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Chefe da 3ª Regional aponta que covid ainda não atingiu pico na região e prevê dias difíceis; confira a entrevista

Com o aumento de casos de covid-19 nos municípios da região dos Campos Gerais, prefeituras municipais estão se reunindo para tomar decisões conjuntas para conter a doença em Ponta Grossa e cidades vizinhas.

Mesmo com o crescimento dos casos e do número de mortes, ainda não se pode afirmar que este é o pico da doença, conforme apontou o chefe da 3ª Regional de Saúde, Robson Xavier da Silva, em entrevista ao Jornal Diário dos Campos, na manhã de sexta-feira (26).

A entrevista abordou ainda a realidade dos casos de pessoas contaminadas nos municípios que compõem a 3ª Regional de Saúde, medidas de prevenção e atenção à saúde que estão sendo tomadas, além de contextualizar questões ligadas à desigualdade social no enfrentamento da covid-19. Confira a entrevista detalhada.

Robson, o governo do Estado fez um pedido para que as regionais de saúde tomem medidas conjuntas para a saúde relacionadas à pandemia. Nesta semana, você comentou que haveria uma reunião com prefeitos de 13 municípios da região para tratar desta questão. Com base neste assunto, gostaria de saber se foram tomadas estas medidas? Quais são elas? Ou para quando está prevista acontecer esta reunião?

Nós tivemos duas importantes reuniões nesta semana, a primeira foi com todos os promotores públicos da nossa região, mostrando ações que o Estado tem adotado e orientado os promotores nas decisões locais. A outra reunião é um encontro que temos realizado com frequência e de forma muito articulada como a que teremos nesta sexta (26) com todos os prefeitos da região de Ponta Grossa e regional de Telêmaco Borba.

Chegamos em um momento onde ocorreu um aumento exponencial da doença, já passamos de 650 casos na região, e agora é preciso tomarmos decisões em conjunto. O gestor municipal está muito interessado em resolver o seu problema e a sua decisão pode impactar no outro município também. Por isso, vamos nos reunir com prefeitos, de forma virtual, para direcionar algumas ações que podem ser tomadas em conjunto para o enfrentamento da pandemia na nossa região.

Com relação às mortes por covid-19 registradas pela 3ª Regional, sabemos que as mortes aqui da

região são menores se comparadas com as outras regionais do estado. Em todo caso, o que de fato está sendo feito para manter este bom nível?

O estado do Paraná tem dado atenção diferenciada no enfrentamento da pandemia. Desde o início, o governador Ratinho Jr. entendeu que ele deveria ser o grande articulador desse processo, articulando todas as secretarias de estado a desenvolverem ações específicas para atender os mais vulneráveis.

No setor saúde, olhando para o cenário nacional, estamos preparados com a evolução do número de casos na nossa região. O Paraná representa 5,6% da população nacional, mas o número de casos que temos no estado, segundo boletim de quinta-feira (25), eram cerca de 17,6 mil casos, representando 1,53% do total no Paraná. Então nós temos um número pequeno em relação aos demais estados.

Tudo isso é fruto de um trabalho que foi iniciado desde o início da pandemia. O governo do Estado tem monitorado com especialistas que orientam sobre as projeções do número de casos. Além disso, estamos acolhendo todas as pessoas que procuram atendimentos com sintomas. Elas são testadas e monitoradas e, ao menor sinal, já são direcionadas para serviços especializados.

O Estado também aumentou o número de testes PCR, onde podemos testar 5,6 mil pessoas por dia. Esse conjunto de estratégias foram fundamentais para alcançarmos esses resultados positivos.

Em sua avaliação, podemos dizer que chegamos ao pico da doença?

Eu acho que não, pois, infelizmente, ainda vemos muitas pessoas em aglomerações, realizando festas, atividades familiares e isso é um vetor enorme de possibilidade de contaminação pelo vírus e a evolução da doença está muito ligada ao comportamento social de cada um, considerando a evolução natural da doença. Acredito que ainda não chegamos ao pico, mas dias difíceis ainda vamos enfrentar.

Com a pandemia, houve a suspensão de cirurgias eletivas e atendimentos que estavam agendados. Já se tem uma ideia de como estes atendimentos serão retomados?

A não realização de procedimentos cirúrgicos e de consultas eletivas foi uma orientação do Ministério da Saúde e Secretaria de Estado da Saúde. A ideia era retiramos as pessoas de circulação na perspectiva de conter o avanço da doença, evitar a contaminação e também para a proteção de uma importante força de trabalho que são os profissionais de saúde.

