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“A minha vida é como um jogo de xadrez: pensar antes de agir”

Alexandre Aracema, acabou de completar 105 anos, no dia 3 de dezembro, recebeu a reportagem do Jornal Diário dos Campos em sua casa, construída por ele mesmo em 1947, para contar sobre a sua trajetória profissional em Ponta Grossa enquanto cirurgião-dentista, professor de anatomia e vereador por quatro legislaturas consecutivas.

Torcedor do Operário Ferroviário, desde criança, Aracema recebeu a equipe do DC sentado em sua poltrona na sala, na companhia de uma das filhas, Liria, e utilizando o boné do seu time preferido.

Em conversa com a reportagem, destacou a importância de cada escolha que tomou para seguir uma carreira exemplar, destacando ainda a família que formou – quatro filhos, nove netos e 11 bisnetos -, além do amor pela esposa Emília Voigt Aracema, falecida há sete anos. Confira na reportagem abaixo.

Aos 105 anos, Alexandre Aracema conversou com a reportagem do DC sobre sua vida pessoal e profissional. (Foto: José Aldinan)

Profissão

Aracema formou-se no curso de Odontologia na Universidade Federal do Paraná em 1942 e, desde então, atuou como cirurgião-dentista até o ano de 1971. A escolha pela profissão se deu pelo apoio de Egon Roskamp, também dentista, que o incentivou a ingressar no curso naquela época.

Escolhi ser dentista de forma natural e o dentista que morava na frente da minha casa, Egon Roskamp, me ajudou muito nesta escolha.

Quando eu era jovem, comecei a trabalhar na casa da família dele. Ele me explicou como limpar o jardim, cortar a grama e dar banho no cachorro. Como precisava de trabalho, eu aceitei, pois não sabia fazer outra coisa.

O Egon Roskamp foi gostando do meu trabalho e da minha disposição e um dia me perguntou se eu gostaria de ser dentista como ele. Eu disse que sim. E então ele me impôs certas condições para assumir tal profissão como ‘não roubar, não mentir, não fumar, não beber e não matar’. Como achei que essas coisas eram fáceis de cumprir, eu aceitei e fui estudar em Curitiba.

A minha vida toda foi assim com esse lema e hoje eu vejo que tudo isso ajudou na pessoa que eu fui e na boa saúde que eu tenho hoje“.

Professor de Anatomia

Aracema também foi professor na então Faculdade Estadual de Farmácia e Odontologia, que mais tarde passou a se chamar Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), na qualidade de professor instrutor de ensino superior nas disciplinas de Anatomia e Anatomia Buco-dental, onde lecionou por 29 anos.

Sempre falava com os meus alunos e os orientava sobre algumas decisões que tomamos na vida e que podem prejudicar a saúde. Isso eu utilizei muito na disciplina de Anatomia. Os jovens, principalmente, não sabem porque criam certas condições desfavoráveis à saúde“.

Vereador

Alexandre também cumpriu o seu papel enquanto vereador de Ponta Grossa por quatro legislaturas consecutivas, desde 1963 a 1983. Durante os 20 anos em que esteve como vereador, foi eleito presidente da Câmara dos Vereadores por duas vezes. No dia 4 de maio de 1976, assumiu ainda o cargo de prefeito municipal em virtude do licenciamento do titular durante 10 dias.

O que exigiam muito de nós enquanto vereador era atender aquilo que o munícipe precisava. Sempre procurava os órgãos competentes e jamais prometia coisas que não poderiam ser cumpridas.

Sempre procurava o Executivo para a sua participação direta e me sentia honrado por ser um representante do povo de Ponta Grossa. Não recebia nada em troca disso, somente os parabéns.

Hoje eu acho que eu não tinha condições de fazer o trabalho que hoje é realizado“.

Operário Ferroviário

Um amor pelo Operário Ferroviário que carrega desde criança, Alexandre fez questão de contar como era assistir aos jogos enquanto ainda não havia gramado para as disputas.

