O que deve ser feito para que a região volte a crescer no mesmo ritmo pré-pandemia e como os Campos Gerais estão contribuindo para a retomada econômica do Paraná? A reportagem do Diário dos Campos fez esta pergunta para três líderes de instituições que representam e trabalham com todos os setores da economia: Darci Piana, vice-governador do estado e presidente da Fecomércio-PR, Carlos Valter Martins Pedro, presidente da Fiep, e Luiz Fernando Garcia, diretor-presidente da Portos do Paraná.
O consenso entre eles é de que Ponta Grossa e os municípios do seu entorno têm papeis importantes na recuperação econômica do estado como um todo justamente por serem fortes nas duas atividades que foram menos afetadas pelas medidas de combate à contaminação do novo coronavírus: a agricultura e a indústria.
Por outro lado, apesar de ter sido uma das regiões que, comparada a outras, menos sofreu com os impactos negativos da crise, mesmo assim os Campos Gerais acumulam perdas, e por isso os gestores também avaliam quais as áreas que devem receber uma atenção especial para que voltem a prosperar – entre elas, estão o comércio, os serviços, o turismo e a fabricação de produtos de madeira. Confira, a seguir, a análise cada um deles.
Piana aponta a geração de empregos como foco principal
Para o vice-governador do estado e presidente da Fecomércio-PR, Darci Piana, a retomada da economia se dá pela geração de empregos. “Quem tem emprego consegue sustentar a família e gastar no comércio, no turismo e nos serviços, o que faz a roda da economia girar”, aponta o gestor público, que é graduado em Economia.
Segundo ele, o plano que está sendo feito pelo governo estadual se baseia em uma série de segmentos da economia como um todo. “Os investimentos que o Estado pode fazer são sempre colocados onde se dará o maior volume de mão de obra. Alguns exemplos são a infraestrutura, rodovias, reformas de escolas… Precisamos fazer com que as pessoas mantenham seus empregos e aquelas que perderam, consigam novos”, afirma Piana.
Comércio
O presidente da Fecomércio lembra que o varejo da região de Ponta Grossa foi o que menos sofreu neste ano – segundo pesquisa da Federação, no primeiro semestre a queda nas vendas locais foi de 4,77%, porcentagem que chega a 20,09% em Maringá, região mais afetada.
“Se não tivermos uma recaída da pandemia – como na Europa, que abriu tudo e sofreu, por exemplo – em dezembro devemos ter um mês muito melhor do que a gente está tendo, pois ele sempre foi o melhor mês doa o para o comércio. A expectativa é de um crescimento razoável”, prevê Darci Piana, que também destaca a importância da atualização dos empresários para se manterem competitivos no mercado de vendas: “Até pouco tempo o e-commerce representava 7% das vendas brasileiras. Nesse período já chegamos a 10% e podemos alcançar 12% no final do ano, o que representa muito dinheiro que não sai mais do balcão e não vai para quem fica esperando o cliente entrar na loja”.
Serviços e turismo
Conforme lembra o gestor, assim como o comércio, os serviços também acumulam demissões na região – de acordo com o Ministério da Economia os dois setores, juntos, extinguiram 1,5 mil vagas de emprego neste ano, apenas em Ponta Grossa. “Muitas pessoas perderam os seus empregos, principalmente nas áreas mais afetadas. A hotelaria, por exemplo, está há quantos meses sem hóspedes! E ela não puxa apenas o serviço do hotel, mas dos seus fornecedores, de quem faz o café, entrega os ovos e demais alimentos, faz lavagem de roupa, cuida do carro de quem viaja, táxi que leva de um lado a outro, restaurantes que sofrem com a falta de circulação de gente…”, exemplifica.
“A região dos Campos Gerais tem o turismo de negócios muito forte, mas também pode ser ser puxada pelo lazer com o Parque Vila Velha e o aeroporto”, destaca Piana, ressaltando o desenvolvimento do ecoturismo e do turismo regional, de pequenas distâncias, como alternativa à impossibilidade de viagens de grandes distâncias e diminuição da oferta de voos.
Agroindústria
O vice-governador paranaense destaca a força do agronegócio e da indústria nos Campos Gerais, citando as duas atividades como uma base econômica forte. “A diversificação das fábricas ponta-grossenses e a centralização da agricultura e pecuária nas cidades da região resultam em uma economia sólida e que permite o mantimento da renda”, diz.
“O agronegócio cresceu durante a pandemia, as cooperativas fomentam o setor, empresas de leite e suínos se destacam e os mercados externos continuam sendo compradores, o que permitiu que a região tenha um diferencial em relação às outras do estado”, aponta Piana, contando já está sendo vendida a produção até da safra de 2022.
“Além disso, há indústrias projetando investimentos, outras se instalando na cidade – como a Tatra Trucks –, algumas ampliando, como o Madero, e fortes marcas mundiais, como a Heineken e a Ambev, que com a chegada do verão aumentam suas vendas – tudo isso rende uma grande perspectiva de crescimento”, conclui ele.
“90% da nossa exportação é do agronegócio e a região tem essa força”, relata Garcia
O IBGE divulgou nesta semana o balanço do PIB brasileiro do segundo trimestre do ano; segundo o estudo, o agronegócio foi o único setor que cresceu tanto no comparativo com o trimestre anterior, quando com o mesmo período do ano passado. “Quando se fala em agronegócio falamos não apenas da produção rural, mas de toda a cadeia – de ponta a ponta”, avalia o diretor-presidente da Portos do Paraná, Luiz Fernando Garcia.
Para o gestor, o agronegócio é fundamental e sustenta a economia brasileira – inclusive durante a pandemia, justamente pelos resultados positivos do setor em meio à crise instalada nas outras atividades. “É a força do Agro que impulsiona o desenvolvimento, a performance e os nossos resultados”, destaca.
Quase 90% de tudo que é exportado pelos portos de Antonina e Parangauá são produtos do agronegócio, do campo ou indústria – e, dentro deste cenário, a região tem um papel fundamental. “Especificamente quando falamos apenas dos grãos movimentados pelo Corredor de Exportação – soja, milho e farelo – cerca de 13% vem dos municípios dos Campos Gerais do Estado. O percentual demonstra a importância da região para a retomada da economia, pela força do Agronegócio”, analisa Garcia.
“Campos Gerais têm papel importante na recuperação econômica do estado”, diz Carlos Valter
Na opinião de Carlos Valter Martins Pedro, presidente da Fiep, a incerteza quanto ao futuro gerada por ela aumentou ainda mais a importância das ações da indústria para suprir as necessidades da sociedade, assim como para a retomada da economia. “A pandemia foi uma situação que ninguém esperava, não só no Paraná, mas no mundo todo. Nessa recuperação, a região dos Campos Gerais, como uma das mais industrializadas do Paraná, tem papel importante”, aponta ele.
O dirigente da instituição destaca que a vocação fabril dos municípios do entorno de Ponta Grossa por um lado fez com que o setor crescesse, mesmo em meio à crise mundial econômica gerada pela pandemia, mas também sofreu em outras áreas, que têm potencial para se recuperar e voltar ao ritmo visto anteriormente.
“Neste ano, mesmo com a crise, dois dos setores mais representativos da indústria da região, que são o de alimentos e o de celulose e papel, registram aumento em sua produção. Outros setores, como o de fabricação de produtos de madeira, enfrentam mais dificuldades, mas também tem condições de contribuir quando houver uma normalização dos mercados”, diz Pedro.