O Hospital Universitário, que é nossa referência, recebeu mais de 120 pacientes hospitalizados, seja na UTI ou leitos clínicos, e cerca de 125% dos profissionais de saúde foram afastados com sintomas e isso causa um grande desgaste no sistema.

Então, naquele primeiro momento, foi acertada a diminuição dos atendimentos eletivos e a suspensão de cirurgias e consultas, mas desejamos que isso possa passar o mais rápido possível para que possamos reestabelecer o funcionamento do sistema de saúde.

O impacto das desigualdades sociais no enfrentamento à covid-19

Dados divulgados pela prefeitura de São Paulo, no segundo mês da pandemia, apontavam que a população negra tinha risco 62% maior de morte por covid-19 em relação aos brancos. Questões socioeconômicas e de saneamento básico influenciavam no percentual. Qual parece ser a situação na área da 3ª Regional de Saúde?

Questões socieconômicas estão tendo um impacto bem grande quando observamos que os estados, municípios e a união estão fazendo. As condições socioeconômicas são fundamentais para verificarmos os indicadores em saúde. No caso de São Paulo, em que os 10 bairros mais populosos têm um grande número de casos é onde a população negra está maior representada. Nós observamos nestes locais questões relacionadas à habitação, saneamento, segurança, acesso à educação e então sim, tem impactado muito a população negra.

Na história mais recente do Brasil, as cotas se mostraram um esforço por dar maior isonomia no tratamento de pessoas de diferentes raças. A realização da testagem para covid-19 vem estabelecendo prioridades: profissionais de saúde, de segurança, de transporte. É possível estabelecer cotas de testagem para negros, diante desse risco maior que, teoricamente, essa população corre?

A cota foi um elemento fundamental para que naquele momento se desconstruísse todo um modelo de estrutura social que se tinha até então. No Brasil, o estatuto das cotas e as políticas de ações afirmativas visam reparar históricas injustiças cometidas a um determinado grupo social. A lei 8.213/1991 já estabelecia cotas para pessoas portadoras de necessidades especiais.

A sociedade entendeu que determinado grupo não conseguiria ter acesso em virtude de sua condição desfavorável. E o estado instituiu por meio dessa lei cotas para que pessoas portadoras de necessidades pudessem ter acesso.

No que diz respeito à testagem da população negra, talvez não precisemos especificar testagens para a população negra. O que precisamos é garantir, nesse momento, e o Paraná já está fazendo isso, é aumentar a capacidade de testagem pelos testes rápidos. Nós estamos conseguindo testar todas as pessoas que buscam pelos serviços de sintomas.

No atendimento dos pacientes, o histórico de sua vida e aspectos sociais interfere em muito no tipo de tratamento que pode ser prescrito pelo médico. A cor de pele também influencia nessa análise durante as consultas? E no caso do monitoramento de pacientes negros com covid-19, isso ocorre? Por quê?

Essas configurações biológicas ou as condições socioeconômicas impactam sim e são determinantes em situação de saúde da população, não só dos negros, mas de forma geral.

Uma população altamente exposta à situação de desemprego, com precárias condições de trabalho é fruto das dese sociais. E nessa questão o profissional médico consegue enxergar o contexto e compete a ele dar a devida intervenção.

A solicitação de medicamentos que não têm na rede pública e a pessoa precisa comprar, a dificuldade de acessar serviços de maior complexidade. Toda essa conjuntura deve ser analisada para melhor intervir nas condições de saúde da população.

Artigo publicado em 2019, no portal Observatório da Imprensa, lança a seguinte frase: “a mídia é branca, de classe média, e fala para brancos, de classes média e alta”. Você concorda com isso, e como esse perfil de jornalismo pode refletir nos noticiários? A mídia acaba sendo racista?

Acho que a mídia tem papel importante em dar visibilidade a uma questão que nós precisamos olhar com mais seriedade para termos uma igualdade na sociedade brasileira.

Considerando que a maior parte dos médicos também é da cor branca, você acha que existe racismo no atendimento diário da medicina? Por quê?

O Ministério da Saúde, há mais de 10 anos, tem publicado boletins periódicos que tratam da saúde da população negra e esses estudos foram importantes para que diversas medidas fossem adotadas, alertando para essas questões.

Um dos dados do estudo chamava a atenção sobre o tempo médio de consulta destinado às pessoas brancas e negras e se constatou um percentual significativo de um tempo maior de consultas para brancos do que para negros.

Outro estudo apontava que um determinado número de consultas para as gestantes. E as mulheres negras, em boa medida, tinham um número de consultas pré-natal menor que as mulheres brancas. E isso se deve ao fato das dificuldades e a vulnerabilidade de mulheres negras saírem dos seus postos de trabalho para consultar por receio de perderem seus empregos.

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