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Primeiros médicos da rede pública no enfrentamento da pandemia

Eles são os médicos mais antigos atuando na atenção primária de Ponta Grossa e enfrentando, pela primeira vez, em anos de carreira, uma situação inédita: a pandemia do novo coronavírus. Maurício Mayrinck Falcão, 69 anos, especialista em oncologia cirúrgica, e Adalberto Riccardo Baldanzi, de 66 anos, pós-graduado em pediatria, já presenciaram epidemias que atingiram o Brasil, como o sarampo e a caxumba, mas nunca algo tão grave e incerto como a covid-19.

Ambos já atuaram em unidades de saúde de Ponta Grossa, em bairros como Oficinas, Uvaranas e Centro da cidade, e hoje estão na linha de frente no atendimento de pacientes que dependem do Sistema Único de Saúde.

Desde 2019, o trabalho do médico Maurício concentra-se na aeronave do serviço aeromédico do Samu, atuando no resgate das vítimas de acidentes e transporte de pacientes graves para hospitais da região. Já Adalberto está, há mais de 20 anos, no ambulatório de seguimento do recém-nascido de risco do Hospital da Criança ajudando no crescimento e desenvolvimento das crianças.

Os dois profissionais se enquadram no grupo, de mais de 65 anos, com maior risco de contrair a covid-19, e estão afastados da rede pública desde abril. Maurício lamenta por não estar na linha de frente, neste momento conturbado, prestando atendimento à população.

“É um sentimento terrível e com a capacidade produtiva que temos é muito ruim por não estarmos trabalhando. Estou na linha de frente para socorrer as pessoas e estaria, com certeza, me sentindo útil neste momento”, apontou. Confira a entrevista completa com os especialistas.

“Com a capacidade produtiva que temos, é muito ruim não estarmos trabalhando”

Nascido em Pernambuco, Maurício Mayrinck Falcão, 69 anos, formou-se em 1975 na Universidade Federal de Pernambuco e depois seguiu para o Rio de Janeiro onde se especializou na área de Oncologia Cirúrgica. Foi no Rio de Janeiro que o profissional conheceu um colega do Paraná que indicou Ponta Grossa para que o especialista pudesse ingressar na profissão.

“Foi então que comecei a trabalhar como médico clínico na Prefeitura de Ponta Grossa, em 1979, e então passei por cerca de seis unidades de saúde como a unidade de saúde central, no Centro da cidade, e também em outros bairros como Vila Cipa, Oficinas, Maria Otília, São José e Vila Estrela. Em 1996, com a criação do Siate, atuei como médico socorrista e depois, em 2005, ingressei no Samu e segui com as unidades de saúde”, lembrou.

Desde 2019, Maurício atua no serviço aeromédico do Samu que realiza o transporte aéreo de vítimas de acidentes e transferência de pacientes graves para hospitais da região, mas segue afastado do seu posto desde o mês de abril, por estar dentro do grupo de risco da doença. Em meio a uma pandemia, o profissional lamenta não poder continuar atuando na linha de frente para salvar vidas neste momento.

“Cheguei a fazer uma declaração para a prefeitura alegando que eu não tenho nenhum tipo de doença grave e que eu gostaria de continuar trabalhando no helicóptero. É um sentimento terrível pois, com a capacidade produtiva que temos, é muito ruim não estarmos trabalhando. Estou na linha de frente para socorrer as vítimas e assim estaria me sentindo útil, mas sou obrigado a ficar em quarentena”, apontou o médico.

Com sua vasta experiência na área da medicina, Falcão se espanta ao dizer que nunca tinha visto uma pandemia de tamanha proporção. “Isso nunca existiu no Brasil, sabemos da Gripe Espanhola, da Gripe Asiática e tivemos diversos episódios do sarampo e da caxumba. Mas deste nível e extensão foi a primeira vez. E como é uma doença nova, que ainda não sabemos como funciona, não temos certeza de nada, inclusive da vacina, que ainda não nos dá a garantia de que dará imunidade”, disse.

