, com certeza, a crítica de teatro terá vida longa.

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