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Benzedeiras mantêm tradição milenar de cura pela fé

"Quem benze, benze com o coração. E ele deve estar limpo para que os nossos problemas não sejam levados para as outras pessoas. Por isso, me preparo logo no início do dia com bastante oração. Foi assim que aprendi com a minha família". O relato no início desta reportagem é de Apolônia Lesniak Mance, 80 anos, e benzedeira há mais de 50.

Ela, juntamente com outras benzedeiras de Ponta Grossa, mantêm viva uma tradição milenar de curar pela fé. Desde os 12 anos, Apolônia ou apóstola de Jesus, como gosta de ser chamada, conta que já sabia que tinha o mesmo dom da sua tataravó para atender a comunidade e ajudar na cura de doenças.

"É uma tradição que vem de anos na minha família. Eu deixava de brincar quando era criança para ficar olhando e aprendendo as formas de benzimento. Minha avó e minha mãe me ensinaram e aos 30 anos que eu comecei atender as crianças", lembra ela.

Apolônia recorda que muitas orações e remédios naturais feitos por ela foram de ensinamentos trazidos por sua tataravó da Europa. "Aqui nós fazemos simpatias para bronquite, esporão, entre outras doenças. Eu faço um remédio muito fortificante também que é para anemia e desânimo. Esse é feito com 20 tipos de ervas e fica enterrado por nove dias. Ele ajuda a abrir o apetite também", comenta.

Por dia, são atendidas 25 crianças, e também adultos, em um espaço na casa da filha de Apolônia, que também ajuda a mãe a atender a comunidade. "Nós benzemos com fio e com a cera, feita de flores, e que tira toda o mal e inveja. Além de benzermos o ar com a queima da palha e o benzimento por oração", explica a apóstola.

Apolônia, 80 anos, é benzedeira há mais de 50 anos e conta a ajuda da filha, Célia. (Foto: José Aldinan)

Ensinamentos

A tradição das benzedeiras ainda se mantém e, para tornar os ensinamentos que aprendeu com a família, Apolônia ensinou tudo o que sabe para a filha Célia, e o neto, Júlio César.

"Eu não quero que isso pare e eu vi que eles estavam com vontade de aprender e resolvi ensiná-los. É preciso ter um dom e eles têm. Benzer é fazer o bem para os outros. Quando você que as coisas estão indo bem, temos ainda mais vontade de cuidar das pessoas", ressalta.

Quem também comemora é a filha, Célia Aparecida Mance, que diz ter o mesmo dom da mãe. "Percebi que tinha o mesmo dom quando uma vizinha chegou com a filha bebê desmaiada nos braços e pediu minha ajuda. Eu comecei a benzê-la e ela acordou", contou emocionada.

"Desde os meus 10 anos eu já atendia as pessoas que chegavam na casa da minha avó. Eu ficava sozinho e, quando alguém chegava, eu recebia e benzia. Hoje é muito gratificante poder ajudá-la e manter essa tradição", aponta o neto Júlio César Mance.

Exposição

Quem quiser conhecer mais sobre o trabalho das benzedeiras podem conferir uma galeria de fotos do projeto Benzedeiras de Ponta Grossa. As imagens estão expostas na Estação Arte, esquina da avenida Vicente Machado com a rua Benjamin Constant, das 9 às 17 horas.

“A exposição traz um tema que não é tão abordado no campo das artes, porém, temos visto que todo mundo que tem visitado a mostra já teve uma experiência com benzimento. As fotos trabalham muito com a questão da memória afetiva das pessoas”, relata a chefe da divisão de Artes Visuais da Fundação Municipal de Cultura, Mariângela Digiovanni

O projeto ‘Benzedeiras de Ponta Grossa’ teve início em fevereiro de 2016. A iniciativa, pensada e desenvolvida pela Fundação Municipal de Cultura, busca conhecer e resgatar a história de vida dessas personagens, com o intuito de divulgar a prática como elemento do patrimônio imaterial da cidade.

Em março de 2018, as benzedeiras receberam o Prêmio Guardiãs do Patrimônio Cultural de Ponta Grossa. Um mês depois foram homenageadas também pela Câmara de Vereadores.

Quem passou pela Estação Arte, na semana passada, foi atendido pelas benzedeiras. (Foto: José Aldinan)

Confira também em vídeo os relatos de Apolônia Lesnik Mance:

Imagens: José Aldinan

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