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Licenciatura e formação de professores

Acir da Cruz Camargo*

Universidades possuem colegiados de licenciaturas, conselhos de ensino, estágio curricular, dezenas de projetos de pesquisa, financiamento do CNPq, mestrados em educação e ciências humanas, cursos de atualização didática, porém a escola básica, fruto desse monstruoso aparato financeiro e burocrático continua paupérrima e deficitária. Reproduzindo um ensino preguiçoso, alienante, que não forma cidadãos, nem profissionais e dispensa a cultura.

Nenhuma destas assume sua irresponsabilidade com a sociedade e qualidade os graduados. Esconde-se atrás do bordão de que após entregar o diploma, sua responsabilidade termina. Deve o licenciado prosperar o seu aperfeiçoamento intelectual. A indigência cultural começa nos anos iniciais do curso superior e desembocam numa escola alienada, composta de total desinteresse e falta de conteúdos relevantes. Esse caos na história da nossa educação tem fatores externos, como o descaso das autoridades governamentais, que esbanjam dinheiro no pagamento dos políticos e burocratas e pauperizam a escola e ensino. Mas existem determinantes íntimos, a convicção profissional e concepção antropológica do ensinador e o abandono das licenciaturas, transformadas em bacharelados vesgos, da formação de professores.

Em nossos dias, a sala de aula pouco ensina. Professores e alunos se emburrecem progressivamente, estacionados nas receitas ocasionais do método e outros avançam níveis seguintes sem ter aprendido noções básicas. Diplomamos aqueles que não frequentam bibliotecas, não consultam dicionários, não levam tarefa para casa, não praticam exercícios de aprendizagem. Do prédio escolar chegam em casa, sem incentivo familiar e social. Não se dá importância ao livro e pesquisa autônoma. Os livros didáticos modernos se constituem numa vergonha estrondosa. Dizem muito e ensinam nada. Professores, escolas, pais e alunos devem revisitar os antigos livros didáticos, que por motivos históricos e de teorias educacionais foram atirados no lixo.

A licenciatura tem que discutir a forma e o conteúdo do livro didático, mesmo que não tenha formadores docentes, estando cheia de tanta especialidade. Tanto o livro quanto o professor antigo ensinavam. Em termos de formação, nossas graduações produzem um ser ambíguo. Faz licenciatura, mas obriga-se a pesquisar temas de áreas específicas e dissocia-se da educação. Quantos projetos contemplando temáticas educacionais estão no catálogo dos nossos cursos? Além disso, a universidade ainda está presa ao que é mais retrógrado, à reforma departamentalizadora de 1968.

Os departamentos se constituem na grande praga que atravanca a formação de professores, porque permite a individualização tanto dos docentes, fechados em si, sem comunhão com os outros e com as outras disciplinas, em guerras pessoais que duram até a aposentadoria. O compromisso do contratado possa é ensinar determinada matéria, como se fosse uma faculdade apenas daquilo e não para associá-la à escola básica. É preciso que a formação de professores esteja a cargo de colegiados apropriados para isto, com professores contratados, verificados nas bancas, para finalidades de formação. Se o professor lecionará para licenciatura, deverá ter em seu currículo breve formação na área de filosofia da educação, fundamentos elementares em educação.

 

*O autor é historiador

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