Mirian Cristina Ribas
Historicamente as ideias acerca dos diferentes padrões comportamentais surgiram na Grécia, com as reflexões dos filósofos Sócrates, Platão e Aristóteles; a palavra ética diz respeito àquilo que pertence ao caráter, o modo de ser, a ciência da conduta. Falar de ética é falar de vida, dos costumes, do nosso dia a dia, esta que permeia todas as relações humanas. O homem nasce primitivo com um potencial ético a ser vivenciado e assimilado, sendo assim, tudo começa no lar, o ambiente onde as responsabilidades de cada cidadão são postas em prática. As famílias no mundo todo já não são as mesmas, no entanto, há de se pensar, em bases sustentadas no altruísmo, na tolerância e aceitação das diferenças onde tais valores são colocados à prova.
Embora muitas vezes confundam-se por sinônimas, ética e moral são distintas, sendo a moral a prática da ética; complementa a colunista da revista Veja, Lya Luft, que os valores éticos e morais vêm se perdendo ao longo do tempo, ao ponto de que ser honesto ganha medalha, e ser mais ou menos coerente, merece aplausos. Atualmente o Brasil vive quase um caos sociopolítico, resultado fatídico de tal inversão de valores, de promessas eleitorais não cumpridas, do jeitinho brasileiro que muitos adotam usualmente para obter vantagens, de maneira fácil; e para que isso ocorra, os princípios éticos e morais são jogados para escanteio. A banalização de tais valores não ocorre apenas, quando os políticos desviam milhões do Erário público, destinados à saúde, educação e ao bem comum, ocorre também quando uma pessoa joga uma casca de banana na calçada, pois além de estar desrespeitando os princípios de higiene, também está assumindo o risco de alguém passar por ali e escorregar; ou se um filho comete um crime, ele deve ser denunciado? Ao estacionar na vaga para idoso, cadeirante, mesmo de maneira rápida (justificativa de muitas pessoas), está correto? A ética está vinculada também a subjetividade, depende da vontade de cada um; são inúmeras situações do cotidiano, porém, ética é um conceito indivisível, não admite meio termo, ou sou ético na família, no trânsito, com os amigos, na sociedade, ou não sou.
Quando a ética foi intelectualmente iniciada, teve-se o propósito da defesa dos valores vigentes, nas relações do coletivo e do individual, contudo, no desenvolver pós-moderno surgiram conflitos, desigualdades sociais e o entorno ético, moral e justo foi se dissipando. Estamos em uma sociedade global, mas ainda não desenvolvemos fundamentos para uma ética universal, válida para todos os povos, capaz de respeitar as diferenças culturais, religiosas, econômicas, raciais e outras. Muitos filósofos acreditam que este é um desafio para a humanidade, portanto, ainda temos que avançar em nosso próprio quintal, como denotou o saudoso Hebert de Souza (Betinho), que só a participação cidadã é capaz de mudar o país. Especificamente no Brasil, já tivemos grandes feitos com o uso adequado da ética, como a nossa atual Constituição, a redemocratização política através do movimento Diretas-Já e as recentes manifestações populares contra a corrupção, enfim, estamos regrados pela ética, e, apesar de tantos problemas por nós enfrentados, nada nos impede de continuar na construção do caminhar ético.
A autora é acadêmica do curso de Direito.