Menu
em

Como a ‘gelada’ ‘esquenta’ a economia de Ponta Grossa

Cidade fecha o ciclo cervejeiro com participação em cada uma das etapas de produção, desde o campo até o copo

Foto: José Aldinan/Arquivo DC

À primeira vista, a cerveja remete a diversão para os apreciadores da bebida que entretém a humanidade há milhares de anos. Porém, em Ponta Grossa (PR), ela acumula outro significado: trabalho – e, consequentemente, renda.

A “gelada” “esquenta” a economia da maior cidade da região dos Campos Gerais, que está fechando o ciclo cervejeiro com participação em cada uma das etapas de produção da bebida.

No campo, cresce a cevada. Na indústria, primeiro o grão é transformado em malte e depois, com a adição de outros ingredientes, na cerveja. Depois disso, vai para o envase, em latas ou garrafas, que, por fim, são distribuídas.

Em todas essas fases Ponta Grossa já atua ou vai atuar em breve: possui plantações de cevada, está recebendo a construção de uma maltaria, conta com unidades de duas das maiores cervejarias do mundo e pequenas indústrias premiadas internacionalmente, sedia uma fábrica de latas e está prestes a receber duas fabricantes de garrafas – isso sem contar que é o maior entroncamento rodoferroviário do Sul do país, o que facilita, e muito, a sua logística de escoamento.

Riquezas

É difícil mensurar o quanto a produção cervejeira rende, em riquezas, para a cidade. Mas contando apenas com as duas cervejarias multinacionais – Heineken e Ambev – e com a fábrica de latas que opera na cidade – Crown – é possível ter uma ideia.

De acordo com dados repassados pela Secretaria Municipal da Fazenda, as três indústrias, juntas, renderam um valor adicionado (VA)* de R$ 2,17 bilhões em 2021 – último ano que teve dados atualizados.

Esse montante representa quase 30% do valor adicionado das indústrias da cidade – e olha que Ponta Grossa possui o maior parque industrial do interior do estado, com o VA do setor menor apenas que o de Araucária, Curitiba e São José dos Pinhais, da região metropolitana da capital.

O valor adicionado das três indústrias citadas também é responsável por R$ 1 a cada R$ 6 do total de Ponta Grossa – contando indústrias, comércio, serviços e produção primária.

No último ranking das maiores indústrias da cidade, revelado na premiação 40+ da prefeitura – que usa o VA como critério – a Heineken ocupou a 2ª posição, a Ambev a 3ª e a Crown a 7ª.

Empregos

Juntas, as grandes e micro cervejarias e a Crown geram cerca de 1.200 empregos formais na cidade, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) e informações repassadas pelas próprias empresas.

A tendência é que esse número aumente em breve; afinal, estão em construção a Maltaria Campos Gerais em Ponta Grossa, que deve criar pelo menos 100 empregos diretos e outros mil indiretos, e a fábrica de garrafas da Ambev na vizinha Carambeí, que estima a geração de mais 400 postos de trabalho diretos, quando em operação.

*O que é valor adicionado?

Conforme explica o secretário municipal da Fazenda, Cláudio Grokoviski, o valor adicionado é um mensurador de riquezas geradas que compõe o próprio PIB. “É a diferença do que a empresa comprou/utilizou na sua produção em relação à venda do seu produto. Ou seja, o lucro bruto desconsiderando os custos diretos e indiretos, como pessoal e transportes, por exemplo”, explica. “O valor adicionado é considerado o PIB das empresas geradoras de ICMS [Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços]”, complementa.

Ponta Grossa nas etapas da produção cervejeira

Segundo informações da Prefeitura, atualmente Ponta Grossa possui 16 fabricantes de cerveja e negociações em andamento com outras empresas que podem se instalar na cidade. “São empresas que abastecem as cervejarias e as indústrias menores (produção artesanal)”, explica a assessoria de imprensa da secretaria municipal de Indústria, Comércio e Qualificação Profissional.

Mas isso não é tudo, já que a região da cidade também é um polo de produção da matéria-prima da bebida e ainda conta – ou vai contar – com fábricas que fornecem embalagens para o envase da “gelada”.

A seguir, saiba mais sobre a participação de Ponta Grossa em cada etapa da produção cervejeira.

A cevada

A cerveja começa no campo, com o cultivo da cevada – o principal cereal usado na produção da bebida. Devido ao desenvolvimento do mercado produtivo local e, principalmente, da construção de uma maltaria na cidade, recentemente o grão se consolidou como a nova aposta dos produtores da região de Ponta Grossa.

Antes concentrada principalmente no núcleo regional de Guarapuava, agora um terço da colheita paranaense é proveniente dos Campos Gerais.

