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Violência contra a mulher: Amor ainda está associado a posse

"Depois que descobri a gravidez, por algum motivo, começaram as agressões. Porém, toda a história, no dia seguinte, tem choro, pedido de perdão e promessas. Como eu sempre fui muito independente, não acreditava como uma mulher poderia cair nessa e eu cai". Este é mais um relatos de vários que ouvimos por aí sobre violência doméstica. Casos semelhantes têm se tornado cada vez mais comuns e ainda mais agravados.

O relato no início desta reportagem é de uma mulher (nome preservado), natural de Castro, região dos Campos Gerais e que hoje mora em Santa Catarina. Ela procurou o Jornal Diário dos Campos para relatar as agressões que vinha sofrendo. A última, inclusive, ocorreu no último domingo (10).

"Tínhamos poucos amigos, quando fomos morar em Santa Catarina, e isso fez com que a manipulação fosse a principal armadilha dele. Ele me falava que se também fosse embora, eu iria ficar sozinha com o meu bebê. Me chamava de gorda, feia, incompetente, chata e que ninguém gostava de mim. Não sei como, mas algo me fazia ficar muito presa a tudo isso", relatou.

A vítima relata que fez diversos boletins de ocorrência mas, por medo, não teve coragem de pedir a medida protetiva. "Tinha receio que o pai do meu filho fosse preso. Eu só pensava no meu bebê. Nos separamos e voltamos várias vezes. Quando eu resolvi mudar de cidade, ele me procurou novamente com a promessa de que iria mudar. Eu aceitei. Mas, após uma visita da mãe dele, as bebedeiras começaram e culminaram nas agressões verbais e, depois alguns dias, as agressões físicas. Chamei a polícia e tirei ele da minha casa novamente", ressaltou.

Agressões

O alto índice de agressões leva ao questionamento dos motivos que levam os homens a cometer violências como estas. Mesmo com a Lei Maria da Penha, a Lei do Feminicídio e as campanhas que alertam sobre a violência doméstica, por que ainda é muito comum crimes desta natureza?

A advogada Luana Márcia de Oliveira Billerbeck, professora do curso de Direito da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) e supervisora do Núcleo Maria da Penha (Numape), aponta que a questão da violência doméstica está ligada a uma questão cultural com o machismo como principal ingrediente.

"Esta questão da cultura machista trata-se, principalmente, de uma certa pressão para os homens e envolve situações muito fortes de que o amor está associado à posse e a feminilidade associada à submissão", aponta.

Luana, autora da tese de doutorado 'Subjetividades masculinas: identidades dos homens que praticaram violência doméstica e familiar no contexto do Paraná', entrevistou mais de 30 homens condenados pela Lei Maria da Penha e que participaram de grupos de reflexão para autores da violência doméstica.

"Podemos perceber que o ciúme é uma construção equivocada do amor. A mulher é vista como um objeto. Muitos homens não sabem trabalhar com uma possível traição e, aliado a isso, a sociedade exige do homem uma postura de virilidade", destaca.

Convivência e confiança

A delegada responsável pela Delegacia da Mulher de Ponta Grossa, Cláudia Krüger, destaca que a violência doméstica tem o fator de proximidade da vítima com o agressor.

"Essa convivência e a confiança com a vítima acaba por facilitar esse comportamento agressivo, pois não existe um distanciamento, em muitos casos. Esse fator também está muito aliado ao uso de álcool e outras drogas. São aspectos que ainda permeiam a cultura machista existente na sociedade", diz a delegada.

Relação abusiva

A delegada explica que um relacionamento abusivo ocorre a partir do momento em que a mulher se sente acuada e com medo por algum tipo de ameaça, grito ou agressão. "Ao detectar qualquer situação, é importante terminar a relação de uma vez. Pois, mesmo que ocorram demonstrações de arrependimento, as chances de se repetir são altas. O ser humano tem aquele perfil e dificilmente mudará", aponta Cláudia.

Denuncie

Patrulha Maria da Penha – 153
Central de Atendimento à Mulher – 180 (Governo Federal)
Emergência da Polícia Militar – 190
Delegacia da Mulher – 3309-1300
Juizado de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher – 3309-1774 e 3309-1686 *
(* Horário de atendimento das 12:00 às 17:00 horas)

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