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João Carneiro e o berço da cultura em Ponta Grossa

Foto: José Aldinan

Se alguém apanhasse um papel e esboçasse a fórmula para criar um artista, provavelmente traçaria algumas linhas que deram origem a João Carneiro. Nascido em 1956, ele se criou no Bairro de Olarias, e sua história parece confirmar uma afirmação sua: de que Olarias é o “berço da cultura de Ponta Grossa”.

Olarias e a cultura

Nas décadas de 1960 e 1970, o laranja das chaminés das olarias em contraste com o azul do céu e os verdes campos foram fonte de inspiração para o pintor. Mas não só isso. Em Olarias o campo se encontrava com o agito urbano. A poucos metros da casa de João estavam as Indústrias Klüppel, as Indústrias Wagner, e a movimentação das ferrovias. “Meu pai era mestre de pintura da rede [ferroviária]. Fazia reforma de letreiros. Eu morava na Rua dos Operários e ia encontrá-lo onde hoje é a biblioteca pública municipal”, diz, reconhecendo que existe uma curiosa sincronicidade entre aquele passado e a atual localização da biblioteca e do conservatório musical.

O bairro tinha o Dr. Tiago, que declamava poesias em velórios. Tinha duas escolas de samba. Odilon Wagner – mais tarde ator global – era da família das Indústrias Wagner. Herson Capri, que também seria ícone do cinema e televisão brasileira, vinha de São Paulo visitar os parentes e jogava futebol com João Carneiro nos fins de semana.

Os pais

A mãe de João, Dienna Migliorini, era italiana. O pai, também João Carneiro, era descendente de “bugre”. A mãe, nos nove meses em que esperava pelo nascimento de João, instintivamente passou a usar papéis de embrulho para desenhar. Mais tarde, o pai ajudava a fazer a tarefa de escola e fazia questão de explicar quem foram Picasso e Portinari, além de incentivar João a copiar quadros que comprava. Nesse contexto, aos 16 anos, João já tinha a música, o teatro, a pintura e muitas outras formas de arte gravitando ao seu redor.

Qual estilo?

Nos anos 1990, João ouviu fortes críticas de que não tinha estilo próprio. Isso se devia à sua versatilidade. “Eu pintava no campo no sábado. No meio da semana preparava exposição com materiais tirados do ferro velho. Em outro grupo – Os Contemporâneos – fazia exposição de abstratos. E, no Centro de Cultura, expunha uma visão contemporânea do tetracampeonato do Brasil na Copa do Mundo”, explica.

Assim, João se inspirou na mãe para buscar seu estilo próprio. “Cheguei na Gráfica Planeta e pedi folhas de papel de embrulho, nas quais trabalhei meu traço. Fiquei uns seis meses nessa pesquisa. Agora, nos 200 anos de Ponta Grossa, tenho publicado nas redes sociais que ‘a forma inicial do meu traço está intimamente ligada às paisagens dos Campos Gerais’, onde tudo lembra uma obra de arte, e também a essa minha trajetória desde a infância até hoje”, diz.

Novos rumos

Até os 28 anos, João Carneiro trabalhou em outros segmentos. Começou a se dedicar à pintura em 1976, quando casou e passou a trabalhar em estúdio. Ironicamente, o grande salto em seu trabalho foi decorrente de uma experiência ruim.

No final dos anos 1990, João teve seu primeiro – e talvez último – grande envolvimento na política. Apoiou, junto com vários outros artistas, um dos candidatos a prefeito. O candidato perdeu a eleição, e João perdeu a paz.

“Eu estava com a esposa e filhos assistindo ao [programa] ‘Jô Soares Onze e Meia’ e escutei o freio de mão de um carro. Abri a janela, e os caras ‘meteram bala’. Era um Escort branco, zero quilômetro. Eu sei quem mandou. Sei de onde veio. Dali a dois meses, fomos embora para Curitiba, para evitar problema”, recorda.

Curitiba

Na capital paranaense, ele participou de leilões e galerias de arte e começou a expor suas obras no Largo da Ordem. “Comecei a pintar em alta escala. Cheguei a vender 360 quadros em um ano”, recorda. Seus trabalhos foram para vários países da América, Europa e Ásia.

Portfólio

Além do abstrato, entre os temas que aborda em suas obras estão conceitos de ecologia e reciclagem, os cenários do campo e as paisagens marítimas. Atualmente, João Carneiro dá aulas de pintura na Pontifícia Universidade Católica (PUC-PR), no Núcleo de Aprendizado à Pessoa Idosa (NAPI). Realizou recentemente exposição em Castro e na sede do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná. Traz em seu currículo a passagem por 160 exposições e salões de arte.

Saiba mais sobre o artista AQUI

*Esse texto integra a participação do DC na Gincana Princesa em Festa, cumprindo a tarefa de contar e ilustrar a história de cinco ponta-grossense

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