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“Mulher nenhuma merece ser agredida”

Com um sorriso no rosto, ela recebeu a equipe de reportagem do DC na sua casa, na manhã de sexta-feira (10). Com um ar de paz, ela alega que o que a define hoje é a liberdade de poder sair de casa sem medo. Este texto vai contar um pouco da história de vida de uma mulher, nome preservado, vítima de violência doméstica por 12 anos, mas que conseguiu enfrentar e seguir em frente.

 

Daniel Calvo
“Hoje eu posso abrir as janelas da minha casa, abrir a porta e saber que estou livre”

 

Estuprada aos sete anos por um familiar, ela carrega consigo lembranças da infância que ficarão marcadas para sempre. Como se não bastasse o primeiro trauma, aos 10 anos foi vítima de abuso sexual pelo então patrão da sua mãe. As explorações, mantidas em segredo, se estenderam até os seus 14 anos, quando conheceu o seu ex-marido.

O que pareceria ser a saída para superar os medos e lembranças ruins, tornou-se algo muito pior e que durou por mais de 10 anos. “Fui morar com ele (ex-marido) aos 18 anos. Mas posso dizer que o meu casamento durou apenas oito meses. Tudo desmoronou quando ele chegou bêbado em casa e agindo de forma agressiva. Fiquei tão nervosa que o meu filho nasceu prematuro”, relata.

Desde então, os seus dias não foram mais os mesmos. Agressões constantes e abusos sexuais a fizeram ficar trancada dentro de casa por medo e insegurança. “Eu acordava à noite com ele tentando me matar, segurando o meu pescoço e tentando me asfixiar. Aliado a isso, existiam os socos, chutes e puxões de cabelo”.

Abusos sexuais também eram constantes dentro da própria casa e com os filhos pequenos. “Era obrigada a manter relações. Caso não fizesse, ele falava que eu tinha outro na rua. Quando o meu filho tinha dois anosdesenvolvi síndrome do pânico. Fui parar no hospital, mas nunca tive coragem de falar para ninguém o motivo”, lembra.

O medo

Na época, sem trabalhar e com dois filhos pequenos, ela resolveu manter os abusos e agressões de maneira silenciosa. “Nunca falei para a minha família. Eu não tinha estudo, não trabalhava e a roupa que eu usava era sempre a mesma. Era uma calça de moletom, chinelo e camiseta. Ficava o dia todo trancada em casa. O meu erro foi nunca ter dito nada”.

 

O fim

A última agressão e a mais grave de todas ocorreu em 2006 e ficou marcada pelo fim daquela trajetória de sofrimento silencioso. “Esta última agressão foi um estupro. Eu lembro que dormia com os meus filhos quando ele chegou chutando a porta. Fiquei preparada para o que iria acontecer”, diz.

“Ele me puxou pelos cabelos, me jogou no chão e, em seguida, me levou para fora da casa. Tirou a minha roupa e começou a me estuprar ao redor da casa. Eu gritava, pedia para ele me soltar, implorava por socorro. No dia seguinte, acordei toda marcada e machucada. Decidi que era hora de sair de casa”, relembra.

 

 

O recomeço

Com a ajuda da mãe, ela mudou-se com os filhos e conseguiu finalmente denunciá-lo. “Ele achava que eu nunca largaria dele. Mas eu fiz. Sofri muitas ameaças de morte, por vários meses. Mas, para a minha família, ele era um anjo e eu retirei a denúncia que eu havia feito, depois que muitos foram contra”.

Hoje ela voltou a estudar, faz diversos cursos, casou novamente com aquele que ela considera, antes de tudo, um amigo. Mas, o principal, é que ela está livre para viver. “Hoje eu posso abrir as janelas da minha casa, abrir a porta e saber que estou livre”.

 

Incentivo

O que ela mais quer é escrever um livro e ir pessoalmente conversar com mulheres que passaram pelo mesmo pesadelo. “A mulher não pode aceitar isso. Vão existir ameaças de todas as formas. Mas, mesmo assim, é necessário enfrentar tudo isso e denunciar”.

“Eu consegui me libertar depois que comecei a gostar de quem eu era. Ele falava que eu era feia e que não prestava para nada. Mas eu me valorizei e desenvolvi um amor próprio. Nenhuma mulher merece ser agredida”, finaliza.

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