*Wanda Camargo
Embora no ensino superior a situação se mostre um pouco menos dramática, no ensino fundamental e médio temos encontrado significativa parcela de docentes desmotivados, descrentes do próprio processo educativo e sem ânimo para procurar qualificação em outras áreas.
Parte do desinteresse provavelmente se deve à má remuneração, acrescida da constatação do pouco respeito pela função. Quase todos os professores neste país já tiveram que responder à inquietante pergunta mas você não trabalha, só dá aulas?. Assim, não é de estranhar os maus resultados do sistema educacional brasileiro frente às grandes avaliações internacionais, em qualquer nível de ensino.
A falta de estrutura física adequada (pois inacreditavelmente nem todas as escolas têm biblioteca ou laboratórios didáticos, quase nenhuma quadra esportiva, além de outras instalações indispensáveis aos professores, coordenadores e alunos) são fatores impeditivos ao bom exercício profissional. Isto acarreta negligência, desestímulo à adoção de novas metodologias de ensino e termina levando a um ciclo perigoso de indulgências – em que o professor releva o mau desempenho do aluno e este não espera dedicação do professor.
As provas de redação do último Enem parecem ter levado esta calamidade ao paroxismo, pois além dos habituais erros gramaticais e de ortografia, aparentemente por pura brincadeira, alguns candidatos nela fizeram enxertos – em uma das redações, receita de macarrão instantâneo, em outra, o hino de um time de futebol. Não haveria nada de errado nisso, fossem citações devidamente destacadas e em absoluta relação contextual com o desenvolvimento do tema proposto. Mas, aparentemente, eram apenas recursos de preenchimento de espaço.
Isso revela mais do que uma suposta malandragem: é uma declaração de que os autores não acreditavam que as redações seriam corrigidas e, o mais desastroso, talvez tal descrença tenha sua gênese em trabalhos escolares não ponderados – ou sequer lidos – por professores que já não acreditam mais em sua profissão.
Lamentável que isso ocorra em nosso país, justamente quando poderíamos dar, finalmente, o salto de desenvolvimento prometido e aguardado por séculos. Não podemos seguir em frente de modo sustentável sem que a maior parte da população tenha educação de boa qualidade em todos os níveis e, para isso, o professor é essencial, é vital, é indispensável. E que justamente este profissional não se sinta valorizado e até orgulhoso da sua profissão, denota algo profundamente errado.
Não se trata apenas de investimentos em educação. Talvez a questão sequer seja esta. O Brasil é um dos países que mais investem proporcionalmente nesta área. Mas investe mal, ataca os problemas visíveis, ou seja, aqueles que dão visibilidade política – e ignora aqueles profundos, de base.
A quebra de hierarquias baseadas no conhecimento, a desvalorização do empenho, da competência, em detrimento da esperteza e da mera aparência, constituem problemas de toda a sociedade. Na escola, isto é muito mais doloroso, por ser de onde deveriam partir os bons exemplos.
*A autora é educadora e assessora da presidência das Faculdades Integradas do Brasil (UniBrasil)