Depois de matar a companheira Natiely Oliveira dos Santos, de 28 anos, com uma facada no pescoço e, arrependido, ligar para familiares dizendo que havia cometido “uma grande besteira”, Jean Francisco dos Santos, 28, tirou a própria vida de forma também violenta, saltando do alto de uma torre de energia perto da rodovia PR 151, em Ponta Grossa.
O homicídio ocorreu no município de Reserva na manhã de domingo (29) durante uma discussão do casal e o corpo de Natiely foi encontrado no banheiro da residência. Já o suicídio foi cometido a cerca de 2 km do trevo de acesso a Guaraji, distrito rural de Ponta Grossa, onde também estava o carro da mulher, usado na fuga. O corpo dele só foi localizado à noite. Quando telefonou à família, ele disse que estava longe da cidade.
De acordo com a delegada Sandra Nepomuceno, titular da Delegacia de Polícia Civil de Reserva, o casal estava morando junto há cerca de um mês. “Não existia registro de violência doméstica, porém testemunhas afirmaram que Jean era bastante ciumento e que o motivo da discussão teria sido por ciúmes”, disse. Segundo ela, a briga do casal teria ocorrido por volta das 10h30.
A delegada que preside o inquérito contou que “Natiely teria se irritado e pegou uma faca. Ele tirou a faca das mãos dela e cravou no pescoço da vítima”. Durante a briga, Jean teria empurrado a companheira e ela caiu, batendo no vidro do box do banheiro, que espatifou. Ele cortou os pés nos cacos. As marcas de sangue na torre sugerem que ele tirou a própria vida pouco tempo depois.
Portas travadas
Equipes da Polícia Militar foram acionadas por volta das 20 horas, depois de receber informações que o Ford Fiesta de Natiely havia sido visto parado perto do trevo de Guaragi. Lá, os policiais constataram que o carro estava trancado e ao realizar buscas no entorno se depararam com o corpo do suspeito no chão. Ele foi encaminhado ao IML de Ponta Grossa e passou por necrópsia.
O corpo de Jean não apresentava lesões aparentes, apenas alguns ferimentos nas pernas e nos pés em decorrência da briga no banheiro. Diante do cenário, o delegado Maurício Souza da Luz, da 13ª Subdivisão Policial (SDP), já passou a considerar a hipótese de suicídio e uma das suposições era envenenamento, já que as lesões aparentes não seriam fatais.
Mas no início da tarde de ontem a delegada Sandra Nepomuceno foi informada pelo IML que as causas da morte de Jean foram decorrentes de uma queda. “O corpo estava enrijecido, uma das características do envenenamento, mas novas informações apontam que ele se jogou de uma antena próxima da rodovia. Por mais que ele não estivesse com ferimentos aparentes, estava com os ossos quebrados. Também foi encontrado sangue de suas pegadas nesta torre”, destacou.
Pautado para registrar um detalhe das pegadas de Jean na torre, o repórter fotográfico do Diário dos Campos, Fábio Matavelli, foi ao local e retornou à Redação com a chave do Fiesta de Natiely, encontrada no gramado à beira da rodovia. Ela foi recolhida com um graveto, colocada em um saquinho plástico e entregue à 13ª SDP. A torre fica a uns 30 metros do asfalto.
Cidade comovida
O crime chocou a cidade de 30 mil habitantes, que fica a cerca de 100 quilômetros de Ponta Grossa. Nas redes sociais, foram inúmeras manifestações de pesar. Natiely, que havia feito 28 anos no dia 5 de julho, era bastante conhecida, pois trabalhava como caixa no maior supermercado de Reserva. Ela deixou uma filha de 10 anos, que passou o final de semana com o pai e não estava em casa no domingo.
O supermercado Lobascz de Reserva emitiu uma nota lamentando a morte da jovem: “A equipe do supermercado Lobascz lamenta profundamente o falecimento da colaboradora Natiely. Nossos sinceros sentimentos a seus familiares e amigos. Que Deus os conforte nesse momento difícil”. O sepultamento ocorreu na manhã de ontem no cemitério Imbu, em Reserva.
Mistério desde 2012
Jean Francisco dos Santos perdeu a primeira esposa em circunstâncias nebulosas e que, mais de oito anos depois, ainda não foram esclarecidas. O corpo da jovem foi encontrado carbonizado em uma mata no município de Reserva, em 2012. Ele foi investigado, mas o crime não foi selecionado e não houve, até o momento, nenhuma denuncia à Justiça.