Há cerca de três meses uma alteração na lei de zoneamento de Ponta Grossa levantou uma discussão sobre a proteção do Distrito Industrial da cidade. A legislação vigente foi alterada para permitir que um residencial fosse construído dentro da área que abriga diversas fábricas o que, para entidades que representam o setor produtivo, limita o desenvolvimento industrial, a atração de novas empresas e a operação das já existentes. Desde então foi criada uma proposta que visa inibir esta mudança – e que será discutida nesta quarta-feira (9) pelo Conselho da Cidade.
Para que a situação seja explicada a reportagem do Diário dos Campos entrevistou, nesta terça-feira (8), Otto Ferreira, coordenador do Núcleo das Indústrias (NDI) da Associação Comercial, Industrial e Empresarial de Ponta Grossa (ACIPG), Leonardo Bernardi, representante da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), e Marcos Gueibel, coordenador da câmara técnica de indústria e comércio exterior do Conselho de Desenvolvimento Econômico de Ponta Grossa (CDEPG).
“O nosso distrito industrial foi fruto de um planejamento de lideranças da década de 70, que pensaram no afastamento do centro da cidade, proximidade com subestação de energia, rodovia, ferrovia e captação de água e até mesmo na área em que o vento levasse a poluição das chaminés para o outro lado”, explicou Bernardi, afirmando que tecnicamente a ideia de ter um residencial em meio à uma área industrial não é viável do ponto de vista técnico.
“A princípio seria uma grande ideia para uma pessoa leiga colocar pessoas morando ao lado dos seus empregos”, afirmou, sendo complementado por Ferreira: “Para entender, vamos inverter a situação: colocar uma indústria no centro da cidade ou no meio de um núcleo habitacional. Ela entra com carga pesada, movimentação de pessoas, filas de caminhões… como dormir e ter tranquilidade sonora 24 horas?”, ponderou o coordenador do NDI.
Os entrevistados também lembraram que, ao construir um residencial longe da cidade, surgiria a necessidade de investimento públicos de infraestrutura. “Seriam aproximadamente oitocentas moradias para levar água, esgoto, escolas, unidades de saúde, coleta de lixo, entre outros”, exemplificaram os três industriais.
Área
A área da qual trata o projeto é localizada atrás da cervejaria Heineken. “A preocupação não pode se restringir a essa área; agora é referente a ela, mas as indústrias de fora que nos procuram para se implantar aqui não olham apenas o Distrito Industrial, mas também as proximidades da DAF, Frísa e Ambev, e o Plano Diretor tem que contemplar todas elas”, ressaltou o dirigente da câmara ténica do CDEPG.
Desenvolvimento industrial
Os três representantes do setor destacaram que Ponta grossa possui alguns planos de desenvolvimento ligados à indústria – como tornar-se um centro logístico de distribuição devido à dua localização, por exemplo – que podem ser prejudicados devido à alteração na legislação de zoneamento.
“Não dá para estragar um projeto como um todo em benefício de um único empreendedor, isso afasta qualquer tipo de investimento”, disse Bernardi, referindo-se ao empreendimento residencial cotado para ser construído no local. Ferreira complementou afirmando que “não se pode ter ações ou leis que sejam dificultadoras de projetos de desenvolvimento”.
Segundo eles, a proposta é que alteração de zoneamento em regiões já industrializadas tenham que ser discutidas antes de ser implantadas – através de mais entidades, como com o CDEPG e o Codesi, por exemplo, e que seja criada a chamada zona de amortecimento, uma área ao redor das fábricas que impeça a construção de residências para, segundo eles, garantir a segurança tanto das empresas, quanto da população.