* Por Felipe Liedmann – dcmais
De modo geral, o brasileiro nunca se importou com a taxa de eficácia de vacinas e a origem de produção. Até que surgiu a pandemia do coronavírus e os números passaram a importar repentinamente. Com eles vieram as opiniões, especialmente nas redes sociais. A verdade é que o brasileiro é obrigado a se vacinar desde a década de 1970, quando surgiu o Programa Nacional de Imunizações.
As doses aplicadas em Ponta Grossa, por exemplo, são oriundas de pelo menos 12 institutos. Alguns deles ficam em países como Coréia do Sul e Índia, além da produção brasileira, contemplada com os trabalhos da Fundação Oswaldo Cruz e do Instituto Butantan.
Confira de onde vem a produção
- SERUM INSTITUTE OF INDIA (Índia)
- FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ (Brasil)
- INSTITUTO BUTANTAN (Brasil)
- GREEN CROSS (Coreia do Sul)
- SANOFI PASTEUR (França)
- SANOFI AVENTIS (França/Brasil)
- PFIZER (Estados Unidos)
- FUNDAÇÃO EZEQUIEL DIAS (Brasil)
- LG CHEMICAL (Coreia do Sul)
- FUNDAÇÃO ATAULPHO DE PAIVA (Brasil)
- NOVARTIS (Suíça/Estados Unidos)
- GSK (Reino Unido)
De acordo com o Ministério da Saúde, há 18 vacinas que são consideradas obrigatórias e estão inseridas no calendário de vacinação. Delas, 14 devem ser aplicadas na infância e adolescência.
Elas protegem o organismo de diferentes doenças. Inclusive uma mesma vacina pode combater mais de uma enfermidade: é o caso da pentavalente, que protege contra a meningite, o tétano acidental, a difteria, a coqueluche e a hepatite B.
É justamente a cobertura vacinal eficiente que erradicou doenças do Brasil e do mundo. A varíola é o primeiro exemplo. Outro caso é a poliomielite, que causa a paralisia infantil. Entre 1968 e 1989 o Brasil registrou 26 mil casos. Mas há 30 anos nenhum registro da doença viral existe no país. No mundo só dois países possuem casos atualmente.
Por outro lado, a diminuição da cobertura vacinal que vem desde 2011 trouxe recentemente um surto de sarampo – doença que pode ser evitada pelas vacinas tríplice viral e tetra viral.
O Paraná, por exemplo, permaneceu por um ano em surto entre agosto de 2019 e setembro de 2020. Foram necessários 90 dias sem registro de novos casos para encerrar a série seguida de contágios. Antes, o estado estava há 20 anos sem a doença.
“Eliminamos o sarampo por mais de duas décadas e por falta de imunização a doença infectou muitas pessoas. Embora estejamos encerrando o surto, é preciso ficar alerta porque o vírus está circulante em outros estados e a mobilidade é grande, as pessoas viajam e voltam para cá. Por isso a vacinação é tão necessária”, disse o secretário de Saúde, Beto Preto, na época.
O Informe Epidemiológico geral contabilizou 1.976 casos confirmados em 49 municípios paranaenses. As faixas etárias mais acometidas foram: 10 a 19 anos (23,1%), 20 a 29 anos (52,3%) e 30 a 39 anos (14,8%). O Paraná não registrou ocorrência de óbito em consequência do sarampo.
A tal eficácia
Nem todas as vacinas consideradas obrigatórias possuem a eficácia acima de 90%. Um exemplo é a do rotavírus, que pode causar graves diarreias em crianças menores de cinco anos. Especialistas indicam a eficácia dela chegando aos 50%.
Esta vacina é aplicada no Brasil desde 2006 e consegue eliminar os casos mais graves da doença. Não significa que o vírus causador deixa de existir, mas ele não afeta o corpo de forma grave, afastando o risco de morte.
A dose da vacina contra a gripe – aplicada anualmente e sem obrigatoriedade – tem eficácia estimada em 60%. Nem sempre ela evita o resfriado, mas impede que ele se manifeste com perigo à vida.
O mesmo caminho tende a valer para a CoronaVac, conforme aponta a pesquisadora visitante do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP, Natalia Pasternak.
