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Pandemia reduz denúncias de estupro contra crianças em Ponta Grossa

Por Luana Souza

A pandemia do novo coronavírus pode estar relacionada à queda de denúncias envolvendo crimes contra crianças e adolescentes. É o que concluem as autoridades diante dos números de ocorrências policiais registradas no Paraná e em Ponta Grossa.

Dados do Núcleo de Proteção à Criança e ao Adolescente (Nucria) apontam que nos meses de março, abril e maio de 2019 foram instaurados 34 inquéritos policiais para investigar possíveis situações de estupros de vulneráveis na cidade. Já neste ano, durante o mesmo o período, foram abertos 17 inquéritos para apurar este tipo de crime. Os números, obtidos ontem, levam em consideração o período pandêmico.

A realidade também se estende ao Paraná. Nesta semana, a secretaria estadual da Segurança Pública divulgou dados mostrando que o número de denúncias registradas relacionadas ao crime, por meio do Disque Denúncia 181, também teve queda durante o período de isolamento social.

Durante o tempo contabilizado, de 16 de março a 15 de abril deste ano, foram registradas no estado 129 denúncias pelo 181, sendo 25 de abandono, 28 de abuso/exploração sexual e 76 de violência.

Já durante no mesmo período do ano passado, foram registradas 144 denúncias de violência contra crianças e adolescentes, sendo 25 de abandono, 45 de abuso/exploração sexual e 74 de violência.

De acordo com a delegada responsável pelo Nucria – Ponta Grossa, Ana Paula Cunha Carvalho, a redução é uma junção de fatores que estão diretamente ligados à pandemia.

Entre os quais, segundo ela, estão a suspensão das aulas. “As escolas são um canal importante de denúncias. Muitas vezes, a criança procurava a escola para contar algum abuso que vinha sofrendo em casa. E isso não está ocorrendo por conta da suspensão das aulas”, lembra.

Continua a delegada, estendendo a análise ao Paraná como um todo: “Ocorre que, mesmo esses crimes tendo prioridade, muitas pessoas têm medo de sair de casa e ir até uma delegacia para registrar uma denúncia grave como esta. Além disso, temos funcionários que estão afastados porque se encontram nos grupos de risco. Por isso, é uma série de fatores que justificam esta queda”.

Outro fator apontado por Ana Paula se dá em relação às investigações de casos de abusos recentes. “Estamos dando uma ênfase maior aos crimes mais recentes, ou seja, quando a denúncia aponta que o abuso ocorreu há poucas semanas, por exemplo. Casos como esses estão sendo priorizados neste momento”.

Riscos e pandemia

Devido às medidas de isolamento social pela covid-19, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e a Organização Mundial da Saúde (OMS) alertam que as crianças e os adolescentes estão mais expostos às situações de violência física, sexual e psicológica devido ao aumento das tensões domiciliares.

Por outro lado, a delegada Ana Paula diz que, em muitos dos casos de abuso, as crianças ficavam sozinhas em casa com o abusador. “Isso hoje não acontece, porque têm mais pessoas na casa e os casos de abusos ocorrem longe dos olhos de testemunhas ou quando a mãe está no trabalho, por exemplo, e a criança fica sozinha em casa com o abusador”, ressalta.

De qualquer forma, a diretora de Vigilância em Saúde da Secretaria de Estado da Saúde, Maria Goretti David Lopes, alerta que em tempos de distanciamento social é preciso estar atento para garantir os direitos da criança e do adolescente.

“É fundamental desenvolver ações e estratégias de proteção direcionadas para o enfrentamento da violência sexual infanto-juvenil, visando à garantia do pleno desenvolvimento das crianças e adolescentes de forma digna, saudável e protegida, livres do abuso e da exploração sexual”, disse.

O secretário da Segurança Pública, Romulo Marinho Soares, ressalta a importância da denúncia. “A queda no número de denúncias não significa apenas queda no índice do crime. Pode ser também que a população está denunciando menos. Para nós, é de extrema importância a denúncia, para que possamos agir como força de segurança”, observa.

 

 

 

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