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“Temos que fazer o melhor e isso implica em medicações experimentais”, diz médico de Ponta Grossa

“Temos que fazer o melhor que podemos e isso implica no uso de medicamentos experimentais”, é o que afirma o médico pneumologista, Pedro Compasso ao explanar sobre as alternativas de medicamentos indicados para o tratamento da covid-19.

De acordo com o especialista, que atende no hospital Bom Jesus de Ponta Grossa, e no Super Dr. Saúde Integrada, mesmo que ainda não se tenham estudos científicos que comprovem a eficácia de medicamentos como a hidroxicloroquina e ivermectina no tratamento da doença, eles podem apresentar resultados benéficos se forem utilizados com cautela e mediante prescrição médica .

O pneumologista também destaca a importância de uma vacina que seja disponibilizada para toda a população gratuita e de fácil acesso. “O mundo precisa direcionar sua energia para salvar as pessoas. A vacina não trará a erradicação, mas a imunidade necessária pra que a população sobreviva”, destacou. Confira a entrevista completa abaixo.

Medicamentos

Uma série de indicações tem sido colocadas em pauta como o uso da hidroxoclorina, ivermetctina, entre outros. Todos estes têm sido indicados como uma forma de prevenção ou para amenizar os efeitos da covid-19, mesmo que não se tenham estudos científicos quanto a isso. O que o sr tem a nos dizer sobre estes medicamentos?

Estamos em um momento em que é difícil ter estudos que sejam robustos e confiáveis. Quando os medicamentos são lançados, os laboratórios investem em estudos da vida real, com grupos de pessoas. Uma parte desse grupo recebe a medicação que estamos testando e parte deles não recebe nenhum, ou recebe um placebo. E com base nos resultados, podemos aprovar ou não o seu uso.

Mas é absurdo pensarmos em fazer isso durante uma pandemia. Neste momento é impossível estudos que sejam feitos no tempo e nas condições ideais.

Os governos estaduais, municipais, federais permitem o ato médico para que esses medicamentos sejam prescritos. Portanto, esses medicamentos de fato não são comprovados em ensaios clínicos e não têm sua eficácia comprovada. Mas na medicina nós emprestamos medicamentos que foram benéficos para uma situação e que podem apresentar um bom resultado em outra.

Quando falamos de usarmos a cloroquina e a ivermectina na prevenção ou no tratamento precoce do coronavírus eles podem sim ter benefício, só não sabemos o grau desse benefício e se a eficiência será no sentido para que as pessoas não fiquem doentes. A nossa preocupação é salvar vidas e se isso implica emprestar remédios para outras doenças, então é o melhor que podemos fazer.

Recomendação

O senhor já utilizou ou recomendou estes medicamentos aos pacientes?

Com certeza. Não acho muito saudável termos qualquer tipo de politização em relação à medicina e à ciência. Isso é um retrocesso, a ciência é baseada em evidências e deve ser respeitada como uma instituição milenar.

O ato médico é inviolável e define a autonomia do profissional e a sua capacidade técnica baseada na ciência. Então sim, temos feito uso deles na prescrição médica. A experimentação e a capacidade de prescrever é do médico. O médico conhece o seu paciente e o seu paciente confia no seu médico.

Temos que fazer o melhor que podemos e isso significa usar medicações experimentais. É um estudo de vida real no meio do problema em que estamos enfrentando. As pessoas estão recebendo o melhor que a medicina pode dar e todas essas terapias são de comum acordo entre o paciente e o médico.

Riscos da ivermectina

Diferentemente da cloroquina, a ivermectina não tem contraindicação, mesmo assim, é arriscado que as pessoas tomem por conta própria?

Até pouco tempo não se falava em cloroquina e não havia necessidade da sua prescrição. Da ivermectina é a mesma coisa. E em um dado momento eles entraram como medicações salvadoras e de fácil acesso à população. Nessa fase as pessoas precisam de esperança, mas é muito importante o ato médico prescritivo. Nem todo remédio fará efeito para todos ao mesmo tempo.

