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Mãe de menino autista ganha liberdade provisória

Imagem mostra 'quarto' onde Rômulo, de 19 anos, vivia. Foto: Divulgação / Polícia Civil

A mãe do jovem autista Rômulo Luiz Fernandes Borges ganhou a liberdade hoje em Ponta Grossa. Ela estava presa desde sexta-feira, dia que o jovem de 19 anos morreu em casa na Vila Liane. O pedido de liberdade provisória foi impetrado pelo advogado Roberto Corrêa e acatado pela justiça. Hoje a Polícia Civil voltou à casa do jovem com mandado de busca e apreensão, e encontraram vestígios que sugerem alteração na cena de morte.

De acordo com o delegado Luís Gustavo Timossi, que esteve no local com equipes do setor de homicídios e do Instituto de Criminalística, há itens importantes que estavam jogados no quintal de forma ‘atípica’. “Foram encontradas roupas e cobertas que acreditamos que eram as que verdadeiramente estavam sendo utilizadas pela vítima”, disse o delegado.

No dia da morte de Rômulo (sexta-feira), o delegado já havia decretado a prisão do casal mesmo ciente de que só o padrasto estava no local no momento em que o garoto morreu. Naquele dia, a Polícia Civil constatou que o menino autista era mantido em condições degradantes. Rômulo vivia em um quarto instalado em um banheiro desativado, com teto mofado, infiltrações, sem iluminação e sem condições de higiene, tendo sido relatado ainda que o jovem seria amordaçado quando tinha crises e fazia necessidades fisiológicas em um balde.

Teto do banheiro desativado em que Rômulo vivia. Foto: Divulgação / Polícia Civil

O jovem tinha hematomas no rosto e, segundo o padrasto, havia sofrido uma crise. O advogado da família disse se tratar de uma parada cardíaca. Já a Polícia Civil não acredita nessas versões. “A principal suspeita é que o local do crime foi adulterado antes do acionamento do SAMU, visando a prejudicar colheita de provas pelos órgãos policiais”, comenta o delegado.

Como ainda não houve divulgação do laudo de necropsia do IML, o casal está enquadrado na prática do crime de maus-tratos com resultado morte, cuja pena pode chegar a 12 anos de prisão. “Embora haja forte suspeita de que o jovem tenha sido assassinado por seu padrasto, há necessidade de aprofundamento das investigações”, disse Timossi após a prisão. No momento da morte de Rômulo, a mãe não estava na casa. Entretanto, a Polícia Civil acredita que ela sabia das agressões sofridas pelo menino e não teria atuado para proteger o filho.

Lutador de jiu-jitsu, padrasto tem antecedentes na polícia

O padrasto de Rômulo trabalha como vigilante, é lutador de jiu-jitsu em Ponta Grossa e esteve envolvido em uma situação de morte na cidade em 2019. Durante briga em frente a um condomínio em Uvaranas, o homem agrediu outro segurança. A vítima, Fabiano Martins de Oliveira, caiu e bateu a cabeça na calçada. Fabiano chegou a ser internado no Hospital Bom Jesus, mas não resistiu.

Em outra situação, houve registro de boletim de ocorrência contra o padrasto de Rômulo por violência doméstica. O ‘BO’ registra que o homem chegou em casa transtornado, quebrou objetos e empurrou a convivente e o enteado.

Maus-tratos contra animal de estimação

Durante o cumprimento de mandado de busca e apreensão, a Polícia Civil verificou que o casal tinha um cachorro que, de acordo com os vizinhos, teria sido atropelado recentemente, sem que o casal tutor tenha prestado cuidados necessários para sua recuperação. “Infelizmente o animal estava com uma fratura exposta e muito magro. Acionamos o resgate, que recolheu o animal para que os cuidados necessários fossem realizados. O casal deverá responder ainda por maus-tratos a animais”, comentou o delegado Timossi.

Fotos mostram condições da casa onde morava jovem autista
Animal estava com fratura exposta após atropelamento. (Foto: Polícia Civil)

Rômulo foi aluno da Aproaut

Rômulo Luiz Fernandes Borges foi atendido pela Associação de Proteção aos Autistas de Ponta Grossa (Aproaut) rotineiramente até 2018. Naquele ano, segundo a Polícia Civil, ele deixou de frequentar o centro especializado após a mãe ser confrontada por profissionais do local. Os trabalhadores perceberam que Rômulo apresentava lesões anormais pelo corpo. A partir deste episódio, ainda conforme a Polícia, o casal teria deixado de mandar Rômulo à Associação com a mesma frequência.

Pelas redes sociais, a Aproaut afirma que “todos os procedimentos cabíveis ao caso foram realizados e registrados ao longo do período de atendimento”. A Associação ainda informa que os registros foram apresentados aos órgãos competentes para providências. Segundo a Aproaut, o último comparecimento de Rômulo à instituição ocorreu em dezembro do ano passado.

“Lembraremos de Rômulo com muito carinho, com seu jeito meigo, carinhoso, olhar doce… gostava de estar conosco e foi muito amado por todos”, publicou a Associação. O corpo de Rômulo foi sepultado na tarde de ontem no Cemitério Vicentino, em Uvaranas.

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