“Podemos dizer, ok, uma vacina de 50% de eficácia não é tão boa quanto a de 95%, mas tem o potencial de prevenir doença grave e morte. Ou seja, mesmo que as pessoas fiquem doentes, a chance de desenvolver um quadro grave e morrer cai significativamente. Isso já é um sonho de consumo: transformar a covid-19, de fato, em uma gripezinha. Uma gripezinha é manejável. Além disso, mesmo uma vacina de 50% vai diminuir o número de suscetíveis, e fazer com que a transmissão na comunidade seja reduzida, que é o que estamos tentando fazer desde março com as medidas de quarentena, e até agora sem muito sucesso”, aponta.
Falta de vacinação gera restrições civis
O Programa Nacional de Imunizações do Brasil é considerado um dos maiores do mundo, mas entre 2018 e 2019 caiu de 77,1% para 71,5%. A obrigatoriedade existe e consta na legislação federal, mas não significa que alguém vai até a pessoa exigir com força policial para que haja a imunização.
Semelhante à questão do voto, a falta de vacina impõe restrições ao cidadão. No Paraná, por exemplo, quem quiser matricular filhos em colégios públicos precisa mostrar cadernetas de vacinação em dia.
Há também a questão do impedimento de viagens internacionais, da prestação de alguns concursos públicos, do alistamento militar e da adesão a programas sociais como o Bolsa Família.
Para crianças e adolescentes, o parágrafo 1º do artigo 14 do ECA determina que é “obrigatória a vacinação das crianças nos casos recomendados pelas autoridades sanitárias”. A pena pode incutir no pagamento de uma multa que varia de três a 20 salários mínimos por parte dos pais ou responsáveis.
Ponta Grossa não atinge metas da poliomielite e gripe
A Fundação Municipal de Saúde (FMS) encerrou em 30 de novembro do ano passado a campanha da poliomielite. O município conseguiu vacinar 14.571 crianças, o que representa 75% do público alvo. O número ficou aquém da meta: 19.313.
A campanha de vacina contra a Influenza teve problema semelhante. Ela até atingiu as metas referente a idosos e trabalhadores da saúde, porém não chegou ao objetivo nos grupos de crianças e gestantes. A campanha terminou e não há doses remanescentes.
“Apesar de não batermos a meta estipulada em alguns grupos populacionais, não ficamos abaixo da média do país, e estamos sempre em constante discussão para melhorarmos essa cobertura por entendermos a importância de combatermos as doenças imunopreveníveis”, expõe a FMS por nota.
Em relação à poliomielite, desde 1° de dezembro a ‘VOP’ continua administrada como rotina em Ponta Grossa: reforço aos 15 meses e 4 anos de idade.
Já a dose zero da vacina tríplice viral, especialmente enquanto campanha contra o sarampo, encerrou em 26 de novembro, pois o Paraná está sem circulação do vírus desde setembro.
“Mantemos o incentivo da vacinação contra a febre amarela conforme o calendário de rotina”, informa a FMS. As 19 salas de vacina de Ponta Grossa continuam abertas das 9h às 11h30, com intervalo para almoço das 12h às 13h, encerrando expediente às 16h30.
Registros de doenças em Ponta Grossa
- Coqueluche: implantação da vacina dTpa para gestantes em 2014, a partir da qual houve redução do número de casos;
- Febre amarela: nenhum caso confirmado;
- Sarampo: 1 caso confirmado importado em 2019, porém a pessoa não tinha histórico de vacina;
- Hepatite B aguda: ocorrem casos todos os anos, com redução de casos a partir de 2013;
- Meningite por meningococo: implantação da vacina meningocócica C conjugada em 2010, a partir do qual houve redução de casos;
- Meningite por hemófilos: ocorreram 3 casos, sendo o último em 2018, porém 2 deles ocorreram em faixas etárias que não estão preconizadas para vacinação;
- Tétano: ocorrência anual de casos, sendo que a maioria não tem esquema vacinal ou este estava incompleto;
- Varicela: implantação da vacina em 2013, com redução de surtos;
- Hepatite A: implantação da vacina em 2014, porém os últimos casos confirmados ocorreram em 2008.
*** A Fundação Municipal de Saúde informa que é esperada doenças de imunopreveníveis tendo em vista casos em que o esquema de vacina não está completo, está atrasado ou nunca foi iniciado. E ainda existem os casos que não soroconvertem (não apresentam resposta imunológica pela vacina).