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Fábrica de absorventes é inaugurada em Ponta Grossa

Foto: Divulgação/Aline Jasper/UEPG

Um novo ciclo. Para além do ciclo menstrual, que se renova a cada mês, um projeto de extensão lançado pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) vai levar um novo ciclo de dignidade e trabalho a mulheres privadas de liberdade na Cadeia Pública Hildebrando de Souza. A fábrica de absorventes femininos, inaugurada na manhã desta quarta-feira (26), é uma parceria entre a Universidade, Conselho da Comunidade e Polícia Penal do Paraná.

A estimativa é que aproximadamente 1,2 mil absorventes sejam produzidos por mês. Com a futura expansão da produção, comunidades vulneráveis também serão beneficiadas, ampliando o alcance social do projeto. O Conselho da Comunidade contribuiu com a máquina e os insumos.

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Na maior cadeia pública do Paraná, são cerca de 70 mulheres apenadas. Dentre as quatro selecionadas para atuar na produção dos absorventes, estava uma *mulher que viu no projeto uma oportunidade de “infinita importância. A partir do momento em que fui incluída neste projeto, passei a me sentir muito melhor no meu ambiente de reclusão”, agradece. Para ela, o trabalho é uma forma de minimizar a desigualdade social e os conflitos existenciais, além de ser uma nova chance de ajudar outras pessoas, mesmo estando privada de liberdade.

Pioneirismo

Essa é a primeira iniciativa de trabalho feminino para remissão de pena dentro do Hildebrando de Souza. A cada três dias trabalhados, os reeducandos podem abater um dia de suas penas. Além disso, a iniciativa permite ocupar o tempo e aprender ofícios importantes para a ressocialização e reintegração social. As trabalhadoras passaram por um treinamento para a produção e iniciam em julho a distribuição de kits de absorventes para as mulheres encarceradas no estado do Paraná.

É um projeto-piloto, pioneiro no combate à pobreza menstrual carcerária, que deve gerar frutos e ser replicado em outras unidades. A expectativa é de, no futuro, expandir a produção para também realizar doações para comunidades carentes.

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Para chegar até a inauguração da fábrica, foi necessário desenvolver testes, descobrir os melhores produtos e projetar materiais que agilizassem a produção. O professor Maurício Zadra Pacheco, do Departamento de Informática da UEPG, foi um dos envolvidos na confecção de um molde para o corte das peças, e reforçou que o envolvimento com causas tão diferentes de suas realidades sociais é importante para a formação dos alunos. De um grande retângulo de algodão, o absorvente passou por vários testes, até chegar a um formato anatômico, com alta absorção, posta à prova durante o evento de lançamento: um copo cheio de café, derramado sobre o produto de higiene, foi completamente absorvido.

A idealizadora do projeto, Isabella Danesi, viu a invisibilidade da mulher encarcerada. E a partir disso, teve um sonho: o de ressignificar o período em que elas ficam privadas de liberdade e trazer sentido a este tempo, ao mesmo tempo em que combate uma questão social importante, que é a pobreza menstrual. “Aprender uma atividade, vendo que é possível um novo ciclo de vida: essa é a importância. É trazer esse novo olhar e trazer uma luz, pensar no que é fora da penitenciária, no mundo lá fora, nas suas possibilidades, nessa questão da ressocialização”.

Os olhos marejados denunciavam que quem vai trabalhar ali sabe bem a necessidade de novos ciclos. “Assim como muitas outras mulheres que estão aqui, eu passei por uma dificuldade, creio que por uma desigualdade social latente, e posso hoje estar mais uma vez voltando à própria autoestima que eu tinha, ao estar praticando ações em benefício de outras”.

Comunidade carcerária

O coordenador do projeto, professor Rauli Gross Junior, é velho conhecido das ações em prol da comunidade carcerária. Para ele, o trabalho com as pessoas privadas de liberdade é um grande laboratório e uma oportunidade de entender questões de ordem social, saúde pública e o próprio funcionamento da sociedade e da humanidade. Olhar para as mulheres que estão neste ambiente, segundo o professor e advogado, deve ser uma prioridade. “As mulheres são abandonadas dentro do cárcere, não somente pelas famílias, mas também pelo próprio Estado, muitas vezes”, relata. “Desenvolver projetos como esse, em que a gente visa o empoderamento delas, melhorar a autoestima e mostrar para elas que elas têm um futuro, têm uma perspectiva de vida pós-cárcere, é muito gratificante e muito legal. Você vê as histórias que deram certo a partir desse momento e dessas ações”.

“Nós trabalhamos, dentro da Regional Administrativa de Ponta Grossa, sempre sob a perspectiva de oportunizar às pessoas privadas de liberdade opções para que sejam restauradas, para que possam mudar de vida efetivamente, para quando de seu reingresso social elas possam de alguma forma retornar melhor do que quando elas entraram aqui no sistema prisional”, comenta o diretor regional da Polícia Penal em Ponta Grossa, William Ribas. Além de promover o empoderamento feminino, projetos como esse também contribuem com a sociedade de certa forma, por meio de produtos confeccionados com a mão de obra de pessoas privadas de liberdade. “O objetivo é transformar as pessoas e criar um novo ciclo de vida para aquelas pessoas que estão aqui cumprindo as suas reprimendas judiciais, mas que são seres humanos e que precisam realmente de novas oportunidades, precisam estabelecer novos ciclos na vida deles, para que sejam inseridos efetivamente na sociedade”.

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