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Artigo: O nosso lago de Olarias

Por Elizabeth Weinhardt de Oliveira Scheffer*

 

Desde a década de 90, com a divulgação dos planos para a construção do Lago, aguardamos com expectativa o que agora, finalmente, começa a tomar forma, o primeiro lago e toda a infraestrutura da área de lazer do seu entorno sendo construída. Teremos enfim, o Lago de Olarias!

Os lagos, sejam eles naturais ou artificiais, são fontes de inspiração para artistas plásticos e poetas, são pano de fundo para belas fotos e costumam trazer a sensação de paz e tranquilidade. Assim será nosso lago, um espaço para embelezamento da região e para nossa contemplação.

Entretanto, à medida que o sonho se concretiza, surge a indagação sobre a qualidade da água que está sendo represada naquele local. A discussão foi levantada porque foram observadas pessoas pescando ou tomando banho no local. E, foi também, levado por esse questionamento, que o Grupo de Educação e Química Ambiental da UEPG, sob a minha coordenação e da professora Patrícia Los Weinert, com a participação de alunos de mestrado e de iniciação científica, realizou estudos durante o ano de 2018.

O grupo de pesquisa realizou 8 coletas de amostra de água em 4 pontos do lago, com auxílio do Corpo de Bombeiros para o uso de barco. Foram 18 parâmetros avaliados através de análises físico-químicas em laboratórios da UEPG e no próprio local com instrumentos portáteis, além de análises microbiológicas.

Os resultados obtidos foram comparados com a legislação vigente, no caso de águas superficiais, trata-se da Resolução CONAMA 357/2005, que traz uma classificação das águas de acordo com os parâmetros avaliados. São categorias expressas na legislação, que vão desde a Classe Especial a Classe 4, passando pelas Classes 1, 2, 3, cada uma relacionada com o uso adequado ou permitido para a água assim classificada. Assim, num corpo aquático Classe 1, por exemplo, é possível recreação com contato direto como nadar, é possível irrigar hortaliças, e também, pescar.

O Lago de Olarias, pode ser classificado, de acordo com as análises realizadas em 2018, como Classe 3 para a maioria dos parâmetros físico-químicos, mas Classe 4 conforme os parâmetros microbiológicos. E o que isso significa? Que nas atuais condições seu uso é adequado apenas para harmonização paisagística. Então, não se deve pescar ou tomar banho no Lago de Olarias, ele será o componente visual do Parque, onde outras atividades de lazer poderão ser desenvolvidas.

Do ponto de vista microbiológico, a água não possibilita atividades de contato primário. A água não é adequada para banho, pesca, ou qualquer atividade desportiva aquática. Os valores obtidos para coliformes termotolerantes estão, majoritariamente, superiores ao recomendado para águas Classe 3. Os arroios Olarias e da Vila Belém que aportam diretamente no Lago, contém alta carga orgânica, tornando a água do lago com concentrações acima da legislação para fósforo, nitrogênio e coliformes, e baixa concentração de oxigênio dissolvido, apenas para citar alguns parâmetros. Há indicações, portanto, que os arroios estejam recebendo em seu percurso, aporte de esgoto não tratado. É importante lembrar, que essa é a principal preocupação quanto à impactação para corpos aquáticos urbanos, e se estende a toda Bacia Hidrográfica.

Havendo matéria orgânica, há também nutrientes como nitrogênio e fósforo que aliados ao nível de água do lago, que não tem grande profundidade, podem trazer problemas de eutrofização e crescimento massivo de plantas aquáticas. A limpeza da vegetação que algumas vezes presenciamos naquele lago, realizada através de um pequeno barco, elimina momentaneamente apenas a consequência.

Se os nutrientes continuam chegando ao lago através dos arroios, o crescimento das plantas é uma consequência inevitável. Plantas aquáticas e eutrofização também trazem danos à função paisagística. Mesmo após o esvaziamento do Lago, que foi uma medida tomada visando obras de paisagismo, os problemas com a qualidade de água permanecerão, caso os Arroios que formam o lago continuem impactados, assim como toda a Bacia que precisa de ações efetivas de reparação ambiental.

A preocupação deve ser de todos, e não apenas na bacia em que se localiza o Lago. Se nossa casa está corretamente ligado. Sim! Porque há muitos casos em que o esgoto está ligado na rede pluvial, ou seja, na rede que coleta a água das chuvas. Nesse caso, o esgoto está indo diretamente, sem tratamento, aos rios. Em outras situações, ainda piores, esgotos correm em valetas a céu aberto, fato que pode estar relacionado a situações irregulares de moradia.

Por outro lado, à empresa que faz a coleta, cabe fiscalizar as ligações, estender a rede coletora e a cobertura de tratamento para o esgoto coletado. O poder público precisa preocupar-se com as moradias irregulares às margens dos arroios e rios, considerando a situação de vulnerabilidade a que estão expostos os moradores, visto as questões de enchentes e de doenças pela falta de saneamento. É de um somatório de ações que precisamos.

Acreditamos no esforço coletivo para a redução da impactação. E esperamos essas ações! Esperamos dar continuidade com as coletas e análises da água do Lago, e a razão para isso seria acompanhar mudanças na qualidade trazidas por ações que ataquem o principal problema que é a questão da coleta e tratamento do esgoto em toda a Bacia.

Certamente, o paisagismo do entorno trará um grande número de pessoas ao local, e assim, mesmo que o Lago de Olarias tenha apenas função de contemplação, manter a qualidade da água faz parte da responsabilidade com um ambiente seguro para a população.

 

*Elizabeth Weinhardt de Oliveira Scheffer

Doutora em química. Professora e Pesquisadora da UEPG

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