Lembro do Operário desde muito pequeno e, naquela época, não tinha grama, não tinha nada. Como era muito longe da minha casa, nós tínhamos que dar um jeito de ir. Então eu e meus amigos pegávamos um trem. Como não tínhamos dinheiro, sempre encontrávamos um jeito de sair sem pagar” [risos]

Para entrar no campo, a gente ia nos banheiros para fingir fazer pipi e saia de lá como se tivesse pago a entrada. Em muitas ocasiões foi assim. Eu nunca deixei de torcer para o Operário e até hoje eu sofro quando o ele  não vai bem“.

Xadrez

Por falar em esportes, Alexandre fez parte da Associação Ponta-grossense de Xadrez onde participou de diversos torneios entre as décadas de 1940 a 1950. Também foi membro ativo do Departamento de Tênis do Clube Ponta Lagoa onde criou o circuito Ponta-grossense de Tênis e instituiu o troféu ‘Alexandre Aracema’ para que sempre fosse considerado o amigo do tênis.

Mas foi pelo xadrez que tirou uma grande lição para a sua vida toda.

O xadrez não devia de ser chamado jogo. Ele deveria ser uma disciplina ou ser considerado uma filosofia. Pois, peça trocada é peça jogada. Isso significa que temos que refletir muito bem no momento de pegar a peça para fazer o lance.

Então eu também encaixei muito bem isso na minha vida. Sempre pensei antes de fazer as coisas. A maioria dos jovens de hoje cometem os atos e não refletem as consequências. Então é preciso pensar muito na vida antes de tomar as decisões. Assim como acontece com o xadrez“.

Conselho aos jovens

Alexandre aproveitou a entrevista com o DC para aconselhar os jovens de hoje a seguir o mesmo lema que resolveu adotar em sua vida.

Quando eu comecei a trabalhar, eu também era muito jovem. Mas hoje eu vejo que a minha saúde talvez foi condicionada ao meu lema de ‘não roubar, não beber, não fumar e não matar’ e foi com base nisso que eu conservei a minha saúde. E acredito que os jovens devem seguir isso também.

Hoje estou na presença de vocês e é uma grande satisfação porque eu estou vivo. O meu jeitão é esse que vocês estão vendo. Estamos em um papo direto. Não posso me queixar de saúde. Só tenho um desgaste natural e, por isso, não posso correr a São Silvestre“. [brincou]

Família

A entrevista ao DC terminou com uma pergunta que deixou Aracema mais emocionado. Quem foi dona Emília?

Ela tinha 13 anos quando começamos a namorar, mas não era um namoro como são os de hoje, de pegar na mão, porque a sogra não deixava. Ela era uma menina. O meu sogro Carlos falava que tinha um marmanjo rodeando ela. E esse marmanjo era eu. Eu me me dava mais com a família dela do que com ela.

Quando casamos ela tinha 22 anos. Mas o fato é que foi um longo namoro e me sentia honrado por ter um namoro assim.

Eu comecei pela família e depois normalmente surgiu o namoro com a minha esposa. Foi uma época muito boa. Ela foi a única namorada que eu tive. A minha esposa fez muita falta depois do seu falecimento“.

Homenagens

Alexandre Aracema fez questão de mostrar aos repórteres que guarda em um dos cômodos da sua casa diversos títulos e homenagens que recebeu por sua dedicação à profissão em Ponta Grossa

Em julho de 2007, recebeu o título de Cidadão Benemérito da Câmara Municipal de Ponta Grossa. Em novembro de 2014, recebeu em reunião festiva do Lyons Pitangui o título de Mérito Leonístico Pitangui.

Em 16 de outubro, durante o 20° Congresso Internacional de Odontologia recebeu uma homenagem especial marcada pela frase ‘Ao grande mestre pela sua dedicação e sabedoria. Sua história de vida muito nos orgulha”.

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