De acordo com a estimativa do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento (Seab), a produção regional do cereal cresceu 36% de 2021 para 2022, subindo de 77.650 toneladas para 105.932 toneladas. O resultado é bem superior ao de anos anteriores e representa o dobro do obtido há cinco anos, por exemplo.

A evolução anual foi causada pelo aumento de área produtiva, que saltou de 17.988 hectares em 2020 para 20.169 hectares em 2021 e para 29.255 hectares em 2022; ou seja, 62% em 3 anos.

Desenvolvimento técnico

O investimento – e aquecimento econômico – vem desde a base. “A produção de malte inicia bem antes da maltaria; começa na seleção da cultivar de cevada apropriada para a região. No caso da Maltaria Campos Gerais, contamos com o apoio de duas renomadas instituições de pesquisa, a Fundação ABC e a Fundação Agrária de Pesquisa Agropecuária (FAPA)”, destaca Vilmar Schüssler, responsável pelo projeto da maltaria.

“As duas instituições de pesquisa trabalham em conjunto para levar o melhor pacote tecnológico para os produtores de cevada e estes conseguirem ter uma boa rentabilidade com o cultivo. É na pesquisa e no campo que inicia toda a cadeia de produção do malte. Por isso que a região foi escolhida para a instalação da Maltaria Campos Gerais, por entendermos que ela tem grande aptidão agrícola para a cultura da cevada, além de trazer mais uma opção de cultura para os cooperados das Cooperativas que integram esse projeto”, complementa.

O malte

Ainda neste ano a cevada pode começar a ser transformada em malte em Ponta Grossa.

Isso porque a “Maltaria Campos Gerais” está sendo construída nas margens da PR-151, e deve somar um investimento de R$ 3 bilhões, dividido em duas fases. A primeira tem previsão de inauguração no segundo semestre de 2023 e a segunda em 2032.

Ela é fruto do trabalho conjunto de seis cooperativas – Frísia (Carambeí), Castrolanda (Castro), Capal (Arapoti), Bom Jesus (Lapa), Coopagrícola (Ponta Grossa) e Agrária (Guarapuava) – que já possui a maior maltaria da América Latina.

A estimativa é que a fábrica tenha uma produção de cerca de 240 mil toneladas de malte anualmente, volume que hoje corresponde a 15% do mercado nacional. Com isso, o potencial de plantio de cevada apenas dos Campos Gerais poderá se consolidar em 100 mil hectares por ano – mais que três vezes a área atual – e beneficiar mais de 12 mil cooperados.

O empreendimento ainda deve gerar pelo menos cem empregos diretos e outros mil indiretos e o faturamento esperado da fábrica de malte é de R$ 1 bilhão por ano.

“O projeto foi concebido para atender todas as exigências e especificações dos nossos clientes – cervejarias, destilarias e indústrias alimentícias. O malte que será produzido na Maltaria Campos Gerais é o malte Pilsen, um malte base usado para a fabricação de praticamente todas as cervejas do mundo. A produção de malte Pilsen representa mais de 95% do malte cervejeiro produzido no mundo”, explica Schüssler.

A cerveja

Considerando os ingredientes básicos da bebida, com o malte pronto, adiciona-se ele à água, lúpulo e leveduras para a produção da cerveja – que tem representantes gigantes em Ponta Grossa.

Ingredientes básicos da cerveja, apresentados na visitação da Ambev – Foto: Fábio Matavelli/Aqruivo DC

Heineken

Segundo a própria empresa, Ponta Grossa é a cidade que mais produz Heineken no Brasil. Além disso, a cervejaria local é a única que fabrica a Heineken 0.0, versão sem álcool da marca, e os kegs de Heineken, barris de 5 litros de chope instantâneo.

Além da “verdinha”, também são fabricados localmente os rótulos Sol e Amstel, tanto em latas, quanto em long necks e garrafas.

Nos últimos dois anos a cervejaria aplicou cerca de R$ 1 bilhão na unidade para dobrar a sua capacidade produtiva, totalizando, atualmente, a possibilidade de produzir até 3,1 milhões de litros de cerveja por dia.

Ambev

Já a Ambev produz em Ponta Grossa rótulos como Brahma, Brahma Chopp, Brahma Duplo Malte, Budweiser, Skol, Stella Artois, entre outras esporadicamente, nas embalagens desde 300 ml a 1 litro. “Ainda na região, são produzidos e exportados alguns dos rótulos para Paraguai, Chile, Equador e Uruguai”, explica a assessoria de imprensa da marca.

A capacidade produtiva da planta totaliza 1,874 milhão de litros por dia, sendo 1,86 milhão de litros de cerveja e 14,4 mil litros de chopp.