O mais importante neste momento, segundo Maurício, é que as medidas preventivas, como o uso de máscaras e o distanciamento social, sejam seguidas. “Acredito que todos vão pegar a doença, mas que isso ocorra em espaços de tempo maiores, pois não tem leitos para todos. É fundamental evitar ao máximo as aglomerações. E Ponta Grossa está muito bem se compararmos com outras regiões, à exemplo de Pernambuco”.

Mesmo com o sentimento de incertezas, o profissional diz que o momento difícil vai passar. “Vai passar sim, mas ainda não sabemos por quanto tempo ainda vai se prolongar. Uma coisa é certa: o mundo já não é mais o mesmo que o ano passado. Há seis meses vivemos algo novo. São novos tempos, mas pesquisas importantes estão sendo feitas e acredito que teremos uma nova era daqui um tempo”, destacou.

Além do serviço aeromédico, Maurício Falcão é médico do trabalho da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) e da Cooperativa Frísia.

“São nas unidades de saúde que se praticam medidas de prevenção”

Formado em Curitiba, em 1979, pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) e pós-graduado em Pediatria pelo Hospital da Criança da PUC-PR, Adalberto Riccardo Baldanzi, de 66 anos, atua há mais de 20 anos no Ambulatório de Seguimento do Recém-Nascido de Risco do Hospital da Criança de Ponta Grossa, Antes, o profissional também atendeu em unidade de saúde no bairro de Oficinas. Para Adalberto, a pediatria é uma especialidade médica de forte cunho social, fator que o fez trabalhar nesta área na atenção primária.

“A nossa inserção neste segmento de atuação profissional é muito comum. São nas unidades de saúde que se praticam as medidas de prevenção muito caras na pediatria. É importante após o nascimento até os dois anos de vida monitorar o crescimento e desenvolvimento das crianças, vigiando do seu bem-estar físico, mental e nutricional, além de suas vacinas, o incentivo ao aleitamento materno e diagnósticos mais precoces de doenças que possam vir a prejudicar a saúde destas crianças”, destaca.

A pandemia, segundo o profissional, é enfrentada por ele com muita preocupação de ordem pessoal e familiar. “Tenho procurado manter a serenidade, seguindo as determinações preconizadas pelas entidades de classe e Organização Mundial da Saúde (OMS). A covid-19 é uma entidade nosológica nova e muita literatura se produziu nestes meses. Muitas lives foram feitas, com o intuito de atualizar o médico, de maneira que ele possa atuar com segurança no seu manejo”.

Além do Hospital da Criança, Adalberto também atuou, por cinco anos, no Hospital Universitário dos Campos Gerais, e hoje também atende na UTI neonatal da Santa Casa Misericórdia, onde participou efetivamente da sua criação, além de ser o médico responsável pelo Serviço de Neonatologia da Maternidade do Hospital Geral Unimed.

Com relação à pandemia, o especialista explica que em todos os hospitais em que atua foram adotados protocolos de manejo à covid-19 adaptando-se à realidade. “É um ato de cidadania e responsabilidade. No ambiente hospitalar, é fundamental o uso de EPI’s recomendados, além do distanciamento social, uso de máscara, higienização das mãos e evitando aglomerações. Outro ponto importante é que ao surgir sinais de piora do estado de saúde, é preciso procurar assistência médica”.

Neste momento difícil, Adalberto orienta que é necessário todos serem responsáveis uns pelos outros. “Devemos seguir as orientações das autoridades de saúde, dos profissionais médicos. Devemos ser humildes e solidários. Devemos ajudar os mais necessitados da forma que cada um puder. Neste momento, o melhor lugar deste mundo é a nossa casa junto das pessoas que amamos”, destacou.

Para Adalberto, a vacina contra o coronavírus é a grande esperança para acabar com a pandemia. “Sem dúvidas, com a chegada da vacina, poderemos retomar a rotina que tínhamos antes da pandemia. Vejo que a prefeitura de Ponta Grossa atua em consonância com as orientações emanadas pelas autoridades de saúde. Sem motivação política, procurando promover ajustes de forma a proteger a população”, finalizou.

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