No ano marcado pelo início da pandemia do novo coronavírus as dificuldades econômicas provocaram aumento na desigualdade social. Apesar dos índices positivos na geração de empregos e outros indicadores, pelo menos 1.719 ponta-grossenses entraram na linha de pobreza, somando 10.828 pessoas em toda a cidade – o correspondente a 1 a cada 32 habitantes. Em termos percentuais, esse aumento corresponde a 18,8% no período compreendido entre janeiro e dezembro de 2020.
Este número pode ser ainda maior porque considera apenas os beneficiários do Bolsa Família, programa de transferência direta de renda direcionado às famílias em situação de extrema pobreza (aquelas que têm renda mensal de até R$ 89 por pessoa) e àquelas em situação de pobreza (com renda mensal entre R$ 89,01 e R$ 178 por pessoa), mas, nesse caso, só recebem o auxílio as famílias que possuem em sua composição gestantes e crianças ou adolescentes entre 0 e 17 anos – ou seja, as que não possuem não entram nesta conta. Os dados são do Portal da Transparência do Governo Federal.
O aumento também é percebido quando avaliados os números totais: enquanto que em 2019 120.214 benefícios foram concedidos em Ponta Grossa, em 2020 o total cresceu 4.934, chegando a 125.148. Com o incremento, os R$ 19,81 milhões injetados na cidade em 2019 através do Bolsa Família se tornaram R$ 21,08 milhões no ano passado.
Renda baixa
Mesmo com o pagamento do Bolsa Família a renda daqueles que vivem em situação de pobreza ou extrema pobreza é baixa, principalmente comparada ao salário mínimo nacional (R$ 1.100). O benefício básico, concedido às famílias que têm renda mensal de até R$ 89 por pessoa, é de R$ 89 mensais.
O benefício variável, destinado às famílias com renda mensal de até R$ 178 por pessoa que tenham em sua composição gestantes, nutrizes (mães que amamentam) e/ou crianças e adolescentes de 0 a 15 anos, tem como valor R$ 41, sendo que cada família pode acumular até 5 benefícios por mês, chegando a R$ 205. No caso do benefício variável jovem, destinado às famílias com renda mensal de até R$ 178 por pessoa que tenham em sua composição adolescentes entre 16 e 17 anos, o valor mensal é R$ 48 e cada família pode acumular até dois benefícios, ou seja, R$ 96.
Há também o chamado Benefício para Superação da Extrema Pobreza, destinado àquelas que tenham renda mensal de até R$ 89 por pessoa. Nesse caso o valor do benefício varia em razão do cálculo realizado a partir da renda por pessoa da família e do benefício já recebido no programa.
Em dezembro o valor máximo do Bolsa Família pago a uma família ponta-grossense foi R$ 892 (23% a menos que o salário mínimo), já que a mesma possui oito dependentes.
Diminuição no poder de compra
Enquanto a pobreza cresce na cidade, o poder de compra diminui. Comparando o preço da cesta básica de janeiro de 2020 (R$ 524,12) com o do mesmo mês de 2021 (R$ 667,18) o aumento foi de R$ 143,06, 27,3% em pontos percentuais – índice 6 vezes maior que o da inflação, que fechou 2020 em 4,52% (IPCA/IBGE). Enquanto que no ano passado a compra dos produtos básicos representava cerca de 50% do salário mínimo vigente (R$ 1.045), 2021 iniciou com a cesta custando 63% da renda mínima brasileira (R$1.100).
Os dados são do Núcleo de Economia Regional e Políticas Públicas da Universidade Estadual de Ponta Grossa (Nerepp-UEPG).
Regras do Bolsa Família
Entre os requisitos necessários para receber o Bolsa Família estão, além de cadastros e aspectos burocráticos, manter em dia o cartão de vacinação das crianças de 0 a 7 anos, garantir frequência mínima de 85% na escola, para crianças e adolescentes de 6 a 15 anos, e de 75%, para adolescentes de 16 e 17 anos, e acompanhamento da saúde de mulheres na faixa de 14 a 44 anos e comparecimento às consultas de pré-natal, no caso de gestantes, entre outros.