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Pesquisa indica que Ponta Grossa deverá ter 4 mil casos e de 40 a 80 óbitos

Um estudo que começou a ser desenvolvido quando a pandemia chegou ao Brasil por pesquisadores de epidemiologia dos departamentos de Enfermagem e Medicina da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) acompanhou a evolução do novo coronavírus na cidade e, com base em cálculos matemáticos, previu que o pico da doença aconteceria em meados de julho.

O estudo também fez uma projeção de que 4 mil pessoas poderão ser infectadas no município e, por consequência, cerca de 40 a 80 óbitos poderão ocorrer. De acordo com um dos integrantes da pesquisa, o cirurgião vascular e coordenador do curso de Medicina da UEPG, Ricardo Zanetti Gomes, Ponta Grossa chegou ao pico da doença e a curva que representa o número de casos tende a apresentar redução.

No entanto, algum tempo depois a curva deverá aumentar novamente e, por isso, a importância de manter os cuidados que já vêm sendo adotados. Confira como foi o estudo dos pesquisadores na entrevista do especialista Ricardo Zanetti durante participação na live do DC na manhã de sexta-feira (17).

 

 

ENTREVISA

– O senhor faz parte da pesquisa de um grupo de profissionais da UEPG que se interessou pelo tema e passou a desenvolver estudos de como seria a pandemia em Ponta Grossa. Esse estudo foi apresentado à prefeitura em maio deste ano e, naquela época, já previa que o pico seria em meados de julho. Chegamos a este pico?

É importante contextualizar que quando fazemos um estudo epidemiológico tentamos fazer previsão baseados em modelos matemáticos. E cada modelo tem a sua probabilidade de acertos e erros. Esse estudo trabalha com uma probabilidade de erros em torno de 5% e de 95% de que ele pode estar correto.

Entendemos que as verdades têm tempo para se consolidar. E o grande objetivo desse estudo era nortear as populações semelhantes de Ponta Grossa e de municípios com o mesmo tamanho, que tenham em torno de 200 mil a 400 mil habitantes e como eles deveriam se preparar para quando o pico chegasse.

Esse estudo previu que o pico para cidades como a nossa estaria previsto para acontecer em torno de 120 dias a partir do primeiro caso. E no dia 15 de julho atingimos efetivamente este pico.

Observamos agora essa curva exponencial de crescimento de casos que aconteceria rapidamente e estamos subindo, no entanto, a nossa previsão é que tenhamos atingido o pico da doença e não o final dela. A partir de agora, vamos entrar no que chamamos de platô, ou seja, um processo de estabilização.

Se usarmos os dados que nós tínhamos, este máximo de casos irá perdurar por um tempo, o que quer dizer que esse número vai se manter por um período e nós temos que estar preparados para isso.

Felizmente Ponta Grossa e o Paraná vêm se preparando para esse fato e nós chegamos ao pico tendo conseguido atender toda a população dentro da necessidade de internação e disponibilização de leitos de UTI, estando agora em um processo de expansão dos leitos.

 

 

 

– Quais são os elementos utilizados nessa pesquisa para se chegar a esta conclusão?

Foram utilizados cálculos matemáticos a partir do entendimento do que aconteceu em outras cidades e quais as medidas que foram tomadas pelas mesmas. Observamos o que houve na China, em São Paulo, no Rio de Janeiro, entre outras, e extrapolamos através de cálculos com características das regiões, número de pessoas e faixas etárias.

Em cima disso consideramos características locais, por exemplo, em São Paulo, foram 70 dias entre o primeiro caso registrado e o pico. O Paraná vem um pouco mais tarde, ou seja, entre o primeiro caso e o pico foram 120 dias. Foi nesse cálculo que chegamos e que bate exatamente com o que estamos presenciando agora.

 

– O senhor comentou que foram utilizados grupos de pessoas neste estudo. Como aconteceu?

Essa parte da pesquisa considera várias situações no intuito de alertar. Se nós fizermos o isolamento, ou não, o que irá acontecer? Esses cenários é que foram estudados e a perspectiva de cada um deles.

Por faixa etária percebemos então qual grupo estaria mais propenso ao processo de infecção, que seriam aquelas pessoas em torno de 20 anos a 30 anos de idade. Mas casos graves sabemos que a população de maior faixa etária são os pacientes que estiverem com 60 anos ou mais. Além disso, a taxa de mortalidade para pacientes com mais de 80 anos também será maior.

