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Olhe para dentro do balde

Foto: Divulgação

“Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já têm a forma do nosso corpo, e esquecer os caminhos que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia. E, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado a margem do caminho” – Anônimo. 

Seu Alberto, meu avô, nascido e criado na roça, tinha graduação 4º ano primário, máximo para a época e localidade que nunca quis abandonar, minha querida Ipiranga (PR). Não obstante a sua baixa escolaridade, era detentor de um conhecimento prático invejável. Percorria as vicissitudes da vida como ninguém e me ensinou quase tudo que sei, ou penso saber, sobre gestão. Sempre alegre, mas respeitoso e profundo em suas reflexões. Lembro como se fosse hoje o dia em que me ensinou sobre pró atividade, lição que marcou e marca a minha vida até hoje.

Era um final de almoço chuvoso lá na roça, após almoço, vovó e as meninas lavaram as louças (que machismo, risos) e nós, os homens estávamos a conversar. Para lavar a louça, sobre a pia havia um grande balde de alumínio, cuja tarefa de mantê-lo cheio era do meu avô, afinal fazer força, pegar o balde, ir até a casa do poço, recolher a água pelo sistema de manivela e trazer até a pia era serviço de homem.

Bem, disse meu avô, olhe para o balde em cima da pia, é meu dever manter cheio. Olhando daqui, não sei se ainda há água para a próxima empreita (assim ele sempre se referia as tarefas) ou se devo me coçar (outra forma que ele usava com frequência para designar o dever de cumprir seus deveres). Ora, disse-me ele, daqui não vejo, então se a prosa aqui na mesa está boa, ou então aquele velho quati me subir as costas (outro adágio que significa a famosa preguiça do pós-almoço), com certeza vou olhar para o balde e imaginar que cheio está, pois se a ele eu for e perceber que não está tão cheio, com certeza terei que tomar a atitude e me coçar. Assim, é mais fácil e cômodo imaginar o balde cheio do que ir até ele e saber a verdade. Assim também, continuou ele, acontece na roça, se eu for até ela pode ser que encontre trechos que devo capinar, mas se olhar de longe, posso fazer imaginar que está tudo bem.

Esse era o meu avô. Até hoje quando deparo com agrônomos vigiando lavouras, ou então gestores de alta performance em campo, lembro-me do balde de água sobre a pia na casa de vovô. A decisão de levantar e olhar para dentro do balde é sempre nossa, e a diferença está apenas na boa e velha tecnologia TBC (tire a bunda da cadeira) e se coçar.

Assim são os números de um DRE, as notas de um balancete e os indicadores de uma gestão à vista e transparente. Mesmo que tudo à vista, é necessária a TBC e olhar para dentro do balde, (olhe os números). O caminho existe, vamos trilhar.

O autor é empresário com 30 anos de experiência em associativismo. Formado em Filosofia e Administração

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