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Variante Delta se aproxima de Ponta Grossa

Foto aérea de Ponta Grossa
Foto: Fábio Matavelli/Arquivo DC

Cinco casos da variante Delta estão confirmados em municípios quase vizinhos de Ponta Grossa. Três deles em Fernandes Pinheiro – a 60 quilômetros, um em Irati – a 80 quilômetros – e outro em Imbituva – a 55 quilômetros. Dois desses pacientes morreram. Já a principal cidade dos Campos Gerais, de 355 mil habitantes, ainda não teve episódios de contaminação pela variante indiana.

As confirmações partem do Laboratório Central do Estado do Paraná (Lacen-PR), responsável pela seleção e encaminhamento das amostras à Fiocruz, no Rio de Janeiro. O setor de saúde paranaense não detalha os casos suspeitos. Por isso não se tem confirmação se há possível presença da mutação do coronavírus em Ponta Grossa.

O Paraná é um dos estados brasileiros com mais casos. São 29 episódios e 12 óbitos. Esse número elevado de mortes, no entanto, não significa que a cepa seja mais mortal. O que se sabe é que ela é mais transmissível e pode desencadear nova onda de contaminação, sobretudo em quem não tomou a vacina.

Como forma de ampliar o mapeamento da variante, o Lacen-PR realiza protocolo diferenciado de triagem de RT-PCR em tempo real para detecção de variantes. São rastreadas 330 amostras semanais e as que apresentam ausência da detecção para a variante brasileira (P1), predominante no estado, são encaminhadas para sequenciamento genômico e confirmação pela Fiocruz.
Até o momento foram realizados 2.770 testes com 133 amostras suspeitas encaminhadas para a Fiocruz. Segundo a investigação, a P1 ainda é a mais ativa, presente em 95,63% das amostras avaliadas.
Perfil
Das cinco pessoas que contraíram a covid nas cidades da região, quatro tinham mais de 58 anos. O quinto infectado, de Imbituva, não teve a idade confirmada.

Os três casos de Fernandes Pinheiro não entraram em óbito. São pacientes que possuem vínculo epidemiológico: um homem de 58 anos, com comorbidades, que positivou em 25 de junho. Ele teve piora clínica, sendo encaminhado para internamento no dia 02 de julho em UTI, permanecendo por 27 dias. Nesta semana estava internado em enfermaria.

O segundo caso é de uma paciente feminina, 59 anos, com comorbidades. Foi diagnosticada com covid em 4 de julho, encaminhada para internamento em enfermaria na mesma data, recebeu alta em 11 de julho e permanece bem, segundo a Secretaria de Saúde.

O terceiro caso é de paciente masculino, 60 anos, com comorbidades. Ele apresentou sintomas gripais e teve RT-PCR positivo para covid em 06 de julho. O paciente teve piora clínica e internou em enfermaria no dia 7, recebendo alta em seis dias depois. Permanece bem.

O município ficou sabendo das suspeitas no dia 14. “Frente ao comunicado foi realizada investigação epidemiológica dos casos e rastreamento de todos os contatos. Juntamente com esses casos, outros pacientes residentes em Fernandes Pinheiro encontram-se em investigação para a variante delta e possuem vínculo epidemiológico com os primeiros casos, sendo possível afirmar a presença de transmissão comunitária local”, informa a nota da Secretaria Municipal. Os três pacientes confirmados possuíam somente a primeira dose de vacina contra a covid.

Irati

O paciente iratiense é homem, de 72 anos, que apresentava comorbidades. Ele foi internado em 25 de junho em unidade hospitalar de Curitiba, desenvolveu sintomas de covid cinco dias depois, apresentou piora clínica e então precisou de internamento em leito de enfermaria da Santa Casa de Irati. Piorou e foi levado para a UTI, onde morreu.

“Mais um paciente residente de Irati encontra-se em investigação para a variante delta, sendo que o mesmo possui vínculo epidemiológico com o primeiro caso. Seus contatos também estão sendo investigados, não sendo possível afirmar a presença de transmissão comunitária local”, diz a Secretaria de Saúde.

O paciente confirmado para a variante delta possuía esquema vacinal completo contra a covid. “Entretanto, possuía comorbidades graves – o que pode ter contribuído com a evolução desfavorável do caso. Todas as vacinas são seguras e eficazes, protegem a população contra as formas moderadas e graves, mas é importante salientar que nenhuma vacina protege 100%, e como sendo uma medida de controle coletiva, mesmo vacinado é necessário manter as medidas de prevenção”, completa.

Imbituva

O morador de Imbituva também entrou em óbito depois de ser contaminado pela variante indiana. A morte foi no início de julho. “A equipe de Epidemiologia, juntamente com a equipe de Monitoramento, fez o rastreamento dos contatos. Um segundo óbito está em investigação. Ele tem relação com o primeiro caso. Outras três pessoas que estão relacionadas a eles tiveram amostras encaminhadas ao Lacen-PR para investigação e aguardam resultado. Elas apresentaram sintomas leves e seguem em monitoramento”, informa o Município.

O que é a Delta?

Diante da crescente de casos e da aproximação com Ponta Grossa, a reportagem consultou a professora da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Elisângela Gueiber Montes, doutora em Ciências Farmacêuticas e especialista em Microbiologia e Imunologia, para responder cinco questões sobre a variante Delta.

Qual a diferença da variante Delta para as demais?

Alguns estudos apontam que a principal diferença entre a variante Delta e as demais está no maior potencial de contágio, sendo possível verificar que, enquanto a Alpha (B.1.1.7, responsável pelo primeiro surto no Reino Unido) teve aumento de 29% na transmissibilidade, a Delta chegou a 97% de aumento em relação ao vírus original. É possível dizer que, enquanto uma única pessoa infectada pode ter espalhado versões mais antigas do vírus para duas ou três outras, quando se trata da variante Delta, cada pessoa infectada pode espalhar o vírus para outras seis ou até oito. Trata-se, portanto, de uma variante mais rápida e eficaz no quesito transmissibilidade. Além dessa questão, existem mutações na Delta que permitem maior adaptação às nossas células e também maior capacidade de escapar da resposta imune.

Existe alguma diferença em relação a sintomas?
Em relação às diferenças de sintomas, os relatos médicos de países que estão passando por um aumento de casos relacionados à essa variante, apontam que os principais sinais e sintomas são febre, dor de cabeça, coriza e dor de garganta. Nesses relatos nota-se também, que nos casos há menor ocorrência de tosse e perda de paladar e olfato. Esse quadro pode ser confundido com um resfriado comum, o que acaba levando muitas pessoas a não procurarem atendimento e à possibilidade de contaminarem outras, sem saber que estão com covid. Desta forma, é importante realizar os testes de detecção, para estabelecer o diagnóstico o mais breve possível.

Já se percebeu alguma variação na questão de mortalidade?

Apesar do conhecimento estabelecido sobre a transmissibilidade, não existem evidências, até o momento, sobre uma maior ou menor mortalidade em relação a essa variante.

Ela tem atingido alguma faixa etária mais especificamente?

O que se pode verificar é que o maior número de infectados está entre o grupo de pessoas não vacinadas, o que faz com que pessoas mais jovens acabem sendo mais acometidas, já que a grande maioria dos programas de imunização priorizam a vacinação a partir dos idosos. Desta forma, esse perfil de contaminados, pode ter relação direta com a não imunização.

Em relação às vacinas, tem algo de concreto sobre o combate delas em relação à variante Delta?

Como existe uma evasão da variante Delta, em relação ao sistema imunológico, há uma queda importante na eficácia das vacinas quando se aplica apenas a primeira dose. Vários estudos estão sendo realizados no mundo, com diferentes imunizantes, avaliando suas eficácias frente à variante Delta, sendo que, em todos pode ser observada importante queda na resposta do sistema imune à uma única dose das vacinas, que têm duas doses preconizadas. No entanto, após a segunda dose, essa eficácia aumenta muito, levando a uma diminuição do risco de agravamento e mortalidade acima de 90%.

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