Temos quantitativos de pacientes infectados, de pacientes que vão desenvolver sintomas mais graves e estimativas de óbitos variadas por cenário. Sempre lembrando que trabalhamos com variabilidades dentro dessa lógica.

 

– A equipe deste estudo era composta por quais profissionais?

Devemos enaltecer muito a UEPG e o governo do Estado que custeia as pesquisas realizadas.Esse nosso estudo foi realizado por um grupo de pesquisadores da universidade que compõe professores do Departamento de Saúde Pública e professores de Medicina que trabalharam dentro do processo.

São médicos, médicos veterinários que nos ajudaram nos cálculos, farmacêuticos e equipes de enfermagem. Foi um grupo multiprofissional que trabalha dentro do setor de Ciências Biológicas e da Saúde.

 

– Qual a tendência de casos que o sr percebe que pode vir a acontecer após esta conclusão?

Torcemos para que o estudo esteja certo e vai mostrar que chegamos ao pico da curva. A somatória de casos vai subir, mas a frequência é que vai se manter. O nosso entendimento de casos que estavam aparecendo agora se estabiliza. Temos que entender que agora a velocidade com que novos casos vão aparecendo vai se equiparar com os casos que estão se curando. Isso deverá acontecer entre os meses de outubro e novembro.

 

 

 

– Percebemos que em muitas regiões do Brasil houve um pico da doença, uma redução e logo em seguida um efeito rebote. Isso poderia vir a acontecer aqui também?

Isso é clássico em todas as pandemias, todas as infecções por vírus pandêmicas acontecem em curvas. Sempre a primeira curva é a pior, a segunda curva é um pouco menor e a terceira é ainda menor que a segunda. Isso não será uma novidade nesta pandemia. Teremos a primeira curva que será o pior momento e então um intervalo de tempo entre 6 meses e 12 meses.

 

– Podemos dizer então que teremos uma curva bem preocupante, mas a próxima será amena?

Sim, a segunda curva será menor. Por extrapolação eu digo que será menor que a primeira e a terceira será menor que a segunda.

 

– E a primeira curva é essa que estamos vivendo?

Exatamente. Atingimos o pico. Agora é importante entender que temos que trazer para nossa realidade e transformar isso através de dados estatísticos para que a nossa chance de erro seja pequena e para que possamos trazer esse dado e resolvermos a nossa situação usando o conhecimento que os países nos dão.

 

– E quais ações para que esta redução continue acontecendo?

Não existe um milagre, a única coisa que controla a curva é o isolamento social. Levando em consideração o melhor cenário, com isolamento social, nós teremos uma taxa de mortalidade de 40 mortes aproximadamente. No pior cenário, serão 80 óbitos. Portanto, a taxa de letalidade para Ponta Grossa, segundo o nosso cálculo, vai ficar em torno de 1% a 1,5%.

 

 

 

– Comparado com outras cidades, inclusive do Paraná, Ponta Grossa tem uma situação diferenciada com relação ao número de casos e mortes. As ações que foram adotadas lá no início da pandemia ajudaram a retardar os casos para depois aumentar ou isso ajudou a conter os casos?

É uma resposta difícil de se ter, pois quando falamos do isolamento social mão significa que vamos reduzir o número de infectados. O grande objetivo é dar tempo para o Sistema Único de Saúde se preparar.

No início, não tínhamos leitos de UTI voltados à covid-19 e adoção de algumas medidas deu tempo para que o governo pudesse se planejar ao mesmo tempo que reduzia a velocidade de propagação da doença. Quando a curva começou a crescer os leitos foram aumentando.

Estamos em um estado onde a saúde pública vinha com uma quantidade razoável. Mas vimos o caos em Manaus que já enfrentava dificuldades na saúde pública. E essa organização estrutural no estado do Paraná nos deu muito suporte.

 

 

 

– Quais são as outras ações necessárias para manter Ponta Grossa em um estado controlado?

É muito importante lembrar que o isolamento social é a estratégia principal pois se relaxarmos isso acaba fazendo com que a curva achatada tenha um novo pico. Isso depende muito do comportamento das pessoas. Não é momento de relaxar agora, se a velocidade de transmissão começar a aumentar vai mudar o comportamento do vírus.

 

– Mesmo assim, é importante que as pessoas continuem se cuidando, não é mesmo?

Sempre. Se relaxarmos, 15 dias depois vamos pagar o preço. Não devemos baixar a guarda, a redução do contato entre as pessoas ajuda, pois não sabemos ainda a melhor forma de reagirmos a esse vírus.

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