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O Estar em Ponta Grossa faz falta?

(Foto: Arquivo DC)

Ponta Grossa está há um mês sem o sistema de estacionamento rotativo – o Estar. E o que mudou na rotina da população? O senso comum leva a pensar apenas na questão de organização do trânsito, mas vai além. Diferentes setores sentem o impacto da ‘novela’ que envolve a administração municipal e a empresa Cidatec, responsável pelo aplicativo Estar Digital. Alguns dos mais afetados são os empresários dos estacionamentos particulares, que estimam perdas entre 20% e 50%.

A reportagem do DC consultou seis empresas em diferentes pontos da cidade e todas são unânimes em apontar prejuízos desde que a Prefeitura suspendeu o Estar por conta da investigação do Gaeco que prendeu sete pessoas em dezembro. Entre elas, três sócios da Cidatec.

“O melhor lucro vem em dezembro, com a época festiva, mas janeiro caiu muito. Tínhamos 30 mensalistas e perdemos ao menos cinco deles. A gente até consegue repor, mas esses eram clientes fixos”, comenta um gerente que preferiu não se identificar. Segundo ele, que trabalha em uma empresa com mais de uma unidade no Centro, o principal lucro é oriundo justamente dos clientes mensalistas, o que foi mais afetado desde a suspensão do Estar.

O setor também é unânime em dizer que as perdas ocorrem desde o início da pandemia e que a falta da rotatividade trouxe uma redução a mais. É o caso de João Ricardo Paz, que há pouco tempo locou um espaço para implementação de estacionamento. Os principais clientes dele eram funcionários de uma agência bancária.

“Eu tinha 15 clientes que são funcionários da agência. Agora tenho três. No total perdi 60% de mensalistas e tivemos corte de convênio. Agora o pessoal está deixando o carro na rua. O nosso prejuízo em janeiro chega perto de 40%”, expõe.

Na opinião do empresário, a ausência do Estar significa perda de recursos tanto para o município quanto para o setor. Ele é favorável à retomada dos blocos de papel, os quais considera mais em conta.

Faz diferença?

A reportagem também ouviu usuários das vagas de Estar em Ponta Grossa. Danilo Schleder, por exemplo, é motorista de aplicativo há dois meses e sentiu diferença no número de clientes desde a suspensão.

“Tenho menos corridas porque as pessoas estão vindo de carro para o Centro agora”, relata. Nas ruas mais movimentadas dos bairros, a sensação de dificuldade é semelhante para motoristas.

“Quando preciso fazer algo está ruim, pois não tem lugar para estacionar o carro. O povo vai trabalhar de carro e deixa lá o dia todo. Tá um caos”, expõe Alex Bueno, que trafega pelas regiões da Regional de Saúde (Estrela), do Hospital Bom Jesus (Nova Rússia) e na Avenida Visconde de Mauá (Oficinas).

Em contrapartida, Bhya Zarpellon sente comodidade sem o Estar. “Não ter que sair do trabalho a cada 2h para trocar de vaga, não ser multada e tudo mais, está ótimo para mim. Eu trabalho na XV de Novembro e acho vaga facilmente”, afirma. O conforto também vale para o bolso. Pouco antes da suspensão, ela chegou a gastar R$ 71,65 em um único mês com os serviços do Estar. Se a média se mantivesse, alcançaria quase R$ 860,00 em um ano.

Outro trabalhador da região central, que não se identificou, acredita que não houve mudanças significativas para encontrar vagas. Contudo, ele observa que há menos fiscalização no trânsito de modo geral desde a suspensão. “Há pessoas não idosas estacionando em vagas de idosos e também um caso bem específico: na Comendador Miró, onde ficavam vagas de estacionamento e virou 3ª faixa, a pintura antiga voltou a aparecer e vários carros têm estacionado ali”, aponta.

Quando volta?

A prefeita Elizabeth Schmidt anunciou, ontem (28), que o sistema de estacionamento regulamentado será reativado já na próxima quarta-feira, dia 3 de fevereiro. A empresa contratada para fornecer esse serviço, a Cidatec Tecnologia e Sistema, anunciou que “em respeito ao município de Ponta Grossa” acatará a notificação da Prefeitura e retomará a prestação do serviço, reativando o software Estar Digital até o final do contrato, o que acontece em 31 de março.

Em documento encaminhado à Prefeitura, a Cidatec informa ainda que nesse período a empresa “abdicará dos valores relacionados à prestação de serviços até o término da vigência contratual, ou seja, não cobrará mensalmente os valores previstos no contrato, até que findem as investigações no judiciário”.

De acordo com a prefeita Elizabeth Schmidt, a volta do estacionamento regulamentado é essencial para a reorganização do tráfego e do estacionamento na região central da cidade. “Na próxima semana muitas escolas particulares irão retomar as aulas presenciais, e por isso os cuidados com o aumento no fluxo de automóveis e veículos de carga devem ser redobrados. Já determinei à Autarquia Municipal de Trânsito e Transportes (AMTT) especial atenção para esse ponto”, explica a chefe do Executivo, que também apontou a importância da retomada do Estar Digital para o comércio.

O presidente da AMTT, Celso Cieslak, por sua vez, informou que a equipe técnica do órgão está se preparando para uma reunião com a Cidatec para a operacionalização do serviço até quarta-feira.

Ponta Grossa tem mais de 26 mil bloquinhos em estoque

A Autarquia Municipal de Trânsito e Transporte (AMTT), por meio do coordenador de transportes João Rodrigo Pontes, sugeriu no final do ano passado a retomada provisória dos blocos de papel e afirmou em documento que o município estoca mais de 26 mil bloquinhos.

“Deve-se levar em consideração ainda que temos em estoque um total de 26.540 blocos de 2 horas, estes, remanescentes da ultima licitação de compra datada de 2015”. O pedido foi encaminhado em 17 de dezembro. Dois dias após a deflagração da Operação Saturno.

O então prefeito Marcelo Rangel (PSDB) , através da Procuradoria, aceitou apenas a suspensão do sistema digital, mas não acatou a retomada dos tradicionais bloquinhos.

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