Os efeitos econômicos da invasão russa à Ucrânia vão muito além do aumento dos combustíveis, o mais evidente reajuste que pesou no bolso dos brasileiros. Um exemplo é o preço do trigo, que disparou mundialmente e consequentemente provocou alta nos preços de alimentos básicos, como o macarrão e o “pão nosso de cada dia” – inclusive em Ponta Grossa, onde as variações chegaram a 8,63% e 21%, por exemplo.
E a tendẽncia não é positiva para a economia doméstica. O especialista na compra de trigo e processos do moinho ponta-grossense Herança Holandesa, Luis Henrique Alves, acredita que os preços do cereal só devem voltar a baixar no segundo semestre desde ano – e isso, na melhor das hipóteses.
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“Mesmo que a guerra termine hoje, os dois países estão fragilizados: a Ucrânia em termos logísticos e estruturais e a Rússia em relação às sanções de outros países, e leva um tempo até esta recuperação. Outro fator de peso são as eleições brasileiras deste ano, já que historicamente em anos eleitorais a cotação do dólar sobe, além da dependência de uma boa safra interna”, destaca ele.
Os fatores aos quais o especialista se refere têm a ver com o comércio mundial de trigo. De acordo com a Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias e Pães & Bolos Industrializados (Abimapi), juntas, a Rússia e a Ucrânia respondem por uma média de 30% das exportações mundiais de trigo. Com a queda da oferta destes dois países os preços sobem em todo o mundo – e o Brasil é afetado porque produz menos da metade do trigo consumido e precisa importar grandes quantidades do grão de outros países, sobretudo da Argentina.
Segundo a Abimapi, o preço da farinha de trigo representa: 70% do preço das massas 60% do preço de pães e bolos industrializados 30% do preço de bolachas e biscoitos |
Trigo já possui custos represados
O cenário é ainda pior devido ao fato de que o trigo já possui custos represados. Em Ponta Grossa, no Moinho Herança Holandesa a estimativa é de que ja há 30% de valor de repasse acumulado para a farinha – isso que no último mês as vendas tiveram um reajuste médio de 3%.
“O mercado não absorve repasses tão altos assim de um mês para o outro, então estamos buscando para as pŕoximas semanas um aumento médio na casa dos 7%, dependendo do tipo de farinha”, conta Alves. Segundo ele, só o último aumento no custo da matéria-prima teve um salto de 11%
Preços
Levantamento mensal dos preços oferecidos aos consumidores no varejo mostra que no Paraná o preço médio da farinha de trigo comum subiu 6,5% de janeiro para fevereiro deste ano e 15,1% no comparativo de fevereiro de 2022 com o mesmo mês do ano anterior.
Já no caso da farinha especial, a mais utilizada para a fabricação de pães, a diferença varia bastante de região para região. No caso da de Ponta Grossa, por exemplo, de janeiro para fevereiro o kg subiu de R$ 3,95 para R$ 4,71, uma alta de 19,2%.
Os dados são do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento (Seab).
Preço do pão tem alta de mais de 21% em PG e do macarrão sobe 8,6%
A invasão russa na Ucrânia iniciou no dia 24 de fevereiro. Pesquisa feita já na primeira semana de março mostra que em um mês o preço do macarrão saltou 8,63% em Ponta Grossa, o maior aumento dentre os alimentos em geral da cesta básica – excluindo-se apenas os hortifrutigranjeiros. O cálculo é do levantamento mensal do Núcleo de Economia Regional e Políticas Públicas da Universidade Estadual de Ponta Grossa (Nerepp-UEPG).
Já no caso do preço do pão, a alta ultrapassa 21% em alguns casos e o kg vai se aproximando da marca dos R$ 20. Em cinco grandes panificadoras contatadas pela reportagem do DC, por exemplo, os preços do kg do pão francês variam de R$ 13,90 a R$ 16,90.
“Nós fazemos compras semanais de trigo e sentimos o aumento de preço dele. Na segunda-feira passada tivemos que aumentar o pão em 12% e nesta mais 8%”, conta Rosiane Frankiw, gerente da panificadora Requinte, onde o kg do pão francês está sendo vendido por R$ 16.