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Deus não é brasileiro

Sandro Ferreira

 

 

 

Infelizmente, a prática política no Brasil se tornou sinônimo de corrupção, com destaque para a última década, quando praticamente se institucionalizou o ‘toma lá dá cᒠem todas as esferas de poder. Talvez como em nenhuma outra democracia do planeta, aceita-se a falácia de que em nome da tal governabilidade, os candidatos podem formar suas alianças na base do puro fisiologismo.

Grandes partidos e nanicos, sem nenhuma sombra de compromisso com a nação, são cooptados por candidatos que visam tão somente obter dividendos eleitoreiros e, em troca, cedem cargos e privilégios nos governos por vir. O que deveria ser um instrumento democrático virou ferramenta para conquistar nacos de poder e, consequentemente, benefícios partidários e pessoais. As nefastas derivações disto podem ser verificadas tanto em municípios, quanto nos estados e no plano federal, inclusive o governo Dilma Housseff é o mais prodígio nisto.

A coalizão que elegeu a primeira mulher presidente do Brasil reúne desde a mais retrógada direita, representada pelos velhos oligarcas do PMDB, até a mais dogmática esquerda ainda existente no país. Como era previsto, esta coligação já apresenta rachaduras e contradições evidentes, só que não pelas históricas diferenças programáticas e ideológicas, disto convenientemente já se esqueceram, mas sim pelos conflitos de interesses por cargos e verbas milionárias.

Hoje, após um ano e três meses de governo Dilma e oito de Lula, a despeito dos elevados índices de popularidade da presidente e do ex (absolutamente incompreensíveis diante dos fatos), percebe-se que o país ainda não tem um rumo. Não existe nenhum plano de metas para os próximos dez anos. Propagandeia-se apenas o famigerado Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que já se encontra na fase 2, sem que nem 1/4 da primeira parte tenha sido concluído.

Se o engodo prosperar, logo anunciarão o PAC 3, como se o governo federal fosse uma mera trilogia cinematográfica, afinal a maioria dos brasileiros ainda acredita cegamente em propaganda oficial, com delírios de Brasil super potência. Foi assim no milagre econômico dos militares durante a ditadura e novamente se repete a fórmula, só que agora, por ironia do destino, num governo, em tese, de esquerda.

Enquanto prioridades são deixadas de lado, projetos megalomaníacos como o trem-bala de São Paulo – Campinas – Rio de Janeiro, e a transposição do Rio São Francisco, entre outros, são anunciados com pompa e circunstância quase que semanalmente no Palácio do Planalto, porém nada sai do papel. Até as intervenções urbanas previstas para a Copa do Mundo de 2014 nas cidades sedes, é pura ficção. Só existem em pranchetas e maquetes. Cinco anos depois de o país ter conquistado o direito de sediar a Copa, menos de 3% foi construído em termos de mobilidade e benfeitorias urbanas. Até os estádios estão atrasados e como estamos a apenas dois anos do mundial, deveremos apresentar ao mundo nossa incomparável capacidade de improvisação com o autêntico jeitinho brasileiro. Haja tapume para esconder nossas mazelas humanas e urbanas.

Mas não se engane o leitor. A causa disso não é a infernal burocracia nacional nem a difundida malemolência tupiniquim (injusta para um povo que vai trabalhar enlatado como sardinha por um salário de fome). A gênese de tudo isso são os acordos políticos espúrios, sem nenhum compromisso com a eficiência e a meritocracia. Desconfio que se um dia Deus foi brasileiro, mudou de nacionalidade.

 

 

 

 

O autor é cidadão brasileiro

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