Entre as unidades da Ambev, Ponta Grossa é destaque em sustentabilidade: ela foi a primeira cervejaria carbono neutro da marca no Brasil. Segundo a empresa, anualmente são emitidas 9.700 toneladas de dióxido de carbono a menos a partir da planta – o equivalente a retirar 1.300 carros das ruas do Brasil.

Microcervejarias

Além das gigantes do setor, Ponta Grossa também conta com microcervejarias, que produzem, no total, mais de 200 mil litros por mês, movimentando o setor da indústria de pequeno porte.

Com foco na qualidade, elas acumulam diversos prêmios nacionais e internacionais, e agora vão investir, também, na sua base.

É o caso de um empreendimento conjunto da El Patron, Oak Bier e Bird Beer, que vão aplicar R$ 4 milhões em uma maltaria artesanal para abastecimento próprio – provando que com o desenvolvimento do setor cervejeiro de Ponta Grossa, mesmo quem é “micro” não é tão “micro” assim.

A lata

Saindo da produção da bebida e indo para o seu envase, uma das empresas que atende tanto a Heineken, quanto a Ambev, é a Crown – que fabrica latas de alumínio para bebidas e também possui uma unidade em Ponta Grossa.

Instalada na cidade desde 2011, a planta de 28 mil m² possui 204 colaboradores diretos e também tem como principais clientes o Grupo Petrópolis e a Coca-Cola.

Segundo a assessoria de imprensa da Crown, a sua produção local soma cerca de 2,4 bilhões de latas por ano – ou seja, uma volumosa média de 6,57 milhões de latas por dia.

A garrafa

Outra opção para o envase da cerveja são as garrafas de vidro – e a região de Ponta Grossa ainda não tem, mas em breve terá duas fabricantes da embalagem.

Ambev

Uma delas fica à margem da PR-151, já no perímetro da vizinha cidade de Carambeí, mas a 5 km da divisa de Ponta Grossa. Fruto de um investimento da Ambev, promete ser a maior fábrica de vidros do país – e sustentável. Isso porque a planta fabril terá foco na logística reversa, ou seja, na reciclagem de vidro para a produção das garrafas.

Inicialmente, serão produzidos os formatos long neck, 300 ml, 600 ml e 1 litro para diversos rótulos da empresa, como Brahma, Skol, Budweiser, Stella Artois, Becks e Spaten. A capacidade produtiva será de até 500 milhões de garrafas por ano, dependendo do tipo.

O investimento, de R$ 870 milhões, está gerando 1,5 mil empregos durante a obra e promete abrir até 400 postos diretos a partir do início da operação, previsto para 2025.

Owens-Illinois

Maior produtora de embalagens de vidro do mundo, a americana Owens-Illinois (O-I) também deve construir, em breve, uma fábrica de garrafas em Ponta Grossa. A marca já iniciou os processos burocráticos para a sua construção que, de acordo com informações apuradas pela reportagem do DC, ficará no Distrito Industrial.

Parceira da Heineken, a marca fabrica garrafas de cerveja, de vinho, de água, de outras bebidas alcoólicas e embalagens de vidro para alimentos – como de conserva, por exemplo.

Longa história

Ilustração da antiga fábrica Adriática – Imagem: Divulgação

Ponta Grossa e a produção cervejeira têm uma longa história juntas, iniciada ainda no século XIX. Em 1864 um alemão chamado Henrique Thielen veio ao principal município dos Campos Gerais para abrir uma filial de uma cervejaria curitibana pertencente a George Grossel.

Em 1906 ele comprou a empresa e a nomeou de Fábrica Adriática de Cervejas, que tornou-se a maior indústria da cidade. Misturando-se ao patrimônio cultural da cidade, em 1926 o filho de Henrique, Alberto Thielen, construiu a Mansão Vila Hilda. Em 1944 o controle acionário da Adriática passou para a Companhia Antarctica Paulista e a cervejaria funcionou até 1992, quando foi desativada – para, então, ser (re)inaugurada em 2015 agora com o nome “Ambev Adriática”.

Ferrete usado para marcar os engradados de madeira da Adriática – Foto: Divulgação

É possível conhecer essa história através da visitação guiada na fábrica da Ambev em Ponta Grossa, onde também são conhecidas todas as etapas produtivas da fabricação cervejeira. Para agendar, acesse o site visitaambev.com.br.

O DC já participou da atividade e fez uma reportagem sobre o assunto. Relembre: Um passeio para os amantes da cerveja: conheça a cervejaria Ambev

Participe do grupo e receba as principais notícias da sua região na palma da sua mão.

Entre no grupo Ao entrar você está ciente e de acordo com os termos de uso e privacidade do WhatsApp.
Sair da versão mobile