O insistente balé saltitante dos lambaris na barragem do Lago de Olarias, que não deixa de ter sua beleza, é de fato a face visível de uma agonia, ou um problema ambiental decorrente da intervenção humana. Com a nova barragem, ou melhor, a frustrada tentativa de represar mais um tanto d’água do Arroio Olarias e, assim, criar o segundo lago, por ora serviu tão somente para impedir a piracema – a migração de determinadas espécies de peixes rio acima para a desova.
Os persistentes e infrutíferos saltos no local são inéditos, já que até o atual período de procriação dos lambaris tal barreira inexistia. Talvez sirva de alerta sobre a necessidade de se adequar o projeto, já que o que executado não vingou. Faz-se necessário, ao lado de uma barragem, o chamado canal da piracema (ou de desova), que artificialmente simula a corredeira natural. É um artifício essencial às espécies que buscam as nascentes, com águas mais oxigenadas para os seus ovos.
O esforço em subir os rios é fundamental para as espécies migratórias, pois libera hormônios que tornam os ovos mais férteis. Além disso, águas paradas favorecem os predadores, como pássaros e outros peixes. Caso contrário, com o tempo, não serão apenas os lambaris que se tornarão raridade por ali, pois há uma infinidade de pássaros e outras espécies de peixes que os têm como prato principal. E que também deixarão de compor a beleza do local.
As imagens são do repórter fotográfico Fábio Matavelli.