O fato da ivermectina ter provado que reduz a infecção viral não faz dela um remédio de livre escolha da população. As pessoas correm o risco de tomar a dose errada e ainda criar uma falsa sensação de segurança. Os efeitos deste medicamento se somam aos efeitos sociais, sanitários e aos efeitos das gestões públicas.

A soma desses efeitos é que pode se levar ao benefício. O que as pessoas não podem é criar o efeito rebanho e acabar com os remédios das farmácias. Tomar sem necessidade terapêutica e causar um efeito colateral indesejado.

A grande maioria das pessoas não vai ficar doente e não vai desenvolver a doença de forma grave. A doença tem uma baixa mortalidade, mas uma alta taxa de transmissão. E a nossa principal preocupação é com quem está com risco de morrer.

Vacinas

Uma universidade na Rússia concluiu a última fase da vacina contra a covid-19 e passará para a iniciativa privada em agosto. Estudos avançados nos EUA também estão desenvolvendo quatro tipos de vacina. Isso está tendo um avanço significativo. Qual a perspectiva que nós temos de uma vacina rápida, barata e eficaz no mercado?

Nós não vamos erradicar o coronavírus. O que temos de forma experimental pode sim trazer uma alternativa, porém, se houver a politização da vacina, muitos não vão tomar. Dependendo da campanha publicitária, as pessoas não vão tomar. Nós precisamos ter um estudo confiável de que está sendo desenvolvido de forma eficiente.

Mas se a vacina for somente para a iniciativa privada, poucos terão acesso. Mas de determinado governo produzir por suas instituições públicas ou comprar e distribuir para a população, com certeza a abrangência vai melhorar muito.

O mundo precisa direcionar a sua energia para salvar as pessoas. A vacina não trará a erradicação, mas a imunidade necessária para que a população sobreviva. Precisamos investir em mentalidade, em bom senso e mídias positivas para as campanhas de vacinação.

Panorama da doença

Em Ponta Grossa, logo no início, tivemos o comércio fechado e os gráficos mostraram que o município retardou o número de casos se comparados com outras regiões. Porém, agora já estamos com um número considerável. O sr, enquanto pneumologista, como avalia o quadro da situação em Ponta Grossa?

Para sabermos como está a situação no município, temos que levar em consideração a taxa de internamentos nos hospitais, o índice de óbitos, que em Ponta Grossa por sinal é muito pequeno, e considerar também o percentual de pacientes que se recuperaram.

A nossa cidade teve alguns grandes avanços. Todos os hospitais adotaram os mesmos protocolos e todos os pacientes foram orientados a procurar diretamente as unidades de saúde e a UPA para então serem encaminhados ao Hospital Universitário. Esse fluxo na cidade favoreceu que houvesse o diagnóstico e oferta de tratamento rápido.

Estamos chegando em um momento próximo em torno de 90% de ocupação de leitos voltados e serviços dedicados à covid-19. A taxa de ocupação permanece alta porque o período de ocupação é longo.

Parte dos nossos testes têm resultado que não representam a verdade, pois os resultados dependem do dia específico da coleta, anticorpos específicos e quantidade de secreção. Os testes não representam a verdade, pois não existe testagem em massa.

Já nos hospitais é um exército todo trabalhando para salvar vidas. Os heróis são aqueles que se arriscam em condições inadequadas para salvar a vida das pessoas e a eles o nosso respeito.

Picos da doença

O que temos visto é que em todo o país a doença tem um pico, depois um achatamento e depois um efeito rebote. O que seria possível fazer para evitarmos esse rebote?

Isso vai acontecer pois é o curso natural da doença. A covid-19 é uma doença nova que não temos recursos, estratégia, e nem imunidade adquirida. Isso varia muito e envolve uma série de elementos que vão se somar ao perfil da população e da região para entender se a doença vai se comportar da mesma forma. Cada local tem sua própria história e o que vai definir se vai evoluir é a soma desses efeitos. Por isso, não existe uma fórmula mágica para evitar que isso aconteça.

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