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Donos de vans escolares se reinventam na pandemia

Foto: Fábio Matavelli

Por Luana Souza – dcmais

Os bancos da van, que antes acomodavam crianças, precisaram ser retirados para dar espaço às caixas de frutas que Edson de Jesus Alves Rodrigues leva todos os dias, em diferentes pontos de Ponta Grossa, para serem vendidos. Com a suspensão das aulas presenciais, há dez meses, essa foi a alternativa de sobrevivência financeira encontrada pelo dono de duas vans, uma delas financiada.

Mas Edson Jesus não é o único microempresário do ramo que teve que se reinventar: Cleuza Correia, Tatiane Matos e Suzana Kovalski são outras personagens dessa história que conta com pelo menos 182 vans regularizadas – segundo o levantamento feito pela Autarquia Municipal de Trânsito e Transporte (AMTT) no início de 2020. O mercado estima que sejam 250 cadastradas e 50 clandestinas.

Edson de Jesus se dedicava ao transporte escolar há um ano, quando, de repente o desespero bateu à porta. “Veio a pandemia e a suspensão das aulas. Até julho de 2020 nós ainda recebíamos 50% dos pais, pois achávamos que iria durar poucos meses. Depois percebemos que não seria justo continuar cobrando. Foi aí que resolvi tirar os bancos das vans para sair vendendo e entregando frutas em estabelecimentos da cidade”.

Segundo ele, o lucro não é o mesmo que tinha antes, “mas é o que está nos ajudando a manter as despesas da casa, ainda mais com criança pequena”. O medo e a insegurança também fez Cleuza Correia, dona de quatro vans, sair da sua área de conforto. Ela arregaçar as mangas e correu atrás de outras atividades. A escolha foi fazer cursos de comida japonesa e a ofertar um delivery de sushis. Diferente de Edson, Cleuza não utiliza as vans para o novo trabalho. Enquanto isso, os veículos ganham poeira estacionados há meses na garagem da casa dela.

“Foi um momento muito difícil, pois trabalho com transporte escolar há 27 anos. Naquele momento difícil eu resolvi fazer cursos. Tenho feito sushis na minha casa e a entrega é através de delivery. Também tenho trabalhado com artesanatos. Mas as vans estão lá paradas e, com isso, a minha perda de lucro gira em torno de 80%”, destacou.

Consultoria

No caso de Tatiane Matos, que tem 12 vans e uma experiência de 15 anos com transporte escolar, deu lugar a consultorias em Administração de Empresas, sua área de formação universitária. “Comecei a fazer consultorias e o transporte de turismo para quem procurou. Também continuei prestando serviços para empresas transportando, no máximo, 50 trabalhadores. Mesmo assim, perdemos 80% do lucro”, disse, lamentando: “Tivemos que demitir funcionários e é muito triste ver as vans no pátio deteriorando”.

Já a alternativa encontrada por Suzana Kovalski, que trabalhava com transporte escolar há 21 anos, foi ‘ceder’ suas três vans para uma empresa que presta serviços de transporte para empresas. “Foi muito difícil ficar sem o ‘ganha pão’ do dia para a noite. Precisei pausar as mensalidades dos pais no mês de abril, pois eu sabia que não seria justo. Ainda tinha esperança que tudo seria normalizado três meses depois e estamos há quase dez meses nessa situação”, lembrou.

Nesse período, as contas começaram a atrasar. “Fui atrás do financiamento para paralisar as prestações da van. O banco até fez o refinanciamento, mas com juros muito altos. Não tivemos ajuda de nenhum governo. A nossa alternativa foi agregar as nossas vans com uma empresa que presta serviço de transporte para indústrias. Até apareceram em outubro algumas viagens para o turismo, mas ainda está muito fraco”.

Além dos quatro casos narrados aqui, a reportagem também ficou sabendo de motoristas de vans que passaram a vender docinhos ou a prestar serviços de entrega como uma forma de se reinventar neste período que, de uma forma ou de outra, deverá ficar marcado na vida de todos nós e na história da humanidade.

Recursos a juro zero são disponibilizados

De acordo com a Prefeitura de Ponta Grossa, alguns benefícios e auxílios foram disponibilizados para o setor de vans escolares durante a pandemia, entre eles, uma linha de crédito exclusiva para o transporte, com juro zero da Fomento Paraná. O programa Paraná Recupera Transportes, da Fomento Paraná, recebeu 45 solicitações até o dia 12 de janeiro de 2021, totalizando R$ 380 mil.

“Do total das operações, as que foram solicitadas a partir de 10 de novembro de 2020 até 12 de janeiro de 2021 – período já com o subsídio da Prefeitura de Ponta Grossa – resultou em oito operações: três concedidas, quatro em andamento e uma recusada, com valor total de R$ 55 milo”, informou a prefeitura.

“O Município buscou fazer essa linha de crédito específica justamente porque sabemos que foi um dos seguimentos mais afetados. Então fizemos um convênio específico com a Fomento PR para podermos subsidiar essa taxa de juro. Isso faz parte do nosso programa de recuperação econômica”, apontou Tônia Mansani, presidente da Agência de Fomento Econômico de Ponta Grossa (Afepon) e coordenadora da Sala do Empreendedor.

Dúvidas sobre funcionar na volta às aulas

Mesmo com o início do ano letivo, previsto para começar em 18 de fevereiro de forma híbrida, os motoristas de vans escolares ainda não sabem se irão retomar os trabalhos nestes primeiros meses.

Em todas as entrevistas, os transportadores informaram que não compensaria financeiramente voltar a rodar com apenas metade da capacidade dos lugares cobrando apenas um valor parcial dos pais. Todos alegaram que preferem esperar os próximos passos e decisões do governo estadual e municipal para tomar qualquer tipo